Trauma

Tudo começou assim:
Eu bati a cabeça cem vezes na parede até que sangrou, enquanto mais jorrava sangue mais eu me divertia batendo a cabeça na parede era meio masoquista, mas eu nem ligava. Fazendo ou não no outro dia eu certamente me arrependeria mesmo. Fui curtir o momento, quando tinha muito sangue, a cara já estava toda cortada e inchada comecei a escrever com o sangue no muro, primeiro por intuito escrevi meu nome bem grande ocupei o espaço quase todo: Lílian Moreira de Alcantara, assim sem acento no CAN de ALCANTARA porque é erro do cartório. Depois que fui pensar que devia fazer algo melhor, desenhei em tamanho médio um sol assim meio de lado, mas sol era feliz demais pra ser escrito com sangue, então desenhei debaixo uns escravos suando de trabalhar, nisso o sol passou a ser um obstáculo. Depois um pouco menor que este desenho fiz o segundo em baixo do "lian" que era uma faca com um corte e ela sangrava, bem minha cara né? Uma coisa irônica suficiente pra vir de mim.
Andei até o final do muro, o último espaço branco... fiquei ali pensando e pensando o que fazer, até que resolvi tirar a minha blusa ensanguentada e carimbei a parede com ela, ficou bom. Vesti a blusa e fiquei pensando como faria pra ir embora sem ser abordada na rua por algum idiota perguntando o que tinham feito comigo, entrei num matagal que tinha ali perto e de sorte vi um riachozinho passando, era pouca água, ralo demais, mesmo assim eu ajoelhei nas pedras do fundo e abaixei o rosto pra me molhar, não adiantou muito, nem correnteza tinha pra tirar o sangue seco. Então virei de costas e deitei no rio, senti a água desviando pra continuar a descer, fingi fazer um anjo na neve e uma pedra arranhou meu braço, vi o fiapinho de sangue dissolver na água até que uma voz me alertou:
_ Este rio tá todo sujo de sangue, alguém ta jogando carne velha lá em cima, vou lá ver.
Levantei correndo e sai pra perto do muro, virei a esquina a toda velocidade e comecei a correr pro lado que tinha menos pessoas, passei por uns assustados que ameaçavam a me parar pra perguntar o que era, eu corria tanto e tanto, sem ao mínimo saber pra onde estava indo, comecei a sentir cheiro de porco queimando (quando estão matando o porco) e parei. Coloquei as mãos no joelho encurvando um pouco, respirava forte, passei a mão na testa e vim rápido contar.

Segundos antes de morrer

Segundos antes de morrer. Você literalmente vai largar tudo que fez a vida inteira, é como se tudo tivesse valido a pena e ao mesmo tempo nada valeu a pena.
Segundos antes de morrer você percebe que não ter ganho uma boneca que fala não tirou sua infãncia. Ter ganho um jogo de tabuleiro também não te encheu, nem mudou sua vida. Cada pessoa que você conversou pode até ter te dado felicidade por uns segundos. É que segundos antes de morrer elas não são capazes de te curar, te sarar, de segurar e não deixar que você se vá.
Segundos antes de morrer (tô repetindo propositalmente) nada que você aprendeu pode mudar. Segundos depois vem a morte. Se de algumam forma você escapa delas seus segundos não foram "segundos antes de morrer", foram "antes de sobreviver".
E aí como é? Passa sua vida inteira em flash back, e depois você fecha os olhos e dorme para sempre. Toda sua vontade de viver faz com que acredite naquele último segundo numa vida pós morte, por que é ridículo demais largar tudo tão assim. E o médico da semana que vem?
Por que eu nem morri e sei tudo isto? E se é totalmente diferente? Alguém que estava morrendo já descreveu como é morrer?

Segundos antes de não morrer.

Dá-lhe poemas

Uns poeminhas que achei remoendo meus rascunhos. Vou postar só pra desacumular os papéis em cima da cama. Mas são chulos, não precisa ler.
Canção de Bolso

Carrego uma canção no bolso
Que pra Marte eu vou levar
Quem compôs foi a despedida
E em cada verso eu vou lembrar

Vindo em minha direção
Chorou ao dizer
Embora tinha que ir
Meus olhos, se encheram de pranto
Meu sorriso então se foi

E no sopro da sua voz
Se foi todo o meu rancor
Não havia dúvidas
Ali se fora mais um grande amor

Carrego uma canção no bolso
Que pra Marte eu vou levar
Quem compôs foi cada esquina
Que derrotou aquele lugar
Em cada dose de bebida
Se ia um pedaço do luar

Nem cachaça, nem vinho
Tirava de mim a dor do partir
Eu não sabia se você ia sentir
Tanta falta quanto eu
Eu nunca entendi
Parece que cada sorriso
Tem um moinho pronto pra destruir

E o sonho se acabou, você pra sempre se foi
E eu aqui fiquei
Você pra Marte e eu pra Jupter
Acabou como uma canção
_ Meu amor não vá embora
Só pensava nisso aquela hora.
E partiu meu coração

Carrego no bolso uma canção
Que pra Marte eu vou levar
Se é você que vai pra lá
Se é eu que vou ficar
Não tem a menor explicação

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Anjo Bulbônico

Ai aparece aquele anjo bulbônico
Que pra ajudar precisa atrapalhar
Joga tudo que é verdade na sua cara
E mostra o caminho que vai ter que percorrer
Mostra que pra ser feliz precisa abandonar você
E cada felicidade cheia de defeitos
Que eu até gosto mas só trás prejuízo

E é por esse meu orgulho que te ligo
E peço pra não tentar voltar
Quero seguir a minha vida
Botar cada coisa em seu lugar
Quero seguir a minha vida
Botar cada coisa em seu lugar

E ai a vida vira
A Terra gira
Semana que vem volta
Semana que vem vai
Eu sou seu anjo bulbônico
E te peço pra não tentar voltar
Não tentar voltar

Eu vou seguir a minha vida
Por as minhas coisas no lugar
Espero que você faça o mesmo
E de mim leve apenas o fugaz
Me desculpe mas eu quero ser feliz
E com você não dá
E sem você não dá
Desculpe meu anjo
Mas sou bulbônico e não vou voltar
Mas sou bulbônico e não vou voltar

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Crer

Crer. Crer em Deus
E em não sei o quê
Crer. Crer em mim
E em você
Crer. Eu já não creio.

Porque era só uma criança feliz
E você creia ou não
Ela morreu
Creia.
Ela morreu dentro de mim
e não consigo tirar seu corpo

Crer. Crer em Deus
E em não sei o quê
Crer. Crer em mim
E em você
Crer. Eu já não creio.

Porque era só mais um amor
E quer você creia
Quer não creia
Se acabou na crença
Porque era mais fácil crer que a gente era feliz
Mas de crença a igreja ta cheia
Cheia de aleijados esperando a cura

Crer. Crer em Deus
E em não sei o quê
Crer. Crer em mim
E em você
Crer. Eu já não creio.

Porque quer você creia ou não
Falam do criador
E eu já não creio mais
Porque quem cria dizem que é Ele
E se eu destruo
Sou o satanás

E vejo tanta gente morrer na fé
Quantas vezes vou ter que repetir
Que crer, já não creio mais.
Não creio que amanhã o sol vai nascer pra mim
Porque hoje eu posso morrer

Não creio que amanhã o sol vai nascer pra mim
E eu vou me esconder
Crer, já não creio mais
E não me chame de satanás

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Eu quero é gritar

Me arraste daqui
Já não quero, já não penso em ficar
Me leve daqui
Pr’uma esquina
Quero a mesa de um bar

Me arraste daqui
Não vou pra longe
Mas também não quero ficar perto
O mundo desabou
E a culpa é minha

Não prestei atenção
Na sinalização
E agora o mundo acabou
Quero beber em um bar
Quero esquecer e lembrar

Me arraste daqui
Já não quero, já não penso em ficar
Me leve daqui
Pr’uma esquina
Quero a mesa de um bar
Quero a bruma da noite

Eu quero beber
Eu quero entornar
Não basta essa brisa
Pra me molhar

Eu quero me perder
Vou me esquecer jogada um canto
Eu quero gritar
Eu quero gritar

Mas na parede em um retrato
A sua foto pede silêncio
Eu quero é gritar
Eu quero é gritar

Me arraste daqui
Já não quero, já não penso em ficar
Me leve daqui
Pr’uma esquina
Quero a mesa de um bar
Quero a bruma da noite

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O mundo se divide em quatro

O mundo se divide em quatro partes
Cachorro que não mama não faz arte
O abstrato em chamas
Quando o circo pega fogo
Cachorro que late é bandido
Bota fogo no pano, é palha
Palhaço, o meu coração ta num regaço

O mundo se divide em quatro
É parede, cama, teto e quarto

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Poema de bolso II

A cara pintada no espelho
Um cigarro no canto da boca
Se o teu corpo é quente
E a minha mente é fria
Outra hora a gente põe isso no morno
Mordomia
Pra tudo que eu faço
Tem sempre um palhaço
Pra perguntar o porquê
Não faça dos miolos a tripa
Que o coração dissipa
Larga a bobeira de ser mão
Porque a mão que é bobeira perde a estribeira

(acho que este já foi postado)

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Lorotas de um ser

Mundo pago
Mundo vago
E sem razão

Munto otário
Cabe dentro do armário
A minha solidão

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Fim!

Contra a Ló

Não quero mais fazer deste blog um diário indireto, por isto tenho diminuido meus textos, estou controlando parte da vontade de escrever, centrando minhas forças em uma narrativa extensa que costumo chamar de livro (como vocês podem perceber não me libertei do "jeito diário de escrever"). O nome deste livro veio num texto que eu estava rascunhando por aqui, Contra a Ló. Esta palavra "ló" andava me perseguindo, cheguei a usá-la várias vezes sem conhecer seu sentido, eu inventava os sentidos pra que ela se encaixasse no meu texto, e como magia tudo deu certo. Eu usava num sentido, figurado, correto. Depois que olhei no meu fiel dicionário online da priberam:

Ló : O lado do vento; parte em que se arrumam as velas de um navio.

Descobri que não precisaria de título melhor, e do título saiu o livro inteiro. Peço desculpa aos que andam reclamando da minha mudança de tom ao escrever, sei que estou viajando pouco, realista demais, e crítica. Pareço um jornal.

(talvez por isto à foto ao lado, troco minha cara por um jornal.)

E para os poucos curiosos sobre como anda meu livro vou colocar aqui alguns trechos:

Meu nome já nem sei, talvez me lembre ao decorrer deste livro. Escrevo desde muito pequeno, acho que comecei aos sete anos de idade. Sempre gostei de ler e de escrever, queria seguir carreira musical, não deu, não tenho talento algum. E num impulso, só pra não ficar parado comecei a escrever e me intitulei escritor, poeta, ou como queira chamar. O fato é que pra isto também não tenho dom, nem uma boa editora. Só tenho um sobrenome de peso. Alvarenga. Herdei da minha mãe, Vivian Alvarenga. Uma das maiores escritoras que passaram por aqui.

(Pausa para uma tragada no cigarro).

Não sei porque resolvi escrever este livro (...)
Inicio a partir de hoje esta história em terceira pessoa, de um ser que mora dentro de mim, não sei se é personagem ou um dos lados da minha personalidade. Traços auto-biográficos e ao mesmo tempo ilusões, reflexos da minha adolescência, passado.(...)
Mas, voltando ao livro. A história da minha personagem, começa num museu, onde acontece a primeira desgraça de sua vida. Levando em conta que esta personagem é parte de mim sabe-se também de seu terrível passado, com traumatizantes perdas e outras coisas citadas ao longo do livro.

(escorre a primeira lágrima)
(...)
Todos os flashes passavam na sua cabeça, era impossível acreditar que ele tinha morrido. Por um momento até em Deus ele acreditou, por que é incrível alguém morrer, nunca mais o encontraria nem por acaso, não adiantaria esperar suas ligações, e o pior talvez, é que quando terminasse de jogar a terra toda não teria quem o consolasse.
Pensou tanto que nem percebeu que já estava diante da cova, terminaram de jogar a terra, o padre falou algumas palavras que ele nem conseguiu ouvir. Não dava pra pensar em outra coisa, era fatal. Ele já acostumara com aquele filme, mas não aprendia nunca. Queria se matar.
Tava na hora de passar do querer, ele sempre quis tanta coisa e ficou se freando por isto e aquilo, já não tinha mais o que perder.
Chegou em casa aos prantos, foi direto pro seu quarto. Como se tivesse alguém em casa fechou a porta do quarto com chave, tirou um cigarro de maconha do bolso, acendeu e começou a apertar. Abriu a porta do guarda-roupas tirou lá do fundo uma pedra de crack, misturou com um pouco de álcool e cheirou, foi um baque só.
Quando acordou estava no hospital, não sabia como alguém tinha entrado em sua casa. Entendia perfeitamente o que tinha acontecido.

A história do livro é bem complexa, passa por problemas e mais problemas, é tudo muito confuso. Por enquanto vou postando trechos aqui, e se alguém quiser revisar pra mim e preferencialmente mandar pra uma editora bacana depois (haha), até o fim do livro.

Soneto

A retina dos meus olhos
Reflete esta rotina
Já estou cansada
De tanta internet

Agora minha vida é uma massa
De pizza toda aberta
E cada fatia um molho diferente
E cada dia um olho ardente

Um reflexo à mais
A minha retina
Nunca mais verá rotina

E este meu soneto
Dará sono
E não provocará sentimento de abandono


UI! POEMA RUIM É QUASE RELAXANTE, SÓ FALTA A PARTE QUE FAZ RELAXAR.

Sem título, pode ser?

Tem um impulso querendo me fazer escrever sobre meu contagiante dia. Mas eu vou tolerar meu egocentrismo e não vou falar de dia nenhum. No máximo de uma "música" que fiz hoje, como não tenho o que postar vou postar ela mesmo.
Primeiro vieram os acordes, por espontaneidade da Benelice, depois veio a letra por explosão e grande teimosia da minha parte. Uma série de palavras que a gente precisa dar um ritmo ainda, ou mudá-las (o mais provável).
Então, sem demagogas vou postar a nossa "música" até então sem título, ou chama Dois de mim?
O fato é que ninguém vai entender o lado certo da coisa. Ainda assim, vamos lá:

Num sopro de vento
Milhares de páginas
Pela janela da casa
Saem e entram em mim
Pela sombra da vidraça na sala
A luz do sol
Fim de tarde sem mim
...
Por que foi deste jeito
Não sendo perfeito
Escapou tão assim

Já não ponho lençol na cama
Não visto pijama
Não durmo sem mim

Na segunda pessoa
Aprendi a amar
E descobri que já não há você
Só dois de mim

Para mim
Meu fundo do poço
Meu menino moço
Meu tropeço em cena
Mais que um esquema
Sempre foi meu delito
Meu ato ilicíto
E agora meu fim.

Mais poemas meus, menos cultura pro mundo.


Velhos e crianças, tristeza sem fim

A criança é o inverso de um velho e ao mesmo tempo perfeitamente congruente.


Percebi ao longo dos tempos que a mesma representação de limite de uma janela para aquela velhinha era a da grade do berço pra'quele bebê. A diferença, no entanto, era clara. A moça de cabelos brancos parada na janela não podia passar dali por estar frágil demais pra ficar andando por aí. E a menininha ainda sem cabelos, debruçada no berço não saira engatinhando pela casa por que ainda é frágil demais para ficar arrastando as perninhas no chão.
A velhice deve ser desconfortável, é uma solidão sem esperanças de passar. Uma fase que só se saí dela morrendo, agonizante.

[Num século em que livros de auto-ajuda são devorados ansiosamente por todas as classes sociais, sexuais e etárias. E que tiros contra o próprio atirador são desparados à todo instante. Numa era em que a "tribo" mais recente é caracterizada por cortar os pulsos e chorar compulsivamente...]

A velhice por si só, já é uma depressão tremenda. Não há esperanças pra exilar o que os velhos sentem. Todas estas pessoas que são depressivas ao extremo, por característica dos primeiros anos deste milênio, como vão encarar a dura realidade de estar prestes a morrer? Prefiro nem me indagar muito.
Ao mesmo tempo penso na criança no berço, crescendo neste mundo já tão triste. De previsões para o fim deste à todo momento, uma humanidade que depende de inúmeros remédios de tarja preta, simplesmente para dormirem ao som da respiração alta do vizinho de quarto, ou sem chorar com as preocupações dos desamores que tiveram.
Crianças que não vão ralar seus joelhos, por que os pais não estão bem para levá-los para correr e cair. Meninos e meninas que não vão vivenciar o significado da palavra "pique", por que as correrias na rua foram trocadas por manetes e teclados.
Uma sociedade cada vez mais imediatista. Se drogar vira sinônimo de se conter. Passam fome para emagrecer. Pedem à Deus que ele prove que exista tirando-os daqui. Querem acessar tudo de uma só vez, até dar pane no circuito.
E os velhos continuam na janela, admirando este movimento triste e corriqueiro, vendo tudo em preto e branco, enquanto a maior conquista de sua época foi colorir a televisão e o mundo. A turma dos caras-pintadas têm filhos que só se pintam por culpa das lágrimas que borram o lápis preto.
E as crianças da beira do berço admiram o mundo em que vão crescer. Já têm por instinto chorar para pedir, aprendem a chorar também para agradecer.



Um velho deitado no berço, e uma criança debruçada na janela. É assim que termina esta história.

O poeta está morto

O poeta morreu
Mas ainda está vivo
Cheio de dedos
Suas digitais
Marcadas no teclado

Está vivo
Na estante
Sua coleção de nãos
Todas fotografadas
Em lágrimas agonizantes

O poeta não morreu
Se é poeta
São poemas
E eles estão todos aqui
Espalhados pelo chão
Mesmo que cobertos de sangue

Tudo aqui
Lápis apontados
O copo
Meio vazio
Meio derramado

O poeta não vai acordar
E nunca mais vai dormir
Não dorme
Não vive
Não morre

Se fez imortal
Com seus poemas
De reflexos mortais
E o brilho de sua espada
Vem das lágrimas
Assim como todo os poetas
De triste se fez extinto

Quem é que escreve
De louco
Sobre o poeta morto
E quase prevê
Sua morte súbita

Uma vida por quinze minutos de aula

Minha mãe nunca me buscava na escola, eu ia de Topic pra casa depois da aula, sentia inveja dos colegas que saiam cinco minutos mais cedo por que as mães foram buscar. Sempre que eu precisava sair mais cedo da escola, quase nunca, e minha mãe fosse me buscar ela me avisava. Meu sonho era um dia ela me surpreender.
Foi na quarta série, eu sentava no fundo da sala encostada na porta, minha mãe chegou por trás de mim, sem que eu percebesse, e sinalizou pra professora que precisaria me levar.
A única coisa que vi foi a Tia Rosário dando seu sorrisinho meigo como quem diz sim, e olhei pra trás com olhos cansados e desesperançosos. Vi que era minha mãe e uma alegria imensa surgiu, vi todos os meus sonhos se realizando. Pensei que ela tivesse escutado meus pensamentos e tivesse resolvido fazer uma surpresa.
Guardei os matériais com a maior rapidez que pude, e abracei-a ao sair da sala. Estranhei ela sair mais cedo do serviço, mas não lhe perguntei nada. Aliás nem me lembro de conversa alguma enquando descíamos as escadas e atravessavamos a quadra, quase no final da mesma quadra ela respirou fundo e falou com voz meio engasgada:
_ Eu não quis falar lá em cima não, mas o Luis Fernando (meu primo, que estava internado ferido gravemente de um acidente de carro) morreu.
Se quer saber, não me lembro deste Luis Fernando vivo, só ouvi dizer que já o vi quando muito criança, mas eu nunca daria falta se não fosse pela quantidade de assuntos que surgiu com o nome dele desde o dia do acidente. Mesmo assim fiquei muito chateada, não pelo meu primo, mas pelo fato da minha mãe me tirar da aula 15 minutos mais cedo por um motivo justo. Ela não tinha realizado meu sonho.
No dia seguinte quando cheguei a casa de meu tio Lalado (José Geraldo) eu quis ver o caixão, pra ver se o reconhecia. Minha mãe me disse pra não ir, que ele tava muito diferente e eu não reconheceria. Mesmo assim me misturei naquele bolo de pessoas, e parei de frente ao caixão, deparei com um rosto largo e cheio de marcas roxas, parecia ter apanhado muito antes de morrer, senti uma tristeza pela sua dor.
Antes que eu me desse conta que aquilo eram as marcas do acidente, minha mãe chegou perto de mim e pegou uma foto em cima do caixão e me mostrou:
_ Ele era este daqui olha.
Minha vida inteira passou por mim e senti um frio ao ver um primo tão magro e moreno por foto ser o mesmo inchado e roxo do caixão. Perdi o apetite, e vi ele como o Jesus da minha vida, em silêncio agradeci por ter morrido para realizar meu sonho de sair da escola mais cedo. Porém, acho que meu tio nunca vai me perdoar por ter lhe tirado um filho por assuntos tão banais. Confesso ter ficado com grande peso de culpa por sua morte, e nunca ter me perdoado.

Bipolaridade é pouco

Escrúpulas idéias que consomem meu ser. Um estranho ser que nunca conheci por inteiro, não sei quem sou. Mal mal sei do que gosto, mesmo assim tenho dúvidas. Um oco me confunde, e ninguém nunca entenderá, nunca.
Coisas que eu nunca quis, nunca parei pra pensar... me tomam por inteiro num segundo só, antes que dê tempo de piscar os olhos, para não ver, já me transporto pra porta do elevador e estou lá mudando minha vida totalmente.

Nascemos uma luz branca, refletindo todas as cores. Com o passar do tempo selecionamos as cores certas e montamos nossa reflexão. Uns viram uma cor só, outros viram duas. O fato é que mesmo sendo três ou quatro cores as pessoas se misturam e formam uma imagem só, uma pessoa, uma só cor. 
O preconceito é com aqueles que absorvem todas as cores e não refletem nenhuma, ou com aqueles que continuam refletindo todas pra sempre. As eternas luzes brancas quando vão de encontro à um prisma viram arco-íris. Algo mais lindo?



Num ócio sem fim sento pra escrever sobre uma infinitude de coisas que passam pela minha cabeça. Reflexos que não posso distiguir. Enquanto isto vão ecoando pelas paredes da casa a voz de dona Irene (a empregada) falando sozinha, ou melhor, com seu balde de água.

Passo horas a corroer minhas unhas tentando em vão vencer a angústia egocêntrica de falar apenas de mim mesma. Já não sei escrever em terceira pessoa, tudo parte de mim.

Você é o braço do meu abraço
E este espaço entre nossos braços

E só pioro, além de correr atrás de tudo, corro dentro de mim mesma procurando algo num vão qualquer.

trechos de rascunhos quase não postáveis

Pesquisa

04/08/2009

No final de 2007 eu perdia o sono semanalmente pensando em algum texto. O cansaço físico me impedia levantar da cama para anotar os poemas, textos e frases que vinham à cabeça. Criei então o Segundo Lílian, em Junho de 2008. Postando anotações feitas na madrugada, sonhos rememorados na manhã seguinte, inspirações do meio do sono vespertino. Sem habilidade de escrita tive um blog trágico, perdi meus leitores e a vontade de escrever.
No final daquele ano resolvi criar o Insônia Registrada. Já que todos meus textos eram decididos durante a insônia, ou me tiravam o sono. Era um novo blog, pensado diferente, com novo tema, nova forma de escrita, novo visual - que já foi modificado uma dezena de vezes - além de agora um período de vida bem mais traduzível em letras.
Hoje, o blog já virou um vício. Textos, links, vídeos, descobertas, lembranças... tudo vem pra cá. Tirando o sono de quem lê também. Tamanho vício me levou a criar um blog de esportes, um de filme, participar brevemente de um blog de humor e me fez até perder a vergonha do Segundo Lílian.
Porque segundo Lílian, a insônia será registrada.