Não há de ser nada

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A vontade era de ler, o sono era maior. Não conseguia dormir, pensando no que tinha pra ler, não conseguia ler de tanto sono. A música lenta e a luz baixa concluíam o ambiente, os ombros necessitavam de massagem e a cabeça de descanço. Retorceu os pensamentos, fingiu não estar e abriu o álbum de fotos. Fotos antigas e as lembranças, as lembranças pareciam tão recentes.
Fotos, era disso que ela precisava - abaixou ainda mais o som - só então percebeu que não tinha uma foto padrão, comum... uma que mostrasse o rosto, que pudesse servir de perfil, ou para identificá-la em um comentário em uma revista. Assim como a Asa Branca sai do sertão na época de seca, ela saia de si mesmo, no outono, e era lua nova. 
A previsão era do pôr-do-sol às 17h e 28min, como queria subir a montanha e assistir o poente lá de cima. Desceria só no outro dia, depois da lua se pôr, depois do sol nascer. E a música gritava mais forte: "não há de ser nada porque sei que a madrugada acaba quando a lua se põe...".
Se tivesse que criar uma teoria, era de que o cérebro roda dentro da cabeça como a Terra em torno de si mesma: movimento de rotação, sem translação. Se bem... que o seus pensamentos pareciam translatar - e esta palavra existe? - entre líquidos e venonosos pensamentos.
O tempo passa e a irresponsabilidade permanece intocada, nem textos lidos, nem sono dormido, nem fotos visualizadas, também não tinha feito suas obrigações vespertinas. Ou enviado um e-mail a um velho amigo...

Desconfundir

tem coisa que só faz sentido depois que passa

tem gente que só aprende depois que pasta
e quando meu lado pequeeno crescer
vou juntar gente e coisa
pra depois entender
o fim


Aniversário


Aniversários. São tão tolos... o aniversariante quase nunca percebe como é tola sua expectativa, a cada toque do telefone, a cada plin-dom da campainha tudo parece rodar, o coração bate forte e o coitado do aniversariante na expectativa que tenham lembrado dele. Até que o cobrador do gás lembra de vir cobrar, o banco lembra de mandar uma cartinha de parabéns com uma promoção "especial pra você" e a única vez que o telefone toca e é pra você... quem será, quem será? Sua mãe.
Ás vezes tem aquele amigo que lembra, os amigos que lembram fazem papel de idiota. Dão um abraço, um presente, desejam tudo de bom. E ninguém sabe porque. Ninguém deseja tudo de bom quando você acorda pra procurar emprego, quando levanta da cama quente e vai tomar uma ducha fria antes de ir pra aula. Não, só comemoram o dia do seu aniversário. Porque? Só aquele dia você merece atenção? Parece até um ato de caridade. "Ah é aniversário dela, vamos lá dar um abraço pra ela não se sentir sem amigos".
Existem ainda as famosas festinhas surpresa, os amigos se empolgam elaborando, o aniversariante quando não saca a coisa faz papel de otário, toma um susto com aquela gente toda cantando parábens, ou tem uma crise de riso ao ver todo mundo de chapeuzinho.
Eu nunca entendi porque cantar o parábens, porque é uma vitória tão grande a pessoa comemorar mais um ano de vida. Porque a gente come BOLO no aniversário? Devia ser o alimento predileto da pessoa, e olhe lá. Talvez seja o capitalismo, mais uma vez o culpo por isso, tá vou rebolar pra jogar a culpa em outra coisa... hm...
Sempre fui contra presente no dia do aniversário, você ganha 15 presentes num dia só e depois passa mais um ano usando meias furadas quase implorando pra que alguém te dê uma meia nova, antes que você passe vexame de ter que tirar o tênis na frente de todo mundo. Se quer mostrar uma pessoa que você lembra dela, dá presente na data inesperada, aaaaii siim você vai tá simbolizando alguma coisa.
Aniversário é babaquisse. O resto a gente esquece.

Claro, nem por isso eu não fico esperando a cada telefonema que meus amigos digam. BOM DIA ANIVERSARIANTE. É, mas não vou reescrever o primeiro parágrafo.


Insonia Diurna

Pior que a insônia nortuna quela que você vai para a cama e não consegue dormir é a diurna. Você acorda bem mais cedo que seu normal, com sono e não consegue voltar a dormir. Nessas horas não bate tanta inspiração quanto na outra, nem sei se vale a pena registrar. Fui baixar umas fontes e acabei tendo idéias pro tal blog de livros, só não pretendo colocá-las em prática tão cedo.
Já sei, vou pegar algum manuscrito e digitá-lo aqui. Tenho mantigo um mini-caderninho, com minhas mini-anotações (em mini-letra). É algo não literário, não comercial, coisas que nem meus amigos querem ler. Mas eu quero escrever, então engulam mais essas anotações feitas no meu caderninho que por enquanto não tem um nome, mas pensei em Fidel, brinks.

24/03/2009

• Eu sou egocêntrica demais para amar alguém.
• Não me sinto mais adulta que uma criança.

31/08/2009

Quantos passos incertos me farão tropeçar, de onde estou até onde preciso chegar? Quantas desilusões me clarearão com seus flashes cegantes daqui até a liberdade?

01/04/2009

Dias pares
Com seus ares
Tão pesados
E a cabeça
Tão leve
Mal consegue
Acompanhar

E os ímpares
Tão iguais
São normais
Na anormalidade
E toda cidade
Na felicidade
De anteceder
O amanhã

obs (anotação no verso da folha): (...) e os ímpares são bem melhores.

O resto é menos divulgável que isto, então eles vão continuar guardados comigo.
Desculpa, vou voltar a escrever de verdade... eu to me aquecendo e tentando... eu tô tentando.

Relançamento ?

O novo layout tirou do blog todo o ar Lílian da coisa, tem muita coisa que ainda quero mudar depois, umas mexidinhas aqui e outras ali. Hoje afim de escrever algo bem "diário de bordo", mas não tenho uma vida legal pra escrever. Tenho analisado a proposta da minha irmã de criar um blog pra comentar livros, indicá-los e mais outras parafernálias no mesmo assunto. Tem até um link no e-mail dela que esqueci de abrir, mas como o nome que vem antes do link não é convencional o e-mail vai mofar mais um tempo na caixa de entrada do meu e-mail.
Minha felicidade de hoje, e meu humor estranhamente diferente do dos outros dias, não tem motivo algum. Ninguém explica porque estou ouvindo Cachorro Grande, lendo Carpinejar e pensando em macarrão na chapa. Aliás, por falar nisso, nunca vi um grilo comer. Tenho inveja destes seres, eles são verdes, não fazem fotossíntese, nunca os vi alimentar, nunca vi dois grilos juntos (nem mesmo procriando), e eles são tão discretos para viver que a gente nunca os vê fazendo nada, só parados.
Tenho inveja de pessoas cults, essas pessoas que sabem todos os filmes que eu já vi e os que não vi. Quando falo de Almodôvar e Woody Allen as pessoas se empolgam e começam a falar de Tarantino e uns outros, eu acabo as decepcionando. Me vêem com um livro e já perguntam "já leu O Mundo de Sofia? A coleção completa do Machado de Assis?" e outras coisas mais, e eu não li nem metade do que era pra ter lido aos 17 anos, porque dedico minha vida a ler 2 vezes seguidas por ano (no mínimo) a biografia do Cazuza.
Acho que finalmente comecei a entender Física, já estou fazendo piadinhas com a matéria. Hoje em vez de falar que uma pessoa sempre tá na contra-mão do assunto falei que o vetor dela é espelhado, ainda fiz piadinha com fio-terra (não falando de gayzisse só de física, por enquanto). 
E mais a camisa da minha sala parece que ficou pronta, se não ficou também não tem problema. Eu sei que esta semana fica.Sei também que minha febre ainda não passou, mas que meu fígado já ta atacado por causa dos remédios então parei de tomar remédio, febre é bem melhor que fígado atacado.
Aliás, quem foi que acendeu as luzes?

Calma gente, não entre em desespero. Dia desses volto a escrever de verdade. Hoje foi só um monólogo pra quem queria saber como eu realmente penso. É assim.

Pra não parar de postar

Um par de All Star vermelhos caminha sobre a rua, sob a chuva. Ao pé do ouvido a Janis grita pra que ela chore, "cry baby, cry". O moletom azul parece ter sido esquecido em casa, os pêlos dos braços mantêm-se arrepiados, e um tremor: frio. Janis é trocada por Alberto Rodrigues que sabe bem melhor como afligir alguém relembrando que o jogo continua de 1 x 1 aos 40 minutos do segundo tempo.
De repente é gol! Os braços se erguem, o estádio lotado quase se concretiza dois passos à sua frente. Joelhos doem mais no frio, se é que alguém aqui tem condromalácia. Os passos ficam mais calmos, e a cabeça mais gritante, e sem aviso prévio GOOOOOOOOL.
_ Três a um? - a essa altura do jogo? Do fôlego?
O frio não passa, a fome também não, adiante um carro à toda velocidade, uma poça e o resto já sabem. Molhada, com frio, com fome, a noite, e a voz de Janis ecoando ainda implora para que chore, não tem porque chorar, mas alguma coisa encomoda, algo implora para que chore e ela nem acredita nessas coisas. 
_ GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL! - 4 x 1 ? No final do segundo tempo? Essa virada toda? E porque a Janis quer que ela chore?
Alguma coisa parecida com fios de cabelo de milho atravessam seu caminho, estão jogados no chão, molhados pela chuva. Chamam a atenção por estarem dispostos de forma que parecem simbolos japoneses, chineses ou como preferir.
A voz de Alberto Rodrigues é trocada pelo desafinado china e "acendo um cigarro, o vício é tudo que você deixou pra mim", nunca foi tão real...  

Os Dois Lados Da Rua

Inquietas pernas debaixo da mesa do colégio, olhar parado, uma gota se sangue escorria do lábio até o queixo, por auto-violência: mordera a sí mesmo de tanta euforia. Tinha medo de olhar para os lados e encontrar quem ou o que estava procurando, medo de abrir a boca e só sair vogais desintonizadas. Um vento frio queimava o rosto de todos ao redor, mas ele estava imune com sua proteção invisível.
Sua camiseta branca com a sombra negra de um crânio passava despercebida sob o olhar distorcido do garoto, que mais parecia a personagem de um filme sem fim. Em passos reticentes levantou-se da janela, limpando o sangue com a mão, limpando a mão na camisa e tornando mais medonha sua imagem.
Apoiou-se no parapeito da janela, mirou o outro lado da rua: o banco. Odiava o capitalismo, odiava ter que estudar de frente para o maior banco do país. E de repente esqueceu o motivo pelo qual estava mordendo os próprios lábios, quando riu com o cinismo do que via. Um mendigo deitado na porta do banco, era o maior contraste capitalista. Se tivesse uma câmera, se fotografasse a cena...
Olhou para os lados, uma criança gorda e loira com cara de crianças americanas foi correndo em direção ao mendigo, um enorme hamburguer na mão, um chute no rosto do velho.
Em tantos anos, aprendera a ver mentigos como homens sujos de cabelos grisalhos. Se lhe perguntasse ele não sabia dizer a cor do olho de um, a cor da roupa (não era marrom? tinha a impressão que era sempre marrom). Pela primeira vez tiha se interessado por um mendigo.
_ É uma figura simbólica. Simbolisa o capitalismo como ele é, de fato.
A professora entrou na sala, o menino sentou-se na cadeira. HISTORIA, foi escrito em letras grafais no quadro-negro (que era verde). Dez minutos depois estava lá o garoto, apresentando um trabalho, tinha que defender o capitalismo numa espécie de júri mal montado pela professora:
_ O capitalismo? O que ele fez de errado? Olha aquele mendigo ali do outro lado da rua, levantem-se olhem na janela. Ele fez algo de errado, nós não. Pra ele passar fome alguém tem que ficar rico, e ter toda a fortuna que ele teria. Isso é justo, não? - e debochou-se.
Ao fim do bimestre, uma bela de uma nota capitalista.

Número 100

Minha postagem número 100 demorou muito tempo pra sair. E só saiu porque não quis adquirir a crise de bartebly (não estou certa do nome, depois confirmo e explico). É algo como achar inútil a própria escrita e abandoná-la. Enfim...
Resolvi postar um poema que gostaria de ser música, caso eu soubesse violão (ou qualquer instrumento). Talvez só uma pessoa o entenda como é para entendê-lo, não vou explicar o verdadeiro sentido. O mais próximo que alguém pode chegar, acho. Que é imaginando um fake, destes de orkut declamando/cantando pra quem o criou. Um amigo imaginário, que você não compartilha com ninguém, um dia sabe-se lá como... ele lhe escreve. Acho que seria mais ou menos assim:

Não sei porque
Insisto em acreditar
Nas novas mentiras
Que você pegou um dia emprestadas
E nunca mais quis devolver
Eu não sei porque
Você insiste em contar
As velhas histórias
Que você nunca irá viver
E eu... porque

Dentro da sua cabeça
Eu acabo por existir
E a falta que me faz
Ela só faz falta pra você

E os dias vão passando
Você não consegue me esquecer
Mas também
Ninguém irá lembrar
De alguém
Que só existiu pra você

Ah, eu te imagino
Me imaginando o tempo todo
E eu sei que não existo
Quando não pensa em mim
E eu sei que não sou o mesmo
Quando não estou aqui

Eu te traria mil flores
E de joelhos
Tentaria me desculpar
Por invadir seus pensamentos
E nunca mais...
Nunca
Sair de lá

Também acho que ficou um tanto primário, depois de explicado ficou pior ainda. Mas eu não quero parar de escrever por me achar medíocre (e eu continuo achando), quero escrever um livro primeiro. Amém.

Pesquisa

04/08/2009

No final de 2007 eu perdia o sono semanalmente pensando em algum texto. O cansaço físico me impedia levantar da cama para anotar os poemas, textos e frases que vinham à cabeça. Criei então o Segundo Lílian, em Junho de 2008. Postando anotações feitas na madrugada, sonhos rememorados na manhã seguinte, inspirações do meio do sono vespertino. Sem habilidade de escrita tive um blog trágico, perdi meus leitores e a vontade de escrever.
No final daquele ano resolvi criar o Insônia Registrada. Já que todos meus textos eram decididos durante a insônia, ou me tiravam o sono. Era um novo blog, pensado diferente, com novo tema, nova forma de escrita, novo visual - que já foi modificado uma dezena de vezes - além de agora um período de vida bem mais traduzível em letras.
Hoje, o blog já virou um vício. Textos, links, vídeos, descobertas, lembranças... tudo vem pra cá. Tirando o sono de quem lê também. Tamanho vício me levou a criar um blog de esportes, um de filme, participar brevemente de um blog de humor e me fez até perder a vergonha do Segundo Lílian.
Porque segundo Lílian, a insônia será registrada.