Três anos depois

Eu sentava naquela calçada e ficava observando as pessoas: algumas passavam com muita pressa; outras vinham chutando suas pedrinhas, ouvindo música, andando lentamente; paravam, esperavam alguém e saiam. Era engraçado quando alguém ficava um bom tempo parado e decidia que era hora de partir, ficavam me olhando sem jeito como se quisessem me matar por eu ter visto que tomaram um bolo.
Na maior parte das vezes eu me sentia um pouco invisível, estar ali e ninguém me dar a miníma idéia me fazia sentir assim. Mas quando um olhar perdido me encontrava eu me sentia presente demais, até mesmo invadindo a vida das pessoas, me sentia mais estranha que qualquer uma das que ali passavam.
Algumas vezes eu tentava fotografar umas cenas bem disfarçadamente, e quando notava já tinha tomado a rua como minha. Depois de três anos de muita freqüência inexplicável naquele lugar eu percebi que ele tinha mais de mim que eu dele. Nas paredes alguns desenhos que fiz, minha assinatura, o chão recém-acimentado tinha meu nome escrito à dedo. Por fim, eu já sabia quem passava e em qual horário, quando uma pessoa ia ali pela primeira vez eu reconhecia em seus olhos perdidos e encantados pelos meus desenhos e me oferecia pra escoltá-las até o destino.
Uma vez escoltei um velhinho cego sem que ele soubesse quem eu era, ou até que eu estava ali. Ele repetia "você está ai?" "anda aparece pra mim, vai", o tempo todo. Talvez tenha pensado que eu era um anjo, ou coisa parecida, talvez eu fosse mesmo...
Aos poucos eu fui concluindo no meu pequeno diário: "Pessoas não são máquinas, não são programadas. Elas pensam advinhar o futuro, retroceder ao passado, acreditam que um cheiro é o sulficiente pra levá-las ao fundo da memória e atrasam 2 minutos pensando que vão fazer suspense, na verdade só terão que esperar 2 minutos a menos.
E neste convívio consigo mesmas vão ignorando outros seres que as rodeiam. E quando se
deparam com o assubio de um pássaro já não reconhecem e ficam abismadas, espantadas, como se estivessem vendo a maior raridade do universo. O mais estranho é o que consigo sentir por cada desconhecido que por aqui passa, assim como elas pelos pássaros, eu me assombro, arrepio de curiosidade e me apaixono por cada uma delas."
Quase no fim daqueles três anos passou um homem bem diferente por ali. Primeiro que ele me viu, riu pra mim e desejou que fosse quem eu fosse que tivesse um dia gratificante, depois ele voltou sorrindo e disse "deu tudo certo, valeu", sem eu nem ter feito nada. Daí em diante fiquei curiosa, às vezes eu o seguia, tentava desenhá-lo. Ficava esperando que ele passasse todos os dias depois do almoço, às vezes ele não ia e eu ficava triste, nem terminava a tarde por aquelas bandas. Foi quando ele passou 3 semanas sem me visitar, que percebi que eu tinha passado 3 anos sem sorrir pra mais ninguém.

1 comentários:

Anônimo 10 de setembro de 2009 às 14:34  

Olha!!
Me deu labirintite denovo !!
Óh o chão tombando de lado óh...

(mas eu sei que há um significado maior aqui)


edo...

Pesquisa

04/08/2009

No final de 2007 eu perdia o sono semanalmente pensando em algum texto. O cansaço físico me impedia levantar da cama para anotar os poemas, textos e frases que vinham à cabeça. Criei então o Segundo Lílian, em Junho de 2008. Postando anotações feitas na madrugada, sonhos rememorados na manhã seguinte, inspirações do meio do sono vespertino. Sem habilidade de escrita tive um blog trágico, perdi meus leitores e a vontade de escrever.
No final daquele ano resolvi criar o Insônia Registrada. Já que todos meus textos eram decididos durante a insônia, ou me tiravam o sono. Era um novo blog, pensado diferente, com novo tema, nova forma de escrita, novo visual - que já foi modificado uma dezena de vezes - além de agora um período de vida bem mais traduzível em letras.
Hoje, o blog já virou um vício. Textos, links, vídeos, descobertas, lembranças... tudo vem pra cá. Tirando o sono de quem lê também. Tamanho vício me levou a criar um blog de esportes, um de filme, participar brevemente de um blog de humor e me fez até perder a vergonha do Segundo Lílian.
Porque segundo Lílian, a insônia será registrada.