Diogo (parte IV)

Já teve ter dado pra perceber que este meu caderno de anotações não vai muito longe, meu nome é Diogo, já não sou Birosca a muito tempo, já não coleciono as pequenas bolinhas de vidro. Tenho admiração por elas, bolinhas de vidro, tão bonitinhas, perfeitinhas, por que não bolinhas de plástico? Mas de vidro, esferas de gude, bolinha de gude. Resolvi pesquisar gude no dicionário, à essa altura da vida:

Gude
sm. Bras. Jogo infantil cujo fito é fazer entrarem em três buracos bolinhas de vidro.

Ah, olha eu perdendo o foco. Eu queria registrar as lembranças que tenho, mas nem todas tem continuidade, eu tentei fazê-las ter, mas não têm. Não adianta. Bom... vou continuar minha história sem conectivos de situações.

Depois de descobrir aquele sentimento frágil entre meus irmãos e eu passamos a trocar confissões antes de ir para a casa a noite.
E naquele dia o Dirceu estava nos contando que tinha fumado um cigarro com "uns caras" que ele não quis dizer o nome. Vinha pela rua narrando lentamente a primeira tosse, a sensação de paz e nostalgia. Ao fim da história Toninho caçoou dele.
_ Você fumou um cigarro e não maconha. Nada disso de paz e nostalgia seu viado.
_ Mas...
_ Mas você é viado, não agüenta nem um fumozinho...
Dobramos a esquina rindo. Na porta de casa um aglomerado de pessoas, uma pequena confusão. Uma sirene. Quando me dei conta de mim eu estava jogado na cama, olhando pro teto sem conseguir piscar os olhos. Esperava uma ordem pra que eu me movesse.
_ Diogo... a m-ma-mamãe...
_ Eu sei.
Nada seguiu. Continuei deitado, mas agora os olhos tinham se fechado e lacrimejavam, ainda bem que tava escuro.
Talvez eu nunca tenha sido muito apegado à minha mãe, nunca lhe abracei, ou troquei algum tipo de carinho, como o abraço de proteção que Dirceu me deu no dia da briga. Mas de alguma forma minha mãe era o motivo pelo qual Dirceu, Toninho e eu voltávamos em casa todas as noites.
Eu não sabia se me choro era por não ter mais minha mãe, ou por medo dos meus irmãos sairem e nunca mais voltarem.
_ Toni!
_ Que é?
_ Por que que...
_ Foi do coração...
_ Você... viu?
_ Ela falou da nossa irmã.
_ Que é com a Ana Rita?
_ A Vitória!
- Hm?
_ Ela sabe onde ela tá...
E sentei curioso esperando algo mais. Mas não era uma vírgula, tampouco um ponto final. Aquela frase só não tinha continuação e ouvi a voz de Geraldo entrando na casa.

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Pesquisa

04/08/2009

No final de 2007 eu perdia o sono semanalmente pensando em algum texto. O cansaço físico me impedia levantar da cama para anotar os poemas, textos e frases que vinham à cabeça. Criei então o Segundo Lílian, em Junho de 2008. Postando anotações feitas na madrugada, sonhos rememorados na manhã seguinte, inspirações do meio do sono vespertino. Sem habilidade de escrita tive um blog trágico, perdi meus leitores e a vontade de escrever.
No final daquele ano resolvi criar o Insônia Registrada. Já que todos meus textos eram decididos durante a insônia, ou me tiravam o sono. Era um novo blog, pensado diferente, com novo tema, nova forma de escrita, novo visual - que já foi modificado uma dezena de vezes - além de agora um período de vida bem mais traduzível em letras.
Hoje, o blog já virou um vício. Textos, links, vídeos, descobertas, lembranças... tudo vem pra cá. Tirando o sono de quem lê também. Tamanho vício me levou a criar um blog de esportes, um de filme, participar brevemente de um blog de humor e me fez até perder a vergonha do Segundo Lílian.
Porque segundo Lílian, a insônia será registrada.