Não é o meu primeiro projeto de livro. Eu simplesmente nunca terminei um pela falta de organização mental e física. Eu escrevo trechos que gostaria de colocar nos meus livros por todas as partes, depois não consigo os unir e abandono a idéia. Desta vez contratei alguém pra receber todos arquivos de word e colocar na ordem mais sábia. Além de revisionar e colaborar no que mais for preciso.
A luz do banheiro estava ligada, e a porta aberta. Me aproximei. Primeiro eu descubro o que as pessoas gostam de fazer, depois eu observo como elas o fazem e sem querer acabo entendendo o por que.
Não fazia mais que três meses que eu dividia aquele apartamento com alguém. Embora ela parecesse apenas uma visita, ou alguma desconhecida perambulando pela minha casa, eu já tinha me apegado à presença silenciosa dela. Vivíamos cenas de solidão à dois.
Cada um almoçava no seu quarto, comidas diferentes, lavava a própria vasilha.Conversávamos pra pagar a conta e não muito mais. Não sei se ela tinha medo de mim, se não gostava de conversar ou se sentia-se muito inquilina e tinha medo de me incomodar com sua doce voz sem sotaque.
Encostei na porta do banheiro para conversar com ela, minha mãe fazia isso quando queria brigar comigo. Não creio que minha cara, naquele momento, era séria. Mas ela também pareceu sentir-se um pouco amedrontada de alguma bronca, até uma expulsão – talvez.
Me olhou através do espelho e continuou a escovar os dentes, tirando os olhos dos próprios olhos e olhando fixamente pra mim, evitava virar:
_ Não é engraçado o espelho?
Continuou calada escovando os dentes.
_ É sim. Meio gozado que quando olho pro espelho daqui não vejo nem sombra minha, vejo seus olhos, e você vê os meus, não é? Oxe, não é?
Enxaguou a boca, gargarejou a água e sem muita vontade respondeu que era mesmo.
_ O melhor é que eu sei que estás me olhando enquanto te olho e isto é bonito. O espelho me faz pensar, sempre fez.
_ Não sei se pelo espelho também. Eu penso escovando os dentes.
_ Você gosta de escovar os dentes, eu sei. Mas não é pra pensar.
_ Pensa que é pra que então?
_ Quando escova os dentes deixa propositalmente a espuma escorrer pelos cantos da boca, criando assim uma barba. É da barba que você gosta. Queria ter uma igual a minha?
_ Eu gosto de barbas?
_ É o que me parece.
_ Ah! Eu gosto, mas em homens.
_ Você vê o homem ideal no espelho, quando a espuma cobre seu rosto.
_ Porque você ta me falando estas coisas?
Não lembro uma frase a mais. Porém a única certeza que tenho é que a próxima frase já não estava no mesmo contexto.
1 comentários:
Me deu labirintite. Sério.
Sabe quando o mundo ou o chão dá aquela tombada de lado por um momento ? O ângulo desse espelho e dessa conversa me fêz o mesmo.
edo...
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