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Silêncio Registrado


Viçosa, 25 de abril de 2009.
O show do Teatro Mágico estava marcado pras 21 horas, quer dizer. Os portões iam abrir 21 horas, aí tinha a banda de abertura e depois Teatro Mágico. Se fizessemos as contas umas 23 horas começaria o show. Mas a gente sabe como brasileiro é. E... 23 horas abriu o portão.
Uma bandinha mais ou menos começou a tocar, enquanto isso tinha uma tenda branca do lado esquerdo - pra quem entrava - com DJ e uma improvisada boate. Quando me dei conta estava em uma rodinha de amigos da minha irmã tentando competir meus gritos com a caixa de som à menos de um metro do meu ouvido.
_ O que?
_ Sabe este cara de branco?
_ Quê?
_ Este conversando com a minha amiga.
_ Ahn.
_ Ele fez voto de silêncio...
_ Não ouvi.
_ Entendeu?
_ Não!
_ Ah.
Depois da boate, do show do Teatro, de mais boate, de conseguir vaga no terceiro ônibus que passou por lá... Pegamos a bicicleta da minha irmã nas quatro pilastras - eu na garupa - e ela contando:
_ Aquele cara que te falei, ele fez voto de silêncio. Um ano sem falar. Ele me mostrou um poema dele era algo como "calo-me para aprender ouvir". 
Eu, claro, pagando pau pro cara.

Caratinga, 03 de junho de 2009.
Desde então, fiquei pensando. Tenho que fazer isso um dia, tenho que fazer.
Cheguei a falar várias vezes que ia fazer, mas eu não tinha um objetivo verdadeiro. Até que ontem eu tava pensando na minha falta de problemas ai falei "pô, se eu ficasse mais calada, e pensasse mais pra falar eu não tomava tanto coice" ... três segundos de silêncio mental "será que se eu parar de falar eu vou estudar?" ... dois... "vou realizar meu sonho: voto de não falar."

Hoje de manhã fui pra escola com um bloquinho e uma caneta no bolso, alguns amigos já estavam avisados (via internet) e o que eu realmente precisava falar eu escrevia no bloquinho. Minhas principais frases eu anotei em plaquinhas que levantava de vez em quando (acho que são muitas): "desculpa", "capaz", "boa", "morri", "sim", "não", "tá preocupado(a) comigo?", "ai meu joelho", "é uma pena", "é uma pena MESMO", "esqueci", "acho palha", "acho graça" ou "presente" pra responder a chamada e uma pequena explicação do porque parei de falar.
É um pouco divertido, mas tem hora que falar é preciso. Você quer avisar uma pessoa que o celular ta caindo e ... antes que arrume um jeito o celular já está no chão. Tem hora que começam te sacanear, falar coisas que vai ser dificil responder sem falar... e um singelo VAI TOMAR NO CU, escapou-me.
Na hora da prova, que foi em trio, não teve como. Tive que falar, e falar muito. Depois demorei pegar no tranco pra calar de novo. E hoje, justamente hoje. Todas as professoras resolveram me parar no corredor pra perguntar algo. Neste caso tive que responder.
Até o fim da noite tem muito contato pra fazer ainda. Rua, cursinho, internet, telefone.... coisas que estou tentando evitar. Quero ver até dia 30/06 sem falar (dependendo só abro a boca mesmo dia 01/07). Então, vou postar aqui meu descarrego todos os próximos dias. 

3 comentários:

Anônimo 5 de junho de 2009 às 00:20  

tuka, como faz p colocar visuais descolados no blog???

Wilson Ossoguju 7 de junho de 2009 às 20:59  

Há poesia bastante em não dizer nada.

Wilson Ossoguju 7 de junho de 2009 às 21:11  

Olha o que disse o Manoel de Barros no "Livro Sobre Nada":
-Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira.
-Não pode haver ausência de boca nas palavras: nenhuma fique desamparada do ser que a revelou.
-Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada; mas quando não desejo contar nada, faço poesia.
-As palavras me escondem sem cuidado.
-Aonde eu não estou as palavras me acham.

Boa sorte em seu silêncio e se precisar de alguma dica de como não falar com as pessoas depois te dou algumas dicas =P

PS.: Tá comendo feijão?!

Pesquisa

04/08/2009

No final de 2007 eu perdia o sono semanalmente pensando em algum texto. O cansaço físico me impedia levantar da cama para anotar os poemas, textos e frases que vinham à cabeça. Criei então o Segundo Lílian, em Junho de 2008. Postando anotações feitas na madrugada, sonhos rememorados na manhã seguinte, inspirações do meio do sono vespertino. Sem habilidade de escrita tive um blog trágico, perdi meus leitores e a vontade de escrever.
No final daquele ano resolvi criar o Insônia Registrada. Já que todos meus textos eram decididos durante a insônia, ou me tiravam o sono. Era um novo blog, pensado diferente, com novo tema, nova forma de escrita, novo visual - que já foi modificado uma dezena de vezes - além de agora um período de vida bem mais traduzível em letras.
Hoje, o blog já virou um vício. Textos, links, vídeos, descobertas, lembranças... tudo vem pra cá. Tirando o sono de quem lê também. Tamanho vício me levou a criar um blog de esportes, um de filme, participar brevemente de um blog de humor e me fez até perder a vergonha do Segundo Lílian.
Porque segundo Lílian, a insônia será registrada.