A gente sonha a verdade?

Enquanto tentava concentrar-se em sintonizar o velho radinho de pilhas na corrida daquela manhã e rememorava os velhos narradores, uma vozinha que não chiava pelo rádio surgiu na porta da sala. A voz era doce e suave, não era grave como a de um homem, tampouco aguda como a de uma mulher.
Sabe estas coisas que lembram outra sem ter sentido? Como "Vanessa" lembrar "pia". Aquela vozinha lhe lembrava algodão. Enquanto decidia se o algodão era o do algodoeiro ou do pipoqueiro da porta da igreja os passos leves se aproximaram:

_ Vovô, a gente sonha a verdade?
_ Como assim? Algum palpite pra quem vence a corrida de hoje?
_ Vô... presta atenção em mim! - irritou-se o garotinho.
_ Sim meu filho, pode falar, mas eu apostei com seu pai que o Senna é que ganhava.
_ Vô! Me escuta! Quando a gente sonha é verdade?
_ É verdade o que? - respondeu com agilidade incomum à sua idade
_ O sonho!
Começou a se lembrar do sonhos, ainda aquela noite tinha sonhado com um cachorro urinando nos postes da rua. Fazia sentido naquilo? Ele não ia vigiar os cachorros da rua o dia todo, muito menos a semana toda. Então era melh...
_ Papai, o vovô não quer falar comigo. PAPAI!
Despertou-se ágil novamente.
_ Quero sim, vem cá. Senta na perna do vô e repete a pergunta.
_ É que eu tive um sonho e eu quero saber se eu sonhei porque aconteceu ou vai acontecer aquilo.
_ Ah! Quando eu tinha sua idade eu sonhei que eu era casado com uma senhora bem velhinha de cabelos lisos e que parecia com o Zuenir Ventura, conhece o Zuenir?
_ Eu não perguntei isso.
_ Ah... mas se você visse o Zuenir do lado da sua avó - e esboçou um sorriso - você ia entender sim.
Agressivo desceu do colo, deu duas voltas na sala com as mãos para trás olhando firme para o chão. Apontou pro Vô e disse:
_ É que eu sonhei que tinha um velhinho parecido com a vovó, ele era escritor e falava daquilo que o papai também fala.
Fez uma cara curva de interrogação e abaixou a cabeça, juntou as mãos e tentou pensar em como encerrar o assunto, que ele já não acompanhava mais.
_ Vô, eu acho que este velhinho é este Zuenir... eu acho... ele é irmão da vovó?

6 comentários:

Anônimo 8 de agosto de 2009 às 09:07  

Você tem um pé no surreal.Eu tenho certeza. :)

edo...

Anônimo 8 de agosto de 2009 às 09:29  

Eu gostaria muito mesmo de ter a sua participação em algum momento no "caderno de viagem".

Logo passarei a (tentar) narrar algumas das minhas mais importantes viagens e entre elas, a sua é umas das primeiras que quero contar. E aí gostaria de sua participação.

E parodiando o sábio Frederico: Ah diz que sim vai, não seja má, diz que sim vai diz que sim, siiiiiiim ??

edo...

Lílian Alcântara 8 de agosto de 2009 às 14:21  

não sei exatamente que tipo de participação estamos falando, mas claro que quero participar.

Bruno de Abreu 11 de agosto de 2009 às 15:23  

comigo acontece de num determinado instante (pode ser no meu quarto, numa loja, na rua, onde for) me passar uma sensação repentina, bem rápida, de já ter vivido aquilo - vivido igualzinho. outras vezes lembro de pensamentos sem nexo ou de sensações que tive em algum outro instante que por alguma razão inexplicável ficaram guardados. é tudo muito rápido e, como diz a alice, mudam os móveis da cabeça de lugar.

Bruno de Abreu 13 de agosto de 2009 às 02:37  

caramba que comentário umbiguista esse de cima, hem. aliás, sendo mais egocêntrico ainda, não recebi comentário nenhum seu no meu blog novo...

uma coisa que percebi: seu nome tem muito jeito de gente importante. e de escritora.

fica muito bem nas caixas de comentário...
:P

Anônimo 13 de agosto de 2009 às 14:10  

!? Mudam os moveis da cabeça de lugar !?

Droga !porque eu não pensei nisso...

Quer vêr problemático é quando você perde a memória de algo do passado e quando em um momento relembra, não sabe se foi sonho, realidade ou imaginação criativa. Esse é um estado quase permanente no meu cérebro.

edo...

Pesquisa

04/08/2009

No final de 2007 eu perdia o sono semanalmente pensando em algum texto. O cansaço físico me impedia levantar da cama para anotar os poemas, textos e frases que vinham à cabeça. Criei então o Segundo Lílian, em Junho de 2008. Postando anotações feitas na madrugada, sonhos rememorados na manhã seguinte, inspirações do meio do sono vespertino. Sem habilidade de escrita tive um blog trágico, perdi meus leitores e a vontade de escrever.
No final daquele ano resolvi criar o Insônia Registrada. Já que todos meus textos eram decididos durante a insônia, ou me tiravam o sono. Era um novo blog, pensado diferente, com novo tema, nova forma de escrita, novo visual - que já foi modificado uma dezena de vezes - além de agora um período de vida bem mais traduzível em letras.
Hoje, o blog já virou um vício. Textos, links, vídeos, descobertas, lembranças... tudo vem pra cá. Tirando o sono de quem lê também. Tamanho vício me levou a criar um blog de esportes, um de filme, participar brevemente de um blog de humor e me fez até perder a vergonha do Segundo Lílian.
Porque segundo Lílian, a insônia será registrada.