Ela nascera com maus antecedentes e agora parecia uma filha de não-sei-o-quê com ar de se desculpar por ocupar espaço.
(Clarice Lispector no livro A hora da estrela)
Comigo parece ser sempre assim, personagens simplesmente nascem. Sinto fortes dores de cabeça: é a bolsa do parto de idéias se rompendo, uma frase é lançada ao caderno de cabeceira. Um novo personagem se descorre por algumas semanas. E depois não sei se escrevo ou interpreto.

Vou ter um ataque de nervos
Vou ter, sinto minhas veias pulsarem
Vou ter um ataque, mas antes eu ataco
Quero um downer, um down
Estou ficando maluco
Camisas de força, por favor
Qualquer coisa
Vou ter um ataque de nervos
E me jogar do sexto andar
Deus me proteja
Vou ter um ataque de nervos

(Cazuza - Ataque de Nervos)

Sim, meus personagens me atacam. E eu os ataco. No fim o provável: um ataque de nervos.
Estes devaneios que chamo de personagem são parte de mim, mas não me são inteiros, é estranho. Têm algo que eu não tenho, queria ter, tenho medo de ter, odeio quem tem, são amáveis. Sou psicóloga de todos meus personagens, nossos relacionamentos nascem sempre através da informalidade, um joguete de palavras. Ninguém pede pra vir ao mundo, simplesmente nascemos. Mãe são quem concebem e os pais, ah os pais não sei bem a respeito. Sou mãe, de tudo que escrevo (de todos meus personagens [e desculpe a repetição da palavra]).
Então apresento meu recém-nascido Bilddere A (sim, é um anagrama).

Anotações de Bilddere A.

(13 horas, Brasil, algum ano terminado em oito, ou outro.)
A estrada me parece ser somente a entrada pr'essa tal de liberdade.
E quem disse que fora de casa estamos livres? E fora da prisão então?

(19 horas, Brasil, algum ano começado em dois, ou mais)
Descartes conseguiu chegar a conclusão de: o que existe?
Ah lembrei: Existo, logo penso.
Não não, o inverso: Penso, logo existo.
Minhas anotações não pensam, existem?
E meus pensamentos?

(08 horas, Argentina, dois zeros no meio de um ano)
Década de 50 - transições pós-guerras
Década de 60 - revoluções sócio-culturais (mais culturais)
Década de 70 - Rock and Roll
Década de 80 - Punk, "fim" da idade industrial
Década de 90 - Fim da Guerra Fria, ressaca cultural dos anos anteriores
Década de 00 - nada de mais
2010, 2011
2012 - Segundo os Maias, o mundo acaba.

(17 horas, Lugar Algum, 2008)

Você não pode estar tão cego(a)
à ponto de não perceber
Estou indo embora
Por você!

(17:05, Aqui, década 00)

Close your eyers
Listen me, please

Me dê a mão e aperte forte
Depois, um abraço e boa sorte
Ei, eu vou pra longe
E posso não voltar
Seu abraço de agora
Pra sempre me acolherá
E eu vou andar sem fazer a barba
Lembrarei sempre de sorrir toda pela manhã
Levarei teu brilho comigo
(Te guardarei do peito ao umbigo)
Pra bem longe, eu vou estar
Mesmo que a gente nunca mais se veja
Te verei pra sempre em meus olhos (nos meus sonhos)
Nas costas, todo o peso
De nunca mais voltar
Mas par sempre eu vou estar

3 comentários:

Anônimo 21 de dezembro de 2008 às 16:05  

Seu blog é mais difícil que a prova da ufmg... ...eu bem sei.

É difícil saber que rumo você está
tomando no texto. Uma linha, uma mudança de direção, (ou será de sentido, um duplo sentido, então dois sentidos, [duas direções?]e eu falando de sentido...) e eu nunca sei se o texto é seu, se é parte de alguma grande obra literária que eu não li, (e eu não li todas do mundo) digo...

Não acho errado misturar, não pode haver algo mais certo, eu sempre lutei contra os direitos autorais. Mas como vou saber qual parte é sua e.. ...arrghh... ...estou confuso, por que li seu blog... ...viu o que você fêz !!
:)
E era para ser um comentário. Numa boa, lendo vc só me pareceu uma coisa: Deve ser cansativo pacas ser você, tipo, você deve chegar no fim do dia exausta de viver seu eu... ...aproveite suas férias, e tire férias mentais... ...eu sempre tiro, é legal, parece amnésia.

edo...

Lílian Alcântara 22 de dezembro de 2008 às 18:35  

edo... confesso que ri um pouco lendo este comentário, mas saiba que sempre que uso texto de outras pessoas indico naquela parte de quem é (assim, entre parênteses), o resto são meus personagens, eu mesma nunca escrevo. E ah, sim é bem cansativa ser eu... a cabeça vive doendo de tanto pensar, embora eu mesma acredite que isto é frescura.

Anônimo 23 de dezembro de 2008 às 09:22  

Viajar??
Dá-le férias !!

edo... :)

Pesquisa

04/08/2009

No final de 2007 eu perdia o sono semanalmente pensando em algum texto. O cansaço físico me impedia levantar da cama para anotar os poemas, textos e frases que vinham à cabeça. Criei então o Segundo Lílian, em Junho de 2008. Postando anotações feitas na madrugada, sonhos rememorados na manhã seguinte, inspirações do meio do sono vespertino. Sem habilidade de escrita tive um blog trágico, perdi meus leitores e a vontade de escrever.
No final daquele ano resolvi criar o Insônia Registrada. Já que todos meus textos eram decididos durante a insônia, ou me tiravam o sono. Era um novo blog, pensado diferente, com novo tema, nova forma de escrita, novo visual - que já foi modificado uma dezena de vezes - além de agora um período de vida bem mais traduzível em letras.
Hoje, o blog já virou um vício. Textos, links, vídeos, descobertas, lembranças... tudo vem pra cá. Tirando o sono de quem lê também. Tamanho vício me levou a criar um blog de esportes, um de filme, participar brevemente de um blog de humor e me fez até perder a vergonha do Segundo Lílian.
Porque segundo Lílian, a insônia será registrada.