Era um mendigo, talvez andarilho, mas me disseram que era um hippie sem seus artesanatos. Um velho hippie então, de barbas longas, crespas e grisalhas; a cabeça envolta por uma toca de meia e um forte odor. De longe parecia um velho bêbado, de perto um pobre coitado.
Só me aproximei porque não percebi pra onde meus pés me levavam, as vezes a gente se sente invisível, e quando escutamos o próprio barulho passamos a lembrar que somos seres vivos visíveis como os outros. Pra não esquecer disto deveríamos usar um sininho pendurado ao pescoço.
Como um urubu rodando em volta da carniça, ali estava eu cheirando o odor do indefinido ser humano que se espichava pelo chão da praça. Antes que meu sininho tocasse e eu voltasse para o devido lugar: o asfalto, o velhinho me surpreendeu com as mãos esticadas para mim, apalpei o bolso indicando que não tinha moedas. Ele me olhou torto:
_ Estou pedindo a bênção. - foi minha vez de entortar a cara e enrugar a testa - E uma menina como você certamente tem um amplo contado com Deus para me abençoar. - menina abençoada de novo não.
Engoli algumas letras, palavras e "mineiralizei" a benção:
_ Bençoi. - a recompensa do dia foi o sorriso desdentado que me mirou por um ou dois segundos depois.
_ Menina, você não tá se perdendo, nem se encontrando. Já se perdeu e ainda não começou a procurar. - eu resolvi considerá-lo um velho bêbado e sai friamente, pela tangente do circulo que o urubu formava com seu vôo.
3 comentários:
putz! esse aí vc inventou não...?!
vc disse que o caso da igreja é verdadeiro... esse também ?!?!
se eu ficar desvendando cada verdade e mentira deste blog perderemos todo o efeito literário do meu eu lírico.
Você já pensou que aquele podia ser um novo messias ?... ...não digo que devia ter se sentado e conversado com ele, mas talvêz devesse ter saído pela diagonal.
É um caminho que exige menos cálculos, eu acho...
edo...
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