Sem Fim

A tristeza é gratuita, a felicidade não.

Paga-se caro para abandonar a tristeza, a inerte falta do que fazer, a busca por algo que só se lembra na hora de rezar. Homens e mulheres levam uma vida inteira deitados em suas camas pedindo pra acordar e ter um emprego melhor, e nunca vão procurar. As vezes acredito estar num grande jogo de videogame, e se estivessemos: cada pedido seria como um macete, apareceria lá um iconezinho que era só clicar e adicionaria o pedido (do macete) ao equipamento do jogador. Enfim, se pedimos e pedimos sem nunca ir buscar (ou clicar no ícone) quando dermos conta estarão lá mil  pedidos iguais a disposição e nem saberemos mais em qual clicar primeiro.
O computador daria um treco, reiniciaria sem aviso prévio. A bondade divina está próxima. Não... eu não queria falar de vontade divina, escrever tá me virando um malefício.... e não consigo terminar. 

Medo Árduo

Um dia tenso. Dois cigarros, que restaram do maço. Um restinho de líquido dentro do isqueiro, com muita paciência e quase desistindo do vento conseguiu acender o cigarro. Olhava tão distante e pensava em tudo que já tinha passado.
Ele lembrava de ter acreditado em muitas coincidências numéricas, muito mito ao seu redor. Seus pés sempre em ritmos lentos, quase parecia não sair do lugar, balançando o corpo no ritmo de uma música (sem letra, que é pra não pensar). Tudo era tão insignificante diante daquele olhar inquieto que completava todos os ângulos possíveis pra olhar a rua, as pessoas, dentro da sua órbita ocular, olhava pra si e mais uns: os de fora.
Transeuntes tranquilos eram vítimas de suas miradas, observações despercebidas a pontos estratégicos que ninguém mais queria olhar, traduzia tudo depois: em letras, riscos e curvas, nunca retas. Era, para ele, tão díficil pensar em duas coisas ao mesmo tempo quanto olhar no rosto de quem lhe dirigia a palavra. Talvez fosse por esta razão que passassem despercebidos seus traços do rosto, e ninguém sabia descrever muito bem como ele era.
Seu sorriso? Ninguém nunca deve ter visto, não era de gargalhadas também.
As ruas sempre lotadas, todos esbarrando uns nos outros. Ele parecia andar com uma proteção, ao seu redor um círculo quase perfeito, ninguém ousava ultrapassar os limites imaginários e invadir sua área. Só ele não percebia que não era tocado. Nada efusivo. Aos poucos foi virando personagem de um livro, alguém o observava de um ponto que nem ele, com seu olhar esperto procurando pontos imperfeitos, conseguiria encontrar.
Seu nome não era Aaron e ele não era um mito, só não fumava.

Duas opções de trilha sonora para o texto:

→ a visão da personagem sobre si mesmo: http://www.youtube.com/watch?v=yLq86IcoYtI
→ uma paixão trocada pelos cigarros (coisa de personagem mal escrito): http://www.youtube.com/watch?v=qCPwEgAXsnc


Rotina

a casa é só:

rotina
E a mesma
imagem é
refletida
na minha
retina

os carros
correm todos iguais
sem freios
os navios buzinam
- à beira do cais -

a rotina,
da praia,
as crianças
e seus castelos de areia:
o mar bate na criança
a criança bate no castelo
e o castelo, que é rotina,
o castelo castiga a vida.

Quase não faz sentido. E é isso que importa.
Eu tô tentando escrever, mas a rotina não tá deixando.

Janela

Um horizonte móvel
Aprisionado num retângulo espaço
Sobram olhares
Um dia retrata chuva
N'outro destrata a morte

→ O mar é o mundo dos deuses. Enquanto homens buscam os céus, divinos (re)encontram o mar.

Gota

Centro de Belo Horizonte, um dos vários pontos de ônibus lotados da cidade. Muitas compras na mão, muita família ao redor. O caos é ali, o inferno são as grandes cidades. Tanta buzina, tanto medo, tensão. O clima era de quinta-feira apressada, muito movimento, gente querendo comprar coisas, mãe querendo uma loja, irmã querendo outra e eu querendo cama. O útilmo ônibus do dia, direto para o bairro Pirajá, voltar para casa (da tia) e dormir até a próxima quinta.

Pela minha cabeça percorriam pensamentos de liberdade, eles tendem a se agravar no meio do caos. A liberdade pra mim é sinônimo de paz. Uma música imaginária, num fone imaginário era tudo que eu tinha. Meus pés marcavam o tempo no chão querendo ter saber assuviar um melancolico ♪ No woman, no cry ♪ imaginando as três cores africanas (que alguns insistem em dizer jamaicanas) rodando em torno de mim.
Num susto surge um homem de cabelo rasta, barba por fazer, todo sujo, um cartaz na mão. Cantarolava algo que me lembrava ventania, a história de um amigo seu que foi fuzilado pela polícia. Ele só pedia paz, conciência... tudo isto que a gente vê na tv. Tudo que eu queria era ir atrás dele cantando a mesma musiquinha, que agarrou na minha cabeça pelos próximos vinte minutos (já não me lembro mais a letra).
E antes que ele sumisse na esquina com toda minha paz, pra sempre. O ônibus azul parou de forma não convidativa, mostrando cada vez mais o que é o capitalismo e suas implicações. Muita gente em torno do ônibus e mais uma manifestação esquecida. 

Antes eu sonhava, agora já não durmo... 

Demarcar um novo limite

Lá no fundo do mar, uma bóia com um pauzinho pra cima flutuava e eu não cansava de pedir informações ao meu pai: Que é aquilo? Pra que serve? Que me fazem se eu for até lá? Talvez, se eu fosse um pouquinho mais velha entenderia que era um limite, assim como todos lugares do mundo têm um limite. Você não pode ultrapassar as grades, não pode ultrapassar a vida, o além, não pode ultrapassar X km/h, nem àquela cerca.
Eu gosto de ultrapassar limites, quebrar barreiras e mudar meu limite aos poucos. Se o limite é chegar em casa meia noite, porque não chegar meia-noite e meia? E meus pais acabam esquecendo que era meia-noite, meia-noite e meia é meu novo horário, que tal uma hora? Duas? Porquê não dormir fora?
Não é pelo prazer de ultrapassar isto, é pela liberdade. Já viu como aquele território pequenininho: Israelitas x Palestinos (Judeus e Árabes) faz um estardalhaço pelo mundo? E a gente tem tanto lugar desocupado aqui no Brasil, porque não se mudam alguns pra cá? Não. Precisam ultrapassar os limites, mas não o fazem de forma consciente. Que tal atravessar a fronteira que os divide e dar um abraço no Judeu? Um beijo no árabe? Casar-se. Viver um Romeu e Julieta com repercussão mundial? Não falando de amor, romantismo... procurando paz na guerra.
Isto é ultrapassar os limites. Não seguir as regras em busca de algo melhor, pra você ou para todos. Sem prejudicar ninguém. Voltando à Palestina, o que você acha que aconteceria se todas as crianças dos dois lados resolvessem atravessar a barreira, escondidas ou não. E abraçassem as outras crianças, e os pais que fossem buscá-las percebessem que o outro lado não é tão terrorista como parece? Se uma só pessoa faz isto, ela é fuzilada. Se todo mundo faz, cada um por si sem se perguntar "será que meu vizinho vai?" ou criar mais limites para você "só vou se meu irmão for". Não é assim que se ultrapassa os limites. Cada um faz por si, mas todo mundo faz junto.
Estou ficando confusa.
O único problema de ultrapassar estes limites é que depois dali não existe o limite dois, ou coisa parecida. Imagine que você ultrapassa a bóia no mar que indica profundidade, trânsito de navios, risco de tubarões. Você nada vinte metros a mais e não sabe se daqui a vinte metros ainda estará vivo ou não. Fica com medo e volta pra dentro do seu limite, a sua grande bolha de plástico que te limita por todos os lados. Lados? Não, dentro de uma bolha não temos nem se quer direita ou esquerda.

Pesquisa

04/08/2009

No final de 2007 eu perdia o sono semanalmente pensando em algum texto. O cansaço físico me impedia levantar da cama para anotar os poemas, textos e frases que vinham à cabeça. Criei então o Segundo Lílian, em Junho de 2008. Postando anotações feitas na madrugada, sonhos rememorados na manhã seguinte, inspirações do meio do sono vespertino. Sem habilidade de escrita tive um blog trágico, perdi meus leitores e a vontade de escrever.
No final daquele ano resolvi criar o Insônia Registrada. Já que todos meus textos eram decididos durante a insônia, ou me tiravam o sono. Era um novo blog, pensado diferente, com novo tema, nova forma de escrita, novo visual - que já foi modificado uma dezena de vezes - além de agora um período de vida bem mais traduzível em letras.
Hoje, o blog já virou um vício. Textos, links, vídeos, descobertas, lembranças... tudo vem pra cá. Tirando o sono de quem lê também. Tamanho vício me levou a criar um blog de esportes, um de filme, participar brevemente de um blog de humor e me fez até perder a vergonha do Segundo Lílian.
Porque segundo Lílian, a insônia será registrada.