Dentro da minha cabeça, fora da realidade


É estranho pensar que neste momento longe do meu quarto, tudo que é meu vive uma realidade. Enquanto eu deito sobre a cama e penso sobre os mais variados assuntos, estes assuntos estão pensando em outros.
Enquanto penso no próximo jogo do meu time, os jogadores treinam. O mais complicado é pensar que eles treinam de verdade, eu consigo imaginar a cena deles treinando tranqüilamente, bola à gol, bola pro alto, correr em volta da quadra. O difícil é sentir. Da mesma forma que sinto o travesseiro afundado pela minha cabeça, ou o cobertor que me cobre. Não consigo sentir a bola sobre meu pé, não consigo apalpar os cones que tais jogadores correm em volta.
É estranho a mente humana, um verdadeiro cinema. Enquanto penso na prova de segunda-feira, imagino possíveis questões, meu aflito, a conversa na sala... crio uma imagem, vejo o rosto de cada um de meus colegas, ouço a voz da professora ecoando pela sala.
Saio totalmente da realidade, despercebo a voz da vizinha que entra pela janela, ou o ruído do computador ligado ao pé da cama.
Como posso imaginar alguém? Todas as pessoas que imagino têm suas imagens guardadas dentro da minha cabeça? E as pessoas que crio? Que imagino quando alguém tenta me descrever?
Essas imagens não-apalpáveis dentro da minha cabeça são estranhas, elas se tranformam em filmes, fotografias, quadros, idéias... outras vezes até em textos.
Imaginar para mim, é quase chegar ao nivarna, eu realmente vivo o momento que imagino, vivo a estrada que caminho no meu pensamento, vivo a aula que assisto deitada sobre a cama. Só não apalpo, não sinto o lápis escorregar em minha mão, não sinto mais nem o travesseiro afundado pela minha cabeça.
O pensamento me eleva. Saio da realidade, mas também não chego integralmente em outro mundo, deixo para trás o tato, sempre esqueço de levá-lo na bagagem. Ah idéias, que mal elas fazem. À que nirvana elas levam.

Todo fim

E todos os dias felizes
Depois de muitos anos
Serão só mais uma fotografia
Naquele velho álbum de retratos

Todo homem no fim,
Será só uma recordação na parede do quarto
Um sepulcro a mais no cemitério

Toda voz que ecoa pelas paredes
Um dia seca, e só permanece gravada no teu vinil




Poema de Bolso

A cara pintada no espelho
Um cigarro no canto da boca
Se o teu corpo é quente
E a minha mente é fria
Outra hora a gente põe isso no morno
Mordomia
Pra tudo que eu faço
Tem sempre um palhaço
Pra perguntar o porquê
Não faça dos miolos a tripa
Que o coração dissipa
Larga a bobeira de ser mão
Porque a mão que é bobeira perde a estribeira

Desespero

Tomando um vinho
Sentado no chão
Procurando no vazio
Alguma razão.
Porque a vida é tragédia
Tem dias que parece até comédia

A gente dorme no escuro.
No meio da escuridão,
A noite pra mim é pura ilusão

E o mundo ilumina
As idéias mais loucas
E se faz de palco o hospício
Pra quem tenta iludir a vida
E interpretá-la mais feliz

Sentado na mesa de um bar
Procurando na bebida
A felicidade e o luar
Um lugar!
Mas tem medo de ir lá fora
Pra ver a lua mais de perto
O sereno nos deixa meio incerto
Um deserto!

Dias depois, você pode voltar
No mesmo lugar
O sangue ainda vai estar lá
Demora anos pra sumir
Aquele que sempre esteve ali

[E é só mais uma noite de pura ilusão
Amanhã você acende a luz e tudo não passou de um pesadelo
Mas se você se levantar e seguir até a sala de jantar
Depois não pronuncie o que lá encontrar]

Carta Inflamável

Escrevera sua carta de suicídio
Carta Inflamável
E o circo pegou fogo
O palhaço parecia a mula-sem-cabeça
Por cima do paletó saia fogo
Fumaça!
Tem horas que a vida embaça.
Mas quem é que contraria
O poeta já dizia
Todo mundo morre
E sempre é cedo o dia

Carta Inflamável
De um poeta num trem sem vagão
A vida vem e vai sem razão
Se todo homem sentisse
O dia que fosse morrer
Deixaríamos cartas-louco-suicídas
Despedindo de cada despedida

Carta Inflamavél
E cada homem sábio
Morre louco enquanto descobre o que é a vida
Carta Infamavél
Um dia você recebe a sua
Pelo correio ou numa mesa de baralho

Pesquisa

04/08/2009

No final de 2007 eu perdia o sono semanalmente pensando em algum texto. O cansaço físico me impedia levantar da cama para anotar os poemas, textos e frases que vinham à cabeça. Criei então o Segundo Lílian, em Junho de 2008. Postando anotações feitas na madrugada, sonhos rememorados na manhã seguinte, inspirações do meio do sono vespertino. Sem habilidade de escrita tive um blog trágico, perdi meus leitores e a vontade de escrever.
No final daquele ano resolvi criar o Insônia Registrada. Já que todos meus textos eram decididos durante a insônia, ou me tiravam o sono. Era um novo blog, pensado diferente, com novo tema, nova forma de escrita, novo visual - que já foi modificado uma dezena de vezes - além de agora um período de vida bem mais traduzível em letras.
Hoje, o blog já virou um vício. Textos, links, vídeos, descobertas, lembranças... tudo vem pra cá. Tirando o sono de quem lê também. Tamanho vício me levou a criar um blog de esportes, um de filme, participar brevemente de um blog de humor e me fez até perder a vergonha do Segundo Lílian.
Porque segundo Lílian, a insônia será registrada.