Amor, café e (in)sensibilidade



Ele me amava, e eu tomava café quente.
Seus olhos não conseguiam fixar um ponto só, olhava minhas mãos, analisava minhas orelhas, cada marca de espinha em minha testa, ponto a ponto do meu rosto, tentava entender pra onde eu olhava... arrepiava todos os pêlos do braço enquanto eu soprava o café.
Eu parava para sentir o aroma forte do café, e ele para admirar meu cheiro, suando com o vapor quente de café sobre meu rosto. Meus olhos se voltavam para dentro da xícara, conferindo quanto ainda me restava de café, os olhos dele no relógio marcando quanto tempo ainda tinha para me observar.
Descansava a xícara sobre o pires, rodava meu dedo em torno da xícara brincando de desenhar nas marcas do vapor. Ele repetia os mesmos gestos com os dedos, sem perceber desenhando círculos no balcão. Teve até mesmo uma hora, que escreveu: repetindo meus gestos, meu nome completo com um coração. Quando olhou pro balcão liso, talvez percebeu marcas de dedo e descobriu meu nome.
Enquanto desdobrava o jornal, ele se desdobrava em mil para me ver atrás das manchetes. Parecia obcecado pelos meus movimentos, olhava para mim se sentindo invisível atrás dos óculos de grau, coçava o queixo e massageava os lábios.
Virei o jornal para resolver a cruzadinha, ele virou de lado para ver o meu reflexo no espelho. Brincava com o vidro refletor supondo por a mão em minha xícara, fez até menção de alisar meus cabelos. Comecei a sentir medo. Tirei o olhar da quadriculada cruzadinha, direcionei com todo impulso pra dentro de seus olhos, ele se arrepiou.
Tentou encontrar, sem tirar os olhos de mim, sua xícara preta com café agüado. Molhou a boca, e percebeu, o café já estava frio.
Ele me amava e tomava café frio.

(já posso abrir uma sessão de textos sobre cafés e cafeterias)
Foto roubada de um álbum Picasa, cujos créditos não consegui encontrar

Tomando um bolo

Muito perfume, a melhor camisa, cabelos cuidadosamente arrumados, tudo previamente ensaiado, nenhum vacilo ou tropeço previsto. Abriu o celular de novo e releu a mensagem "eu vou, 13hrs em frente o restaurante". Apreensivo olhou o relógio de pulso e confirmou: faltavam seis minutos. Repassou todas as frases decoradas na cabeça, apalpou os bolso pra ter certeza que tinha levado tudo, celular, chave, carteira, convites pro cinema mais tarde, tudo certo. Chegou propositalmente mais cedo pra não correr risco do minímo atraso, ou diferença de relógio.
Cabelos longos e pretos balançavam bem longe, só via os cabelos não tinha certeza se era a mulher que esperava. Procurou fingir-se desatento pra não demonstrar um cara preocupado, nervoso ou apaixonado demais. Pensou em uma música qualquer para cantarolar. Não, parecia ridículo demais. Pensou em puxar um cigarro, mas e se ela odiasse cigarros? Olhou pra rua de novo, a mulher que pensava ser ela já estava bem próxima e não parecia nem um pouco com ela.
Atravessou a rua e comprou um Trident, voltou bem devagar pra passar o tempo. Não sabia mais o que fazer pra perder a ansiedade, começou a batucar os pés. Andou até o fim da rua, voltou. Foi até a outra esquina, voltou. Não sabia de que lado ela viria, olhou o relógio novamente.
_ Está atrasada três minutos. - susurrou pra si.
Ficou ali parado mais vinte minutos, se controlando pra não perder a elegância e não despentear o cabelo. Apostava consigo mesmo o tempo que ela demoraria a chegar: "mais cinco minutos e só". Quando se deu conta já eram 14:30, nada de almoço juntos, seu estômago cheio de dores, nada de convidá-la para um cinema à noite. 
Deu um passo rumo a rua para ir embora, parou e olhou em volta. O que pensariam aquelas pessoas? Todas elas viram ele esperar uma hora e trinta e seis minutos ali, iriam rir dele, tomou um bolo feio. E ele ainda esperou bem mais que qualquer pessoa esperaria, que desculpa arrumaria pra ir embora? Olhou para os lados, pegou o celular, fingiu receber uma ligação, fez cara de surpreso e foi andando com o celular ao lado da orelha. Suava para representar a cena, andava devagar para não ser muito observado.
O celular tocou de verdade, com ele ali, fingindo atender o celular. O que faria agora? Olhou para uma criança que passava com a mãe do seu lado, o menino riu. Ele se sentiu envergonhado, olhou quem estava ligando, "era ela", atendeu com raiva e... bateria fraca.

Diz a lenda que o celular ficou jogado no chão até um pouco mais tarde, quando alguém achou.

Outra vez

Quando  acordei
Com vontade de te ver
E te abraçar um pouco mais
Pensar é bom
No tempo que passou
Sei, já não nos cabe mais
Ficar relembrando por ai
Mas eu acordei
Com saudades de um tempo bom
E é de pensar em rés
Quando os olhos brilham outra vez

Café Expresso

* continuação de pazinha azul

Com o tempo ele adquiriu uma louca mania de colecionar algumas coisas inúteis encontradas por aí, completava uma coleção de chaveiros encontrados pela rua, até mesmo algumas chaves, baralhos incompletos, pedrinhas coloridas, conchinhas e uma pazinha azul.
Aquele dia não era menos esperançoso que os outros, acordou disposto a andar olhando para o chão e descobrir tesouros perdidos. De um pulo levantou da cama, tomou um banho e sentou melancolicamente sobre a cama para amarrar os tênis, de um lado um All Star preto e do outro um vermelho, coisa que só percebera muito mais tarde.
Andava pela rua lendo placa por placa, observando de perto a calçada pra verificar se não continha nada, sentou em uma cafeteria com ar de ator de cinema espanhol e ficou observando a rua, mulheres apressadas equilibravam-se em seus saltos vermelhos, homens engravatados corriam de um lado à outro, os carros pareciam prestes a explodir de tanta buzina.
O cheiro de gasolina o deixava tonto, ao mesmo tempo sentia prazer no cheiro, assim como sentia prazer em folhear rapidamente as páginas dos livros, próximas ao nariz para sentir o cheiro de livro novo, ou velho. Tanto fazia.
_ Capuccino, senhor? - indicou o garçom do café tentando ser simpático com seu sorriso de comercial de manteiga  - Talvez umas rosquinhas de nata para acompanhar? - confiante de que tinha acertado o gosto do cliente esperou uma resposta afirmativa para rodar-se no calcanhar e fazer o pedido.
_ Não. Um expresso por favor, biscoitos de chocolate amanteigado para acompanhar. - e levantou a sobrancelha em tom de desafio.
Mas o garçom para não perder nem o cliente, nem o dom de adivinhação propôs:
_ Devo trazer junto o jornal do estado e um guardanapo-de-colo branco? - levantou apenas a sobrancelha esquerda. - Senhor?
_ Sim, sim. - e olhou para os pés como uma criança envergonhada, percebeu então que os tênis tinham cores diferentes, envergonhou-se um pouco mais.
O garçom finalmente saiu de sua frente. O que lhe deu maior espaço para observar as pessoas lendo el periodico de la mañana ou bebericando seus cafés, experimentando pães e rosquinhas. Uma atenção especial para um homem barbudo, de óculos redondos e terno risca de giz. Parecia um homem sábio, não bebia nada, estava apreensivo, talvez esperasse alguém, o jornal dobrado em cima da mesa certamente não fora lido.
_ Senhor? - uma pausa - Senhor? Aqui está o seu café. - só então ele acordou de suas observações, precisava escrever as cenas que assistia, como precisava.
_ Ah, obrigada.
O café foi empurrado goela a baixo por imagens aflitas das pessoas na rua, da paciência excessiva dos homens cultos frequentadores de café e da relevância de seus sapatos trocados. Mas agora tinha que ir embora, trabalhar, talvez. Pediu a conta, pagou, com direito a gorjeta para o garçom. Olhou para o colo, pegou o guardanapo assinou seu nome, colocou  data e enfiou no bolso detrás das calças. 

Despedida .

Uma pequena roda de despedida, amigos que o vento decide separá-los e o tempo empurra. A mesinha de centro oferece algum doce e uma bebida fraca batida com outros ingredientes. De um lado, com a cabeça encostada no sofá e a barba notoriamente por fazer o mais descabido dos cinco, à sua diagonal a menina dos seus sonhos com um copo na não, deitado ao colo da menina um outro amigo, tão amigo de todos que o apelidaram de irmão. Aos pés deste, outra menina, o que os junta, sem ela não teriam conhecido um ao outro, ou pelo menos não teriam criado tamanho vínculo. Um pouco mais longe ouvindo Jazz em seu MP5, com camiseta branca e braços tatuados o quinto amigo.
Ao longo de um ano, um pouco mais, um pouco menos... dividiram juntos todos os livros que descobriram, músicas e principalmente analisaram um ao outro, paralelamente o tempo que passava. Um filme roda no DVD, ninguém consegue prestar atenção no idioma russo que ecoa pela sala.
_ Quanto tempo? - o barbudinho interrompe o silêncio - Digo, que estamos aqui.
O MP5 é desligado, como que combinado todos levantam da sala e caminham para a sacada, passos largos e rápidos em busca do melhor lugar na rede. A canil vizinhança pressente algo e começa a latir, como uma competição de qual cachorro late mais alto todos latidos ecoam de encontro com o idioma russo da tv.
_ Eu diria que tenho um estilo meio hippie assim, sou vegetariando, gosto de animais, de estrada, história, comunismo, não faço a barba...ops, mas tomo banho - risadas lentas - o cara lá é El Loco, o cara gosta de Jazz, só usa camiseta vermelha, filme de terror e estas calças largas. - pausa pra observar 'o mano'- este outro chato aqui - apontou pro que antes estava deitado, e agora estava sentado aos seus pés - este aqui, deixa eu pensar... é conquistador né? Fica ai ganhando carinho das meninas, íntimo de todas, escuta uns rock, cara cult, lê muito... - olhou pras duas meninas se entreolhando na rede e fez um pouco de espectativa - o que vocês acham delas?
_ Acho gente fina, olha vou falar aqui desta de cá - e pegou no pé da primeira - gatiiiinha que só, animadona, engraçada, gosta de brigadeiro, pipoca e sonha em ir pra Suiça. Agora a outra? Conheço muito, mas não sei o que falar, gatinha também, claro. - o olhou pra outra pessoa completar.
_ Ela tem um estilo não nomeável né? - comentou um - Algo do tipo...
_ Alternativo, meu estilo é alternativo...- pausa - eu vou alternando entre um e outro.
_ Principalmente quando falamos de música, né?
A chuva os tirou da varanda, da casa. Em abraços concluiram a despedida.
Dois ou três dias depois, a menina "do estilo alternativo" recebe um telefonema, quase anônimo:
_ Qual a trilha sonora de hoje? - e a chuva voltou a cair.  

O que me leva até você

O que me leva até você
Também me leva ao ao outro lado da rua
Me leva a ficar de noite vendo a lua
Me trás de volta também
Como pode ter em você
Tanto devaneio quanto na bebida
Que tomava quando me tomou você
E alguém nunca irá dizer
Que o brilho dos meus olhos
Foi em vão quando encontrei você
Minha doce solidão se foi
Agora de só, é só você

El Drama del Punto

Minha cabeça funciona vinte e seis horas e uns minutos a mais por dia. Quando ela não esta concentrada em uma conversa, em roer as unhas ou criar impulsivamente exercícios de geometria, ela certamente esta moldando um personagem, rimando uma palavra, ou observando literariamente um objeto da casa.
Antes de começar a escrever eu procurei ler bastante e percebi que muitos textos alheios pareciam se encaixar com minha vida, mesmo quand contavam uma coisa incomum de acontecer, uma cena da infância e pronto parecia ser a minha vida ali exposta por alguém que eu nem mesmo conhecia. Então, quando comecei a escrever eu tinha certeza que alguma das histórias que eu simplesmente criasse podia ser perfeitamente idêntica, ou pelo menos próxima, à uma história real de alguém que acidentalmente viesse a ler meus textos.
Foi ai que escutei que "aquele texto Cena Involuntária, aconteceu comigo também". Enfim, ta aqui uma história parecida, mas narrada por Eduardo... e ao contrário da minha, é uma história real.

*O texto foi revisto e reeditado por mim.

Uma dessas cenas que você vê, até presta alguma atenção, mas ao acordar no dia seguinte nem se lembr mais... até que um dia alguma coisa te faz lembrar.

Teve um dia, a uns três ou quatro meses atrás, que eu estava esperando o ônibus da presidente, de meia noite, na rodoviária nova de Caratinga.  Havia um casal lá, jovens, por volta dos 19 ou 21 anos, simpáticos até, mas jovens... ela, tinha os olhos cheios d'água era visível já havia chorado um balde e outro parecia estar a caminho. 
Ele, um dos tipos que eu odeio avistar, só pelo avistar: mistura de universitário festeiro que frequenta diesel*, com filho único de pais não separados mas que vivem para trabalhar apenas, só existindo como casal enquanto dormindo no mesmo quarto.
Os dois estavam sentados num dos 6 ou 7 pares de cadeiras que mal existem lá. Eu estava em pé, não só por falta de opção como também por vontade. Eu não estava observando diretamente a cena, mas quem conhece o local há de concordar que, ás 23:45Hs  de uma quarta ou quinta-feira qualquer de outubro... não se tem 
muito lugar para onde olhar (e que dia é diferente ?...). Olhar aquela cena, mesmo que assim meio de lado, era quase a única opção além de fechar os olhos, e por Deus!!  Uma garota quase chorando chama a atenção mesmo !!!        
Então, ela havia chorado. Na verdade ainda estava, mas agora contida, de cabeça meio baixa, ouvia o rapaz falar e apesar de que em nenhum momento pude ouvir o que diziam, eu olhava para seus rostos e lábios tentando uma pesca esportiva de palavras soltas que me tirassem a curiosidade crescente. Nada. Nem um "eu odeio você". Mas eu nunca gostei de pescar mesmo e o rapaz falava cada vez menos. Ela no entanto, pelos gestos, parecia tentar se explicar a ele, o que me trazia a precipitada conclusão de que ela teria feito algo de errado. 
Mas isso dava motivo ou razão ao rapaz, o que eu não queria, porquê o sujeito fazia o tempo todo uma irritante cara de menino pirracento que não ganhou o brinquedo que tanto queria. Ele estava gastando todo aquele tempo fazendo manha, ou o clássico "beicinho", ou o que eu chamo de 'beicinho de espírito', que é o beicinho sem beicinho, porque contém apenas a intenção e não o gesto.
O tempo passando, eu tentando não me importar, e a coisa só ficava mais gritante...
Houve uma hora em que os dois quase falaram ao mesmo tempo, num recomeço de discursão, mas aí o rapaz virou a cara e se calou como quem fica sem boa resposta imediata e tenta ganhar um tempo para pensar em qualquer coisa e contra-atacar, e deixava a moça sobrar no vácuo falando sozinha ou com a parte detrás da orelha direita dele. Depois disso, se me lembro bem, ele se levantou, tinha algo nas mãos, talvez uma latinha de refrigerante ou um mp4, mas não lembro o que agora.
Ele ficou ali por perto, de costas para ela, olhando por um momento para o portão por onde entram os ônibus. Era ele a esperar o ônibus, era dele a bolsa no chão, perto dos pés da garota. 
Lembro agora (estou lembrando enquanto escrevo) que nesse momento em que ele ficou em pé e ela sentada no mesmo lugar, que eu já tinha me esquecido de disfarçar minha curiosidade, já estava tão envolvido com a cena que, quando ela por meio segundo olhou diretamente pra mim, tomei um susto. Me mexi, andei, lembrei de respirar e mudei de lugar, deixei de olhar por um tempo.  
Então o rapaz voltou para seu assento, havia recuperado as armas, deve ter achado alguma resposta, voltou e recomeçou a falar.
Vi que o tom de vóz e os gestos eram mesmo de quem acusa. Agora sim eu não gostava do cara, porque a garota já estava se acalmando e lá ia ele  ressuscitar um defunto que já estava a caminho da cova. Por toda aquela dramatização que ele estava fazendo alí, minha coclusão já estava tirada, era ele o culpado. 
Não sei do quê, nunca soube, mas só poderia ser ele. Sei reconhecer  um 'drama' quando avisto um. Ele fazia pose demais de prejudicado para realmente ser um. Devia ter feito algo de errado tipo traição, e agora ainda estava a jogar na cara dela que era culpa dela mesmo, que ele só tinha feito aquilo, por isso isso e aquilo, pequenas miudezas do passado que ele guardara com carinho para um dia se vingar.
Ela continuava com cara de errada na situação, e tentava desesperadamente encaixar uma frase em qualquer intervalo que aparecesse no discurso inflamado-silencioso do rapaz. A essa altura dos acontecimentos o ônibus da presidente já tinha encostado, os que iam embarcar se aproximavam da porta e como o casal estava sentado alí perto minha visão foi bloqueada.
Não pude vêr se ela conseguiu dizer mais alguma coisa, nem se isso fêz alguma diferença, porquê aí veio o pior, o imperdoável, ela ainda falava quando ele se levantou, pegou sua bolsa, e esperou ela levantar também, como quem diz: "aah tá bom, cansei, não quero mais saber. Levanta." Ela se levantou. E então ele deu um beijo rápido nela, desses de despedida apressada, encerrando a quase conversa, matando o defunto morto, que ele mesmo tinha ressuscitado minutos antes. 
A cena acaba com ela indo embora, e ele subindo no ônibus, com uma invejável cara de despreocupação, como se nada tivesse acontecido ali. E eu, ainda acho que o culpado era ele. Se não por algo que tinha feito antes dalí, ao menos era com certeza culpado por fazer uma moça chorar em público por qualquer motivo besta que não era culpa dela, por não ouvi-la explicar o que nem precisava, por ser ele e ter feito aquela cena toda e, o mais absurdo, por se despedir daquela forma descarada, como quem diz:
"_ Tudo bem, eu te perdôo. Mesmo que você não saiba do que estou falando, mas eu sei. Por um minuto eu estive perto de perder a pessoa que talvez seja a melhor amiga que eu possa ter no mundo, certo que você nunca vai entender o que se passou aqui hoje. Mas por um minuto eu pensei melhor e..."*

Bom, é isso, foi o que eu vi...
Depois eu entrei no ônibus, ele também entrou. Não soube para onde ia, mas não era para Ubaporanga.  Pela bolsa o mais certo é que  ia para BH, mas se ia ou se voltava, eu não sei só lembro agora que, com algum humor pensei: ' Talvêz fosse culpa dela mesmo, por ter esquecido de colocar o par de meias preferido dele na bolsa. Isso sim seria um drama."

edo...

* Diesel - única boate de Caratinga, freqüentada por Playboys, apenas.
* "..." - forma como conclui o texto que fez o Edo lembrar deste...
* Título original de Eduardo.

Comentário de Lílian:

Talvez a pazinha do sorvete que tinham tomado antes de se despedirem não era azul. Isto implica sérios problemas.

Para-chuva

Cheguei em casa ensopada de chuva, a primeira coisa que vi foi o guarda-chuva do meu pai aberto na garagem, com o intuito de secar, focalizei bem a imagem do guarda-chuva. Subi as escadas e entrei para o banho, vinte minutos depois estava lá eu gritando minha mãe:
_ Mãe, pega minha toalha pra mim?
_ Onde tá?
_ Dentro do meu guarda-roupa.
Enfim, sai do banho enrolada na toalha, era uma toalha verde... só gosto de toalhas brancas, no máximo aquele "creme" (tudo bem, não sei nome de cor). Atravessei a casa entrei no meu quarto fechei as cortinas e deitei na cama com a maior preguiça do mundo de trocar de roupa. Passei um longo tempo olhando pro teto do meu quarto, e ele é cheio de estrelinhas, às vezes fico tentando contar.
Enquanto isto, ouvia o barulho unisono da chuva caindo lá fora, com um ventinho passando e arrastando as folhas no chão, comecei a imaginar quantas pessoas teriam esquecido o guarda-chuva em casa e estava se molhando. Neste momento começo a pensar duas coisas, nas pessoas sem guarda-chuva e : "guarda-roupas? Um armário onde você pendura suas roupas. Guarda-luva? Um lugar pra guardar as luvas (embora só guarde documentos), o guarda-chuva não guarda a chuva. Não deveria ser para-chuva? Asssim como para-raio, ou para-brisa, ou para-lama...
Tudo bem, levantei da cama na esperança de escrever um texto sobre isto, algum gramático ler e me parabenizar pela observação e mudar a palavra, aliás já estamos mudando a gramática mesmo, só mais uma palavrinha quase não faz diferença. Mas, por precaução resolvi dar uma pesquisada no assunto primeiro.
Troquei de roupa pensando nisto. Liguei o computador e fui buscar um dicionário, como eu nunca acho as coisas que preciso, abri meu dicionário 'priberam' na internet 

substantivo masculino,
armação de varetas móveis, coberta de pano, para resguardar da chuva. 

Aah então é isto, vem de resguardar. Mas eu não ia me dar por satisfeita, entrei no google tradutor e comecei a procurar alguma lingua mais sensata e finalmente francês: parapluie.
Mais duas horas de reflexão, até que a chuva lá fora acabou.

Como não sei desenhar achei esta imagem no google, dizem que tem um poema escrito ali. Eu só não tive paciência de ler, até porque tá cortado. Se alguém quiser ler clica na imagem pra ela ficar grande suficiente.


Aliás, só esta semana já descobri 4 pessoas que lêem meu blog e nunca postaram nenhum misero comentário. Eu preciso saber pra que quantidade de pessoas eu tô escrevendo... assim não rola gente, comenta aí pô.

Pazinha Azul, agora em cores

Dentre meus textos que eu mais gosto: Pazinha Azul. E pra não sair da tradição, ele acabou virando um mito pra mim e não sei como fui acreditar no poder da pazinha azul, talvez eu esteje até atrás de uma, vou passar na Amaretto pra pegar!

Nenhum presente mais digno que uma perfeita ilustração de pazinha azul!
Desenho do Edo.


Cena Involuntária

_ Tudo bem, eu tenho mais duas horas até pegar aquele ônibus, prometo nunca mais voltar aqui, nunca mais olhar na sua cara, não vou telefonar, mandar nenhum tipo de mensagem, muito menos perder meu tempo chorando por você. - os olhos dele eram aflitos, observava todos os lados como se estivesse procurando alguém, ou com medo que alguém estivesse ouvindo a conversa.
_ Eu não te entendo, do que você tá falando? O que foi que eu fiz? Me explica o que aconteceu.
_ Você sabe o que aconteceu, fica me olhando com esta cara de desentendida. Você me prometeu que não ia fazer aquilo comigo, que ódio de você, que ódio de ter confiado em você. Eu realmente pensava que você era minha amiga.
E ela parecia tão apavorada não sabia o que fazer. Insinuou um abraço várias vezes, sem que ele percebesse, e quase saiu correndo quando ele jogou a lata de refrigerante na parede com toda a força. Fiquei pensando se ele não se arrependeria depois.
_ É o seguinte, eu não sei do que você tá falando, odeio quando você fica fazendo mistério e drama ao mesmo tempo, eu não sei o que passa pela sua cabeça se você não fala. E ficar contraindo os olhos assim não envia a informação pra mim. Se quer pegar este ônibus e nunca mais olhar na minha cara pode ir, mas eu juro que queria uma explicação.
Ele riscou o chão con tênis, ficou olhando para baixo um tempo. Depois abaixou amarrou o tênis e saiu de perto dela. Com certeza, assim como eu, ela não estava entendendo nada e queria saber onde ele ia. Vi ele sumir lá na frente, quando voltou tinha um maço de cigarros na mão e já veio falando:
_ Tudo bem, eu te perdôo. Mesmo que você não saiba do que estou falando, mas eu sei. Por um minuto eu estive perto de perder a pessoa que talvez seja a melhor amiga que eu possa ter no mundo, certo que você nunca vai entender o que se passou aqui hoje. Mas por um minuto eu pensei melhor e...
Um abraço, foi a última cena que eu vi. Depois entrei no meu ônibus e não sei o fim da história, é talvez eu queria saber.

Esquina


Talvez fosse mais fácil ser aquela que nunca fui: o outro lado, meu oposto. Afinal, é difícil ser a antagonista da própria história. E quem sabe se eu não comparasse tanto, não pensasse tanto, se eu escrevesse menos; quem sabe assim conseguiria eu acreditar em saudade, em amor ou em desculpas.
Fosse eu menos egoísta comigo mesma, aprenderia a gostar das outras pessoas e sentiria minha pele ferver menos com as coisas pequenas que não faço. Mas se eu fosse assim deste outro jeito, admiraria de longe os que conseguem ser insensível suficiente para ignorar o resto da cidade.
Certo que vejo duas cidades, em dois tons. De um lado a cidade colorida demais, sorrisos demais, pessoas demais, idiotice demais pra eu absorver. Subtraio. Contraio todos os músculos ao passar por ela. Enquanto isto, sob a divisão de uma calçada o outro lado da cidade tem tons cinzas, exatamente pra não observarmos seu humor e sim seu valor, os detalhes, observar o poste colocado um pouco torto à esquina e o mais importante, perceber que a esquina nos dá a opção de entender que a rua acabou, e voltar. Ou acreditar que depois daquela parada a gente vai dobrar a esquina e nos dividir entre os dois tons da cidade, seremos dobro.
Adoro minha cidade cinza, com rios sujos. Na cidade cinza as pessoas não sorriem quando se conhecem, sorrisos são reservados apenas para os mais intímos, pra não dizer os mais importantes.

Então a solução é dormir até mais tarde, pra ficar acordado até mais tarde e passear sob a luz dos postes, ninguém está na rua. Você está, eu também. E podemos ficar horas parados na esquina observando ela se dobrar, o poste cansa de ficar parado a frente da esquina, mas ele não entende que esquina não tem frente, esquina tem diagonal.
Talvez depois de duas horas observando a esquina a gente consiga perceber que ser pista reta cansa. A pista reta torna-se inquieta ao perceber que por mais que faça força um horizonte some lá na frente sem que ela consiga explicar o porque deste tal negócio de perspectiva. A esquina não se cansa, a esquina olha para um lado e para o outro, as vezes em diagonal também. E quando cansa de pensar porque não consegue ver além, ela troca para o outro lado.
É um olho dividido em duas metades, e não como os animais que têm um olho pra cada metade. A esquina é mais humana que todos nós.

P.S: Quando postei esqueci de falar, é pra ler ouvindo Línox - Tons da Cidade (lembrei a tempo?)




Escrevo, logo não choro.

Você começa a perceber que algo está errado quando sua vó conta o mesmo caso duas vezes, seu cachorro não pula na perna da visita, seus pais não dormem na mesma cama e sua fronha não pára no travesseiro.
Será envelhecimento precoce quando você tem paciência para assistir um filme inteiro até duas da madrugada sem reclamar da nostalgia? O nome desta paz e vontade de dormir até mais tarde é falta de energia? Quem está morrendo: você ou alguém do seu lado?
Se o sono começa a ficar leve e qualquer chuvinha fraca te acorda na cabeceira da cama, quer dizer o quê? Não quer dizer nada demais, você está chegando ao lugar de onde veio, de onde certamente não deveria ter saído. Seu tempo começa a retroceder, músicas antigas, livros antigos, você se volta à família e se cansa de revoltar. O nome disso é amadurecimento? Não, certamente continuo na minha eterna infância.
Quando você se alegra porque os bebês aprendem falar seu nome direitinho, tudo parece tão, tão infeliz. Seus sorrisos duram poucos segundos, e é difícil gargalhar ou manter conversas longas. Seu novo hobby é procurar palavras no dicionário e, ou, sair do quarto as 6 da manhã, sem dormir, dizendo que acordou cedo demais.
Sintoma de férias? Preocupação? Retroceda ao seu passado, machuque todo mundo pra buscar os velhos amigos que você já não quer mais, depois jogue-os fora dentro de meia hora. Magoe a própria mãe, nada faz chorar. É estranho ser insensível. Por quê tá todo mundo chorando? Uma mágoa irrompe dentro de você, mas quais nervos eu tenho que comprimir pra fazer isso escorrer em lágrimas?
Desculpe mas eu não sei chorar. Então escrevo.

De 2008 à 2007. Um feliz ano pra você(s).

Pesquisa

04/08/2009

No final de 2007 eu perdia o sono semanalmente pensando em algum texto. O cansaço físico me impedia levantar da cama para anotar os poemas, textos e frases que vinham à cabeça. Criei então o Segundo Lílian, em Junho de 2008. Postando anotações feitas na madrugada, sonhos rememorados na manhã seguinte, inspirações do meio do sono vespertino. Sem habilidade de escrita tive um blog trágico, perdi meus leitores e a vontade de escrever.
No final daquele ano resolvi criar o Insônia Registrada. Já que todos meus textos eram decididos durante a insônia, ou me tiravam o sono. Era um novo blog, pensado diferente, com novo tema, nova forma de escrita, novo visual - que já foi modificado uma dezena de vezes - além de agora um período de vida bem mais traduzível em letras.
Hoje, o blog já virou um vício. Textos, links, vídeos, descobertas, lembranças... tudo vem pra cá. Tirando o sono de quem lê também. Tamanho vício me levou a criar um blog de esportes, um de filme, participar brevemente de um blog de humor e me fez até perder a vergonha do Segundo Lílian.
Porque segundo Lílian, a insônia será registrada.