Minha cama sente ciúmes, é maltratada por toda a família mas é a única cama no mundo que abraça uma pessoa, por isto tanta gente gosta da minha cama sem saber o porque.
Durmo com minha avó, é raro estar em casa e dormir em minha cama, prova disso é o colchão duplo comprado próximo ao meu aniversário do ano de 2008, permanece duro e intacto, com cheiro de loja e etiquetas da mesma. Se durmo em casa tenho preguiça da firmeza permanente em meu colchão, não retiro a colcha e deito por cima de tudo, sem travesseiro mesmo, acordo reclamando.
Uso minha cama apenas como extensão da mesa do computador, ou do meu guarda-roupas: fichário, livros, roupas, revistas, calendários, lapiseiras... todos já visitaram minha cama. Como não os retiro dela, fica difícil deitar na mesma durante o tempo que estou em casa. Pra deitar preciso me retorcer e encaixar no 'S' vago entre meus entulhos.
Aos poucos minha cama começa a tomar raiva de mim, pela falta de carinho que lhe tenho desde que a troquei pela cama de casal antiga que durmo na casa de minha avó. O colchão não chega próximo de ser duplo, mas é largo; não tem nenhum benefício para minha coluna, é de eponja; não tem conforto algum, mas não tem entulho.
Sei que a culpa nunca foi da minha cama, é minha. Decido pedir desculpas a minha cama em dias frustrados, chego em casa querendo colo de travesseiro, tiro tudo que está sobre ela, jogo no chão: boa tarde caminha. E me debruço com braços pra cima, cabeça de lado, olhos fechados. Minha cama me abraça, aceita o pedido de desculpas, ri-se do chão entulhado. Me acolhe e dá conforto, coisa que ela nunca faz nos nossos dias de briga.
E quem disse que cama não tem coração?
1 comentários:
Oi, Lílian. Tenho acompanhado teus escritos, e acho que estão ótimos! Tens estilo próprio, é o que me parece... Os textos não são longos, cansativos. São leves e com um certo humor. Parabéns!
Postar um comentário