Respotagem #1

Tudo que eu já escrevi está gravado, que seja nos cadernos de primário, nas caixas de entrada dos milhares de e-mail por aí. Nos meus blogs todos que já tive, nos rascunhos de fundo de gaveta, na minha cabeça. Não interessa, tá escrito, tá lá.
Eu leio sempre que quero, mas tenho a necessidade de re
escrever o que acho bom, ou viável. Não bastar ter um papel rascunhado, preciso de dois. Dobra o valor.
Por este motivo complexo é que começo a repostar textos do meu antigo blog pessoal aqui. Não interessa se são bons, interessa a minha vontade.
Meu egoísmo volta à tona.

Velhos e Crianças: Tristeza Sem Fim

A criança é o inverso de um velho, e ao mesmo tempo, perfeitamente congruente à este.


Percebi ao longo dos tempos que a mesma representação de limite de uma janela para uma aquela velhinha era a da grade do berço pra'quele bebê. A diferença, no entanto, era clara. A moça de cabelos brancos, parada na janela não podia passar dali porque, já, estava frágil demais pra ficar andando por aí. E o bebê ainda sem cabelos não podia passar da grade e sair engatinhando pela casa, porque, ainda, era pequeno demais e um tanto quanto frágil para arrastar suas perninhas pelo chão.
A velhice deve ser desconfortável, aquela senhora da janela não tinha esperanças de rejuvelhecer e poder voltar a ultrapassar suas barreiras. Deve ser desconfortável, uma solidão sem esperanças de passar, uma fase que só se sai dela morrendo. Agonizante.

(Num século em que livro de auto-ajuda são devorados ansiosamente por todas as classes sociais, etárias e sexuais. Um século em que tiros contra o próprio atirador são disparados à todo instante. Numa era em que a "tribo" mais popular, é identificada por cortar os pulsos e chorar compulsivamente...)

A velhice por si só já é uma tremenda depressão, não há esperanças de exilar o que os velhos sentem. Todas essas pessoas, que por característica dos primeiros anos deste milênio, são abatidas ao extremo... como estas vão encarar a idade mais mortal de todas? As décadas que tudo parece estar prestes a ficar preto e branco, que todo segundo é segundo antes de morrer.
Penso também na criança do berço, crescendo neste mundo triste; de previsões do próprio fim à todo instante; em meio a uma humanidade que depende de inúmeros remédios de tarja preta, simplesmente para dormirem ao som da respiração alta do vizinho de quarto, ou sem chorar por desamores.
Crianças que não vão ralar seus joelhos, porque seus pais nunca as levarão ao parque, nunca vão correr para cair. E "pique" vai virando mais uma palavra inutilizada no meio do Aurélio, e os piques vão sendo trocados por american way of life, controles, mouses, players e manetes tranformam o joelho ralado.
Uma sociedade cada vez mais imediatista. Se drogar é se conter. Passar fome é emagrecer (da África deveriam sair a maioria das manequins). Pedem à Deus que ele prove que existe tirando-os daqui. Agora até o macarrão já tem que ser instantâneo. Querem acessar tudo de uma vez, até dar pane no circuito.
E os velhos continuam na janela, admirando este movimento triste e corriqueiro, assistem tudo em preto e branco. Enquanto a maior conquista de sua geração foi colorir a TV e o mundo. A turma dos caras-pintadas têm filhos que só se pintam de quando choram e borram o lápis preto.
E as crianças da beira do berço admiram o mundo em que vão crescer. Já têm por instinto chorar para pedir, aprendem também chorar para agradecer.


Um velho deitado no berço, e uma criança debruçada na janela. É assim que termina essa história.

Pesquisa

04/08/2009

No final de 2007 eu perdia o sono semanalmente pensando em algum texto. O cansaço físico me impedia levantar da cama para anotar os poemas, textos e frases que vinham à cabeça. Criei então o Segundo Lílian, em Junho de 2008. Postando anotações feitas na madrugada, sonhos rememorados na manhã seguinte, inspirações do meio do sono vespertino. Sem habilidade de escrita tive um blog trágico, perdi meus leitores e a vontade de escrever.
No final daquele ano resolvi criar o Insônia Registrada. Já que todos meus textos eram decididos durante a insônia, ou me tiravam o sono. Era um novo blog, pensado diferente, com novo tema, nova forma de escrita, novo visual - que já foi modificado uma dezena de vezes - além de agora um período de vida bem mais traduzível em letras.
Hoje, o blog já virou um vício. Textos, links, vídeos, descobertas, lembranças... tudo vem pra cá. Tirando o sono de quem lê também. Tamanho vício me levou a criar um blog de esportes, um de filme, participar brevemente de um blog de humor e me fez até perder a vergonha do Segundo Lílian.
Porque segundo Lílian, a insônia será registrada.