Um olhar perdido me parou na rua, atravessou meus pensamentos e como quem degola uma imagem perdi todo o compasso ao andar, esqueci brevemente o que pensava e resolvi não lembrar que estava atrasada.
Era uma criança, um menino bem pequeno e magro, os cabelos curtos, bochechas caidinhas de cheias e o olhar perdido entre os faróis de carros. Simplesmente não sabia onde olhar. Por mais que falassem ao seu ouvido ele nunca ouviria, estava em contato com um outro planeta, dormia de olhos abertos, não sabia o que estava fazendo, nem quem eram aqueles que o acompanhavam de um lado para o outro.
Provavelmente seus pensamentos naquele momento não tinham nexo algum, assim como meus poemas, ele terminava por não pensar, de tanto que pensava. Imagino os vultos barulhentos que passavam pela sua cabeça, num reflexo de cores, assim como os faróis dos carros refletiam em sua retina, ou nas vidraças das lojas.
Em total anonimato me transmitia pena e alegria. Eu desejei ser ele por uns instantes e como dois raios de luz que se encontram numa fração de segundo nossos pensamentos se cruzaram, os olhares também. Quase como nos filmes se olha para o grande amor, troquei com ele o olhar de duas crianças apaixonadas. Não um pelo outro, mas pelo pensamento em comum.
Acabei como o garoto, pensei tanto que já não estava pensando.
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