Por Fora do Meu Eu Lírico

Enquanto eu procurava vida na vida, um porção de gente me mostrava uma saída. Eu nunca entendi saída pra onde, pra quê, de quem... Sei que diziam que a saída era estudar, a saída era acreditar, era Deus, era amigos, era minha família. Não sei qual parte da minha vida se passava tão presa longe de mim que eu precisava tanto de uma saída.
Sei que um dia resolvi sair, saí pra bem longe e de lá eu finalmente iria pra mais longe, e um dia estaria tão longe que não teria saída, seria livre. Não tem porta. Deu errado! Procuro de novo uma saída, saída de que? Todas as manhãs procuro sair de uma grade de palavras que fiz, uma teia sem fim cheia de ilusões escritas, transcritas. Coisas que é bem melhor se não verbalizar, mas fazer o que, eu verbalizo. De todos os seres que conheço, sou a mais imperfeita, costumo não errar inconscientemente, erro pra errar. Se dou um tiro na cabeça de alguém, sei que foi pra matar, ou compará-lo a um vegetal daqui dois dias numa nota curta de jornal.
Acho que nunca fui totalmente inconsciente de algum ato como sou da escrita. O tempo todo descubro coisas nas coisa que escrevo, quando leio algum texto antigo aprendo um pouco de mim, e vou me conhecendo como se eu fosse um objeto estranho. Escrever e ler pra mim é útil demais pra ser verdade, empilho os livros sob a estante e vou contando nos dedos as palavras novas que aprendo, depois não sei qual o efeito que tudo provoca.
Depois que passei a escrever em blogs descobri que sou capaz de controlar a mente de um monte de seres que já nascem adestrados, ou se Cazuza for mais direto "essas sementes mal plantadas, que já nascem com cara de abortadas / pras pessoas bem pequenas remoendo pequenos problemas querendo sempre aquilo que não têm". Voltando, descobri que podia escrever um texto triste e fazer todo mundo sentir que tem a vida perfeita e ter dó de mim, escrever uma falsa confissão e ouvir as pessoas dizendo que sentem orgulho de mim.
Fico feliz e excitada com a idéia de poder levar pessoas a cometerem quase um suicídio depois de um texto meu, e outras a visitarem um asilo pra ter certeza se querem envelhecer. Por outro lado, é triste ser tratada como a personagem dos meus textos. É como se eu fizesse a antagonista da novela e todo mundo tomasse raiva de mim, me atirassem pedras pela rua. Ninguém entende, que eu não faço um diário? Se me inspiro em aspectos da minha vida, é tudo uma questão de auto-desconhecimento, mas quem lê não deveria ler quem escreve, e sim aquilo que alguém escreve.
Meu blog é tão frouxo, que não consigo fazer as pessoas entenderem a minha primeira pessoa como um eu lírico. Agora eu entendo os poetas desalmados. Agora sim.

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Pesquisa

04/08/2009

No final de 2007 eu perdia o sono semanalmente pensando em algum texto. O cansaço físico me impedia levantar da cama para anotar os poemas, textos e frases que vinham à cabeça. Criei então o Segundo Lílian, em Junho de 2008. Postando anotações feitas na madrugada, sonhos rememorados na manhã seguinte, inspirações do meio do sono vespertino. Sem habilidade de escrita tive um blog trágico, perdi meus leitores e a vontade de escrever.
No final daquele ano resolvi criar o Insônia Registrada. Já que todos meus textos eram decididos durante a insônia, ou me tiravam o sono. Era um novo blog, pensado diferente, com novo tema, nova forma de escrita, novo visual - que já foi modificado uma dezena de vezes - além de agora um período de vida bem mais traduzível em letras.
Hoje, o blog já virou um vício. Textos, links, vídeos, descobertas, lembranças... tudo vem pra cá. Tirando o sono de quem lê também. Tamanho vício me levou a criar um blog de esportes, um de filme, participar brevemente de um blog de humor e me fez até perder a vergonha do Segundo Lílian.
Porque segundo Lílian, a insônia será registrada.