A Face do Gênio

Quando pequena eu costumava acompanhar meu pai, que fosse para a padaria, para o bar, o jogo do Clube Caratinga, ou o buteco que fosse passar o jogo do Cruzeiro. Nos fins de semana que ele resolvia ficar em casa, eu também ficava. Rodiava-o até que ele me mandasse ir buscar mais cerveja e ficar com o troco.
Nos sábados ele assistia Fórmula Um, nos domingos Futebol. Quando o assunto era futebol eu grudava no sofá, assistia o jogo, os comentários e ouvia atentamente meu pai. Ele narrava cada jogo histórico contra o adversário da vez. Quando o assunto era Fórmula Um, eu ficava na garagem rebatendo a bola contra a parede. Se eu acertasse determinado espaço era gol. E quando ela voltava eu tinha que defender, não era fácil defender aquela bola oval.
No terraço há dois quadros: um do Ayrton Senna, outro do time bi-Campeão da Libertadores de 1997 (Cruzeiro). Eu só tinha 2 anos quando o Senna morreu, portanto não me lembro de nada. Mas quase lembro, de tanto meu pai me contar, de tanto a Tv repetir.
Imagino que no dia da morte do Ayrton meu pai tenha sofrido tanto quanto eu no tal último jogo do Cruzeiro. E - imagino - que ele tenha sofrido igualmente ao ver o Cruzeiro desmerecer o título da Libertadores, depois de tão bela campanha.
Não gosto de carros, prefiro motos. Não gosto de corrida, prefiro correr. Não gosto de correr de carro, prefiro de bicicleta ou cavalo. Talvez seja quase impossível que eu venha assistir um campeonato inteiro de algum dos prêmios de corrida. Não sei nem mesmo os regularmentos, qual corrida é qual, e o tempo de duração de um campeonato, ou de uma corrida. Quando era pra ter aprendido, eu tava muito ocupada treinando pra nunca jogar bola.
Enfim, o máximo de apego que tenho ao Senna é de ver meu pai tentar me narrar as conquistas dele como me narrou a do Cruzeiro. E a única que eu gravei foi do dia que ele morreu. Se ele não morresse na pista, todo mundo ia falar que mataram ele, mataram porque ele era muito bom e a morte dele foi encomendada por...
No dia que organizei os livros aqui em casa, descobri uma biografia esquecida de Senna, ela foi escrita em 1991, antes que ele morresse. Não por Senna, não por Fórmula Um, mas sim pelo hábito de ler biografias e sempre descobrir coisas interessantes sobre a raça que eu quase consigo não percetencer (mentira): humanos.

AYRTON SENNA - A FACE DO GÊNIO (Christopher Hilton)

A primeira página, apesar de corrida era algo polêmico e interessante. Até o fim do primeiro capítulo eu fui pra descobrir o fim da primeira página. O segundo capítulo mostra a infância dele, como não resisto a saber à infância de alguém e depois da infância você logo quer saber o fim da vida, comecei a ler Senna.
E meu pai anda pela casa com os olhos brilhantes na esperança que eu finalmente me interesse por corrida, até porque, ele mesmo já está se desinteressanto, sem alguém pra dividir as informações e sem o Senna pra correr.

2 comentários:

Anônimo 18 de julho de 2009 às 08:55  

Lembro do ano da morte dele.
Eu era fã de formula 1 naquele tempo. (mas parece que não tanto quanto seu pai)

Lembro também que sempre acreditei que naquele ano houve uma espécie de compensação divina. Vendo que tirando Ayrton Senna, deixou um país inteiro na depressão, Deus teria dado o Tetra na copa do mundo logo depois, para amenizar as coisas.
Sabe como é, brasileiro é meio desbocado, e ele deve ter ouvido pouco xingamento né?! Só uma copa do mundo para deixar toda essa gente feliz denovo.

Bruno de Abreu 20 de julho de 2009 às 18:26  

como já te disse, to gostando demais do que vc tem escrito por aqui. e esse layout foi o meu preferido até agora...

abraço!

Pesquisa

04/08/2009

No final de 2007 eu perdia o sono semanalmente pensando em algum texto. O cansaço físico me impedia levantar da cama para anotar os poemas, textos e frases que vinham à cabeça. Criei então o Segundo Lílian, em Junho de 2008. Postando anotações feitas na madrugada, sonhos rememorados na manhã seguinte, inspirações do meio do sono vespertino. Sem habilidade de escrita tive um blog trágico, perdi meus leitores e a vontade de escrever.
No final daquele ano resolvi criar o Insônia Registrada. Já que todos meus textos eram decididos durante a insônia, ou me tiravam o sono. Era um novo blog, pensado diferente, com novo tema, nova forma de escrita, novo visual - que já foi modificado uma dezena de vezes - além de agora um período de vida bem mais traduzível em letras.
Hoje, o blog já virou um vício. Textos, links, vídeos, descobertas, lembranças... tudo vem pra cá. Tirando o sono de quem lê também. Tamanho vício me levou a criar um blog de esportes, um de filme, participar brevemente de um blog de humor e me fez até perder a vergonha do Segundo Lílian.
Porque segundo Lílian, a insônia será registrada.