Eu não sou eu


Eu deveria saber que não sou eu o ser mais próximo de mim mesma, eu sou eu e o contrário desta frase diz o mesmo, porque não tem contrário em ser eu. Ou tem? Não ser eu seria ser outra pessoa? Mas esta pessoa passaria a ser o meu eu e eu ainda seria eu, e se tenho base tão forte em mim, faria daquele outro eu um reflexo perfeito e não inverso do que sou hoje.
Quanto a ser próxima de mim eu não sou, me perco no distante no vazio que mora em mim e viajo por lagos e mares estatelando-me em pensamentos inuteis que me faz por um segundo estar tão distante e tão distante que deixo o meu corpo desalmado, uma viagem cósmica (ou quase isto).

Semáforos que se enaltecem tornando-se três marias, umas constelação verde,vermelo e amarelo. Cores que me rodeiam por toda a parte, seja ela o inteiro ou só uma parte.
E nada disso faz sentido, é tão estranho, e tao óbvio mas eu me perco comigo. É como se não tivesse nada abaixo da minha cabeça, tudo é mais alto, tudo é mais esperançoso e derrepente um baque, um tropeço, uma queda, queda livre. "Abaixo, sempre sul é a direção".
Tudo bem se minha mente é fantasiosa, se me convenço fácil pelos livros, ou sou difícil para os amigos. Tudo bem uma ova, tá tudo errado, atrapalhado, deconfigurado, preciso de pé no pedal, correr mais, acelerar o que posso, passar o próximo (obstáculo). É tão ruim ser alguém reflexivo e alguma coisa me diz que é mais fácil saber a idade exata do planeta que tentar entender a minha cabeça. Talvez seja por isto que já existiu bilhões de pessoas pesquisando origem da Terra, e nenhuma se quer procurando me entender, confesso que nem eu.
Pra que entender, quando a ciência é exata? Mesmo que eu entenda por que eu gosto mais de chocolate preto, vai continuar sendo assim, vou continuar comprando chocolate preto, e se eu não entender também dá na mesma. Então: pra que preocupar em me entender?
Eu não sou eu. Se eu fosse, não estaria aqui.

Pases 2ª etapa e seus efeitos corrosivos

Dois dias de prova, duas novas piadas, três crises de falta de humor, meio livro de Decartes, dois capítulos de Quando Nietzsche Chorou, três elogios quanto a minha capacidade mental e um novo apelido ofensivo.

Também não vejo muita importância nisto, o bom foi o poema nada a ver que eu fiz e fez sucesso:

As vezes acredito
Que é impossivel ser feliz
E quase faço o que me diz
Eu até tento encontrar no vão
Algo que não pareça ilusão
Mas eu nunca acho
E a cada dia
A vida parece mais igual
Eu descubro
Ninguém é o tal
E é mão na roda
Pé no pedal
Dá o fim
Pro meu começo
E eu quase me esqueço
Que eu não sei
Se eu mereço
Mas eu acho que não

Observação básica que o poema está escrito em cima de um bilhete exatamente assim:

LIVIA - LILIAN
FAVOR CARREGAR
(algum espaço para outra anotação com a mesma letra)
3ª4ª 9:00
3ª 5ª 18:30

não tenho nada de bom nem inspiração, beijos até ano que vem

Pazinha Azul

03:52 - 25/12 - adoro natal [/ironia]

Desde que vi aquele cara falando "estamos procurando a todo momento sentido nas coisas, sentido em viver, sentido em tudo... e as coisas quase nunca fazem sentido (...) temos é um excesso de imagem, todas querendo nos vender algo, se pudéssemos ver só o que fosse marcante, o que fosse pra ver(...)".
Sim, se pudéssemos ver só o importante, e ficássemos cegos o resto do tempo... correria o risco de algum segundo fazer sentido. (um estrondo, deve ser foguete)
Que sentido tem essa minha vontade de fazer as coisas que passam pela minha cabeça? Me sinto infantil pensando isto, tudo bem: EU SOU infantil.

E talvez, se a pessoa mais importante... não familiar, não profissionalmente. Mas o diário ambulante, aquela pessoa pra quem você conta seus sentimentos ocultos, que você insiste em esconder até pra você mesmo. Se esta pessoa sumisse, deixasse de existir... tudo tornaria um tédio e você não teria a quem contar nada, nem faria força pra ter o que contar. E num dia qualquer de outono, ia sair pra comprar um sorvete de duas bolas, uma de coco e uma de morango. E você não gosta de sorvete de coco com morango, coco é enjoativo, morango só com calda de chocolate. Mas não tem calda de chocolate, é só sorvete de coco com morango. Depois de tomar o sorvete pensando essas coisas ridículas que a gente pensa quando não tem o que pensar, você limpa com todo cuidado do mundo a pazinha azul do sorvete, limpa no guardanapo, na barra da camisa... tira uma caneta de cima do balcão da sorveteria, anota seu nome, a data e guarda a pazinha dentro da carteira. Agora, por mais lúdico que seja, sua vida faz um sentido. E aquela pazinha significará tudo pra você, todos os verbos que você praticar.
Até seu último dia de vida, não se cansará de olhar pra pazinha azul e chorar coisas que você não entende, levará ao túmulo, se não tem a pessoa pra quem contar seus segredos, tem uma pá pra enterrá-los, enterrá-los todos.

Você volta pra casa, satisfeito com o sorvete. Entra no banheiro pra chorar, não mora ninguém com você, mas precisa se esconder do resto da casa. O banheiro parece perfeito, sempre é. Quando vai sair a chave quebra na fechadura, impossível sair. Tira o celular do bolso, liga para o chaveiro, são três da madrugada. O chaveiro enrola muito antes de vir, às cinco horas ele consegue entrar na sua casa e abre a porta do seu banheiro. Com muito sono e preguiça você lança um sorriso de agradecimento, e vai pegando a carteira pra pagar o chaveiro. Sorrindo também ele diz:
_ Se soubesse que tinha um sorriso tão lindo, eu teria vindo antes.
Agora você tem mais um sentido na sua vida, todos os dias sorrirá para o espelho, e acreditará que seu sorriso pode resolver problemas. Você pode solucionar o mundo e acredita nisto.

No dia seguinte, quando acorda bem tarde resolve abrir a caixa de correios, e num fluxo perfeito. Certamente com a melhor fotografia de um cinema polonês, você descobre um bilhetinho amarelo, letras prateadas e arredondadas.
Eu te amo mas quero que continue a me odiar. Apenas estou cumprindo com o que lhe prometi. Fim:

Como assim? Fim e dois pontos? Isto indica que tem continuação? Que tem observação? Esqueceu de escrever o resto? Era um ponto e o outro foi sem querer? Dois pontos? Dois pontos?

A pazinha! Você recolhe ela do seu bolso, olha-a fixamente. Uma lágrima escorre: pra você faz sentido.

Queda livre

Se a gente ta aqui no alto
A gente ainda vai cair
Então aproveite o momento
Veja que está no ar
Agora, no alto, em alto mar
E me dê a mão

Quando a gente estiver lá em baixo
Me abrace e diga que não
Não, não acredita
Que estivemos juntos, sufocados, mais um verão

E se é pra descer
Me dê a mão
Vamos juntos
Vamos livres
Abaixo, sempre sul, é a direção

Não nos querem de mãos dadas
Querem um soldado a mais na guerra
Uma menina a mais no balé
Mas a gente pode remar contra a maré
E só você sabe do que é
Que eu to falando
E é sempre sempre assim como é
Quanto tá tudo certo
Tudo em paz

A gente vai descer
Se segura
Soltaram os freios
Em queda livre
Um segundo só pra respirar
Nenhum pra pensar
Pra te abraçar
É só cair

E quando estiver lá em baixo
Não terá mais medo
Nem segredo
Só algum metro pra subir
Não vamos entrar em pânico
Sempre o alto, sempre o norte
Nossos pés seguirão
É inverno, o vento é forte
No inferno da estação
Lá em baixo é tão dificil
E eu vou olhar nos seus olhos
E eles nos ajudarão a subir

Ela nascera com maus antecedentes e agora parecia uma filha de não-sei-o-quê com ar de se desculpar por ocupar espaço.
(Clarice Lispector no livro A hora da estrela)
Comigo parece ser sempre assim, personagens simplesmente nascem. Sinto fortes dores de cabeça: é a bolsa do parto de idéias se rompendo, uma frase é lançada ao caderno de cabeceira. Um novo personagem se descorre por algumas semanas. E depois não sei se escrevo ou interpreto.

Vou ter um ataque de nervos
Vou ter, sinto minhas veias pulsarem
Vou ter um ataque, mas antes eu ataco
Quero um downer, um down
Estou ficando maluco
Camisas de força, por favor
Qualquer coisa
Vou ter um ataque de nervos
E me jogar do sexto andar
Deus me proteja
Vou ter um ataque de nervos

(Cazuza - Ataque de Nervos)

Sim, meus personagens me atacam. E eu os ataco. No fim o provável: um ataque de nervos.
Estes devaneios que chamo de personagem são parte de mim, mas não me são inteiros, é estranho. Têm algo que eu não tenho, queria ter, tenho medo de ter, odeio quem tem, são amáveis. Sou psicóloga de todos meus personagens, nossos relacionamentos nascem sempre através da informalidade, um joguete de palavras. Ninguém pede pra vir ao mundo, simplesmente nascemos. Mãe são quem concebem e os pais, ah os pais não sei bem a respeito. Sou mãe, de tudo que escrevo (de todos meus personagens [e desculpe a repetição da palavra]).
Então apresento meu recém-nascido Bilddere A (sim, é um anagrama).

Anotações de Bilddere A.

(13 horas, Brasil, algum ano terminado em oito, ou outro.)
A estrada me parece ser somente a entrada pr'essa tal de liberdade.
E quem disse que fora de casa estamos livres? E fora da prisão então?

(19 horas, Brasil, algum ano começado em dois, ou mais)
Descartes conseguiu chegar a conclusão de: o que existe?
Ah lembrei: Existo, logo penso.
Não não, o inverso: Penso, logo existo.
Minhas anotações não pensam, existem?
E meus pensamentos?

(08 horas, Argentina, dois zeros no meio de um ano)
Década de 50 - transições pós-guerras
Década de 60 - revoluções sócio-culturais (mais culturais)
Década de 70 - Rock and Roll
Década de 80 - Punk, "fim" da idade industrial
Década de 90 - Fim da Guerra Fria, ressaca cultural dos anos anteriores
Década de 00 - nada de mais
2010, 2011
2012 - Segundo os Maias, o mundo acaba.

(17 horas, Lugar Algum, 2008)

Você não pode estar tão cego(a)
à ponto de não perceber
Estou indo embora
Por você!

(17:05, Aqui, década 00)

Close your eyers
Listen me, please

Me dê a mão e aperte forte
Depois, um abraço e boa sorte
Ei, eu vou pra longe
E posso não voltar
Seu abraço de agora
Pra sempre me acolherá
E eu vou andar sem fazer a barba
Lembrarei sempre de sorrir toda pela manhã
Levarei teu brilho comigo
(Te guardarei do peito ao umbigo)
Pra bem longe, eu vou estar
Mesmo que a gente nunca mais se veja
Te verei pra sempre em meus olhos (nos meus sonhos)
Nas costas, todo o peso
De nunca mais voltar
Mas par sempre eu vou estar

Riscos

Tenho que correr os riscos. Eu quase nunca me arrisco, este é o perigo.

Quando atravesso a rua pela manhã corro o risco de torcer o pé e me machucar. Mas é tão inconsciente que eu nem penso duas vezes entre um passo e outro. Se tropeço nem vejo, no final do dia lembro que andei de um lugar a outro, nunca lembro se tropecei, quantas vezes torci o pé, de quantos em quantos metros parei para amarrar o tênis.
Queria ser assim com o resto todo, me arriscar para todas as outras coisas. Escrever um pouco mais sem tremer tanto com os erros ortográficos, estudar um pouco menos sem perceber o risco de não passar no vestibular, no fundo... bem no fundo eu estaria aprendendo bem mais. Não com o consciente ligado, o consciente atrapalha, me coloca tanto pra pensar antes de um ato, que perco o tempo de praticá-lo.



Feliz Natal papaii noel!

Pisca-piscas pela cidade, bolas vermelhas nas árvores de natal, os sapatinhos atrás da porta, velhos gordos contratados em atacado pelos shopping centers para servir ao menos uns dias de papai-noel.
O capitalismo devorava décimos terceiros como um esfomeado com úlcera, o consumismo sobe a flor da pele, toda a classe média comprando presentes pra amigos, namorados, família e filhos. Beatas começavam reuniões por toda a cidade, e como sempre fazem em todo o natal, abre-se a bíblia e inicia-se então mais uma novena de natal, elevam suas almas a Cristo e pedem renovação, renascimento, quase a mesma ladainha do domingo de páscoa. Perus engordados o ano inteiro com ração cheia de trangênicos cacerígenos vão sendo degolados aos montes e entregues aos frigoríficos, para matar a fome do consumismo.

Lá no fundo de seu casebre dividido ao meio com os cupins estava o único homem realmente isento de toda a parafernália do Natal, talvez o segundo Gepeto dos contos infantis: Getúlio, um velho barrigudo, de pele rosada, barba longa e cabelos cacheadinhos. Quase um papai-noel. Nunca comemorou nenhuma data religiosa, para ele Jesus foi um líder religioso e nada mais, se fosse comemorar o nascimento de Jesus, faria-se necessário comemorar também o de Maomé, Buda, Gandhi e tantos outros.

Eis que encontrava-se ali o único homem que sabia verdadeiramente equilibrar o comunismo que sonhava com o mundo capitalista lá fora. O fato é que mais uma vez sua aposentadoria não tinha suprido seus gastos durante o ano, por mais que não gastasse muito. Mais uma vez se subordinaria aos vicíos natalinos e arrumaria um emprego qualquer de papai noel em um shopping destes.

23 de dezembro

Estava sentado em frente à lindas vitrines de vidro, enfeitadas com pisca-piscas. Aos poucos a fila de crianças para tirar foto com o bom velhinho diminuíam e sua transpiração aumentava mais a cada segundo. Lembrancinhas para crianças, beijinho na bochecha, tapinha nas costas e um leve: ho-ho-ho feliz natal.
O que ele realmente não entendia é porque o papai noel de um país tropical, em meio a um calor infernal usava roupas de inverno como se estivesse em meio à neve dos países do norte. Ah sim, era mais uma influência capitalista, norte-americana. E mesmo que tantos anos se passassem ele podia ser visto sempre na mesma cadeira abraçando crianças da classe média em véspera de natal, mas nunca se acostumava.
_ Sim, todos os anos a mesma coisa. O máximo que muda são as rugas, sempre aumentam.
Onze horas, informou as badaladas do sino de um presépio em tamanho real que fora posicionado à 20 metros atrás dele. Olhou com calma para os lados e não avistou nenhuma criança tentando chegar a tempo de uma foto. Levantou-se com bastante dificuldade, pegou o saco de lembrancinhas no chão jogou nas costas e foi andando para a diretoria do shopping, receberia o pagamento e um "até ano que vem". Depois de tudo acertado, e um fogão de brinde pelo 10º Natal em parceria com o mesmo shopping, saiu de lá afim de pegar um táxi e acordar só no dia 26.
_ Você não é papai noel.
Olhou para os lados, tentando entender de onde vinha a vozinha doce.
_ Oi?
_ Você é o papai noel?
Olhou de novo e não viu nada.
_ Quem está aí?
_ Quem mais seria? Te escrevo todos anos desde que aprendi à escrever, não é capaz de me reconhecer?
Tentou tirar de si todos argumentos que teria um papai noel para não reconhecer uma criança específica.
_ Me desculpe garoto, mas não posso te ver, como vou me lembrar quem é?
Saiu de trás dos carros um menininho sujo, com um saco de latas nas costas e o olhar de criança com fome na França Socialista.
_ Agora sabe quem sou?
_ Claro que sei, você é o mais especial de todos os meninos neste natal.
_ Vai ao menos me levar o presente que te pedi?
Revirou os bolsos e encontrou, por sorte, um último brinquedinho..
_ Toma.
_ Não te pedi um super-homem. Te pedi pra ser um.
_ Mas eu sou apenas um velhinho que gosta de crianças, não tenho super poderes.
_ Você nem se lembra o que te pedi.
Getúlio não entendia de forma alguma o que queria a criança, precisava urgentemente arrumar uma saída. Odiava ter que mentir lá dentro do shopping, aqui fora então era como se estivesse sse suicídando aos poucos.
_ Onde estão seus pais?
_ Te disse que não era papai noel coisa nenhuma.
_ Hoho, sou quem então? Vovô noel? Nesta minha i...
_ Você é um empregado deste shopping fedorento em que não me deixam entrar. Se você fosse papai noel de verdade iria me visitar a meia-noite de amanhã e traria meu pai de volta.
Depois de mais algum tempo de conversa, viu que o menino tinha razão sobre tudo que falava, era pequeno demais pra saber tanta coisa, para ouvir o que ele tinha a dizer também. Não se sabe como, mas algo o convenceu a levar o garoto pra casa, dar um banho, um prato de comida e quem sabe uma cama quente.
Duas horas mais tarde, o garoto estava jantando à mesa de sua casa. E Getúlio percebeu que não sabia nem mesmo o nome da criança, e resolveu perguntar com muito medo de ser atacado pela genialidade infantil do menino cheio de curiosidades de novo.
_ Qual seu nome?
_ Francisco, pensei que soubesse.
E o tilintar de talheres rompeu com a conversa. Deu um abraço no garoto, depositando nele todas suas últimas esperanças de vida, as esperanças de um papai noel de shopping, de um velho comunista que sonhava com sociedades alternativas e devorava livros de Marx.
Deitou o menino na cama, deu-lhe na testa um beijo de boa noite, o ar quente que saía das narinas de Francisco assustou-o, e com um leve tropeço para trás acordou o garoto. Só teve tempo de ouvir:
_ Sabe papai noel, pensei que nunca me daria um pai. Agora tenho um, e é incrível que para mim todos os dias agora serão natal, obrigado papai noel, muito obrigado. Feliz Natal!
A exclamação de fim de frase, foi a última coisa que teve tempo de ouvir, sentiu seu coração acelerado ao ritmo de canções natalinas e depois não ouviu mais nada.
A maioria conta que avistou uma luz branca, uns falam que seguiu até ela e foi recebido de joelhos por Jesus, outros contam que viu a luz mas nunca seguiu até ela, continua vendo branco. Mas o menino Francisco sempre disse que ele ainda ouve canções natalinas e mesmo que ninguém perceba, passa pelo shopping todos os natais, pra rever na vitrine alguma miniatura de super-homem.

Eu não quero amar deste jeito
De quem finge não ver defeito
Não levo o menor jeito
Pra este negócio de amor

Não quero acordar acompanhado
Construir uma vida lado à lado
Pra depois me separar

Quero acordar sozinho
E ter pra quem telefonar
Odeio vida fácil

E não tem graça
Se não precisar te procurar
Não é medo de largar a boemia
É medo que seja sempre minha
E eu não saiba cuidar

Baby, me desculpe mas eu não quero me casar.

Começa no pé e termina lá no galho

Todo humano é santo e pode amar, sim.
Cazuza

Posso até acreditar que o poeta está vivo em seus moinhos de vento, caminhar três vezes por cima do mar sem ter a quem perdoar. Posso até me fazer de santa, posso até amar. Mas nunca me pessa pra parar de chorar com as rimas de "e não me importa que mil raios partam", quem viu a Bete balançar.
Posso reler o livro "Só as mães são felizes", três mil vezes e outras mil. E não me cansarei de chorar ao fim do primeiro capítulo, é triste e real demais pra uma de mim só agüentar, mas o livro já começa com o poeta morto. Narciso é uma letra que descubro todos os dias, não sei como me esqueço dela com o passar das horas.

Tudo bem se tudo não terminar bem, e se o que eu faço tornar loucura. Se eu for circo pra um palhaço. Tudo bem se eu nasci alguns dez anos depois, se eu premeditei o passado e se eu só me tocar no futuro. Tudo ótimo se ninguém entender, se o que eu faço não for páreo pra você.

E é o fim.

"Engraçado como é a vida, quando a gente pensa que
tudo tá dando certo vem uma pessoa e te puxa o tapete,
mas esta pessoa não sabe o quanto tá te ajudando,
porque é só dessa maneira que você cresce, é desta maneira
que a gente cresce"

Overdose fúnebe de idéias

Ninguém gosta muito de ouvir esses lances sobre morte, o que me irrita muito. Afinal, adoro ficar falando de quando eu morrer, me inspiro em imaginar isso... A minha mãe diz que meus textos são muito fúnebres, que sempre terminam em morte, sempre falam de morte, nem que seja um trechinho só. Talvez seja esta parte da vida que me fez desacreditar em deuses, ou Deus.
Ninguém entende Deus como eu, pra mim Deus não é um ser, é uma energia positiva que tá em tudo que é bom, e beber ou não, pecar ou não... nada disso aproxima desta energia. A energia é o que você faz e a paz que isso libera. Aprendi em um livro ou outro, que o que vale é o amor: não importa se você é homo, hetero ou bi, se foi por prazer tá tudo certo, a energia vem.
Adoro essas coisas de budismo, hinduísmo... pregam tudo de uma forma paz&amor bem hippie e gera em mim esperanças de um final feliz. Não acredito em ceitas, cerimônias, bençãos, religiões... Eu acho que o que vale é você tá de paz com tudo. Daqui pra frente não tem outra coisa, é como dizia Cazuza... quem sabe eu vire uma energia e volte em outra forma...
Tenho uma tara por mortes, fantasias de como é o mundo pós-morte: ora penso que não têm nada, morreu tá morto; ora penso que vou voltar em outra forma; ora penso que dura umas horas a mais que o enterro; ou paro de pensar. Só nunca me suicidei por curiosidade porque tenho pretenções de morrer de uma doença malígna, dessas que apodrece a gente em cima da cama, ia ser algo inspirador. Queria ver quem viria me visitar, quem ia ler as locuras pré-morte que eu ia escrever, ia ficar aguardando dia pós dia a morte vir. É meio transloucado, mas é meu jeito de pensar. Eu queria apodrecer em uma cama pra tomar conciência do que fiz, meus ídolos todos morreram de AIDS, Câncer ou suicídio. E é de um desses que eu pretendo ir também, quero morrer jovem... esta coisa de envelhecer é careta de mais pra mim.

Entenda

Quando tudo está sob controle
É sinal que algo vai dar errado
E quando houver paz
Entenda que estaremos próximos
à maior guerra de todos os tempos.

Minas Gerais, quem te conhece não esquece jamais.

Ao longo dos livros que eu li fui descobrindo que Truco é o jogo de baralho mais popular em Minas, e que o Brasil inteiro acha que nas ruas mineiras têm vendedores de chapéu de palha e carroça cheia de queijo à todo momento. E eu que achava que todo brasileiro economizava letras descobri também que só os mineiros entendem se "pó pô pó pá ngroçá?" ou "ês pens qi u ons é dês" dentre uma série de outras coisas.
Eu ainda tava no pré quando fiquei sabendo que a tradução correta do latim na bandeira de minas é "Liberdade que ainda tardia" e não "Liberte que será também", como muitos pensam. Fiquei perplexa quando entendi por que os mineiros juntam, cortam e emendam as palavras. Não é "roçariano" é "tupi" mesmo, em tupi R e L têm o mesmo som em certas palavras, não existe 'inho' tudo vira 'im'.
E o nosso UAI seria uma má interpretação de Why? Diz meu tio que os estrangeiros que vinham explorar nossas minas não entendiam o por quê de tanto ouro, e ficavam se questionando "why?", daí então: "uai".
Não me lembro onde, mas, li uma vez algo que dizia que nós mineiros somos simplificadores da língua brasileira, ou até mesmo costureiros desta. Cortamos, remendamos, costuramos, reiventamos e ainda conseguimos nos entender. Afinal Lidileite eu não consigo comprar no Espírito Santo, me respondem sempre com perguntas:
_ Lidi-quê? Repete?, Oi?.
_ LI-DI-LEITE!
_ Ainda não entendi, o que você quer?
_ Ooh tioo, aquele negoço ali ó.
_ Que negócio?
_ Iih sô, aquele ali em cima do trem tio.
_ Menina, tá fazendo hora com minha cara?
_ Você não vende leite?
_ É leite que você quer?
_ Sim, um lidileite.
_ Aiai, não vamos recomeçar né? Pega seu leite.
Pego, pago e saio andando.
_ Ouuu seu troco!
_ Ficumeleprocê!
_ Não escutei!

Eu, obviamente saio pensando: E ainda dizem que mineiros são burros e não entendem de nada.
Santos Dummont, mineiro. Carlos Drummond Andrade, mineiro. JK, mineiro. Tancredo Neves, mineiro. Tiradentes, mineiro. Modéstia parte, eu também.
É como diz nosso não oficializado hino "Minas Gerais, quem te conhece não esquece jamais".

Senhas

Eu não gosto do bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Eu não gosto dos bons modos
Não gosto

Eu aguento até rigores
Eu não tenho pena dos traídos
Eu hospedo infratores e banidos
Eu respeito conveniências
Eu não ligo pra conchavos
Eu suporto aparências
Eu não gosto de maus tratos

Mas o que eu não gosto é do bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Eu não gosto dos bons modos
Não gosto

Eu aguento até os modernos
E seus segundos cadernos
Eu aguento até os caretas
E suas verdades perfeitas

O que eu não gosto é do bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Eu não gosto dos bons modos
Não gosto

Eu aguento até os estetas
Eu não julgo competência
Eu não ligo pra etiqueta
Eu aplaudo rebeldias
Eu respeito tiranias
E compreendo piedades
Eu não condeno mentiras
Eu não condeno vaidades

O que eu não gosto é do bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Não, não gosto dos bons modos
Não gosto

Eu gosto dos que têm fome
Dos que morrem de vontade
Dos que secam de desejo
Dos que ardem

Adriana Calcanhotto

De repente

Quando tudo é irreal demais a gente fica esperando o chão subir aos nossos pés, nada de descer os pés até o chão, enquanto isso o pensamento roda e concordamos com tudo que é difícil de imaginar. Discursões altamente filosóficas viram destino, opção, rotina. Isto rotina, esta é a palavra que procurei o dia todo. Achei!

De Repente

De repente
Os fins justificam os meios
E faz a gente rir
De tudo que será passado
Quando deixar de ser presente

De repente
Os fins justificam os meios
E revelam tudo que hoje é segredo
Quando deixar de ser meio

De repente

Não gosto dos meus poemas, que fique bem claro. Amanhã vou me odiar por ter postado isso, que bom... pelo menos vou sentir algo. Mas ta aí...

De repente

Eu te rejeitava à todo instante
Seu rosto era só mais um retrato na estante
Até a segunda lágrima escorrer
Eu acreditava que havia frieza, entre eu e você

Pra mim nossos planos eram todos relevos
E suas idéias não guardei no meu acervo
(Achei tudo tão estranho, um sentimento novo
Eu não mais te ouvia, não mais te sentia
Só conseguia ver o brilho dos olhos seus
Reluzindo no escuro)

Eu achei tudo tão estranho
Havia um sentimento entre a gente
E ele já estava deste tamanho

Boa noite também!

O estresse é algo tão normal, todo mundo tem. Mas eu não tenho direito de ter o meu, porque quando fico estressada eu to estranha com as pessoas, eu sou sem coração, eu sou idiota, eu não mereço a amizade que tenho, eu sou chata, eu to magoando as pessoas e o escambal a quatro.
E a tristeza então? Triste todo mundo fica, mas eu não. Quando to triste falam que to estressada, com raiva, nervosa. Ao contrário de quando to estressada e xingando que me perguntam porque eu to triste. Aí sim eu me estresso, independente de como eu estiver. E quer saber? Hoje eu to é com dor de cabeça. Também não posso ter dor de cabeça? Deleta meu blog dos favoritos então, caralho.
Daqui dois dias alguém lê este texto e fala "o que você tem?". Povo chato. Devo tá me fazendo ? Pra por um texto destes aqui no blog me fazendo querendo papapá. Aham, to sim.
Agora que já tirei a dor, de um lado da cabeça e passei pro outro, deixa eu arrumar algo pra fazer.



Vaga certeza

Algo em mim tem a certeza
Que enquanto passo a roupa
Você dobra a esquina
E entre um passo e outro
Eu dobro a roupa

I saudade you

I miss you, i miss you
Miss não seria traduzido ao pé da letra como saudade, porque esta palavra só existe em português, em outras línguas são substituídas por "sentir falta" e outras palavras/expressões mais estranhas ainda. Mas tenho quase certeza que sentir saudades não é simplesmente sentir falta, porque posso sentir falta de coisas materiais, mas saudade não. Saudade mesmo só se sente de pessoas, na verdade nem das pessoas, mas do tempo que estávamos com ela.
Eu não sei ao certo o que é saudade, e recuso olhar no dicionário qualquer coisa abstrata, pois ele explica ao pé da letra, e sentimento não tem letra (Foi assim que aprendi, nos discos e na escola / Lendo verso de bilhete de passar cola), queria saber o que é saudade, como ela vem, que filme a cabeça de alguém que sente saudades exibe, ela vem em lembranças, em arrepios, saudade sufoca, mata, testa?
A minha irmã tá longe, uns amigos também, eu não sinto vontade de tê-los aqui de novo, quando é aniversário de um deles simplesmente me apego às lembranças, o resto do tempo aprendo à odiá-los, não fico olhando foto antiga, não fico pensando nisto o tempo todo, só me vem algum frio na barriga quando tenho que ver a pessoa de novo. É medo da mudança entre a última vez que vi a pessoa e a vez tão próxima que vou revê-la.
Se uma criança me perguntasse o que é saudade eu diria que é "sentir falta de uma pessoa, querer revê-la" mas eu sei, por tudo, que não é tão simples assim, não é vontade de ver a pessoa, saudade não se mata assistindo uma pessoa atravessar a rua acenando pra você, precisa-se de uma longa conversa, mas não é só conversa também, precisa de dias com a pessoa, matar uma saudade verdadeiramente consiste em transformar a pessoa em cotidiano, enquanto ela não virar algo do seu dia-a-dia não podemos considerar que a saudade morreu. Aliás, saudade: morre; adormece; afasta; some? Como funciona este negócio.
Pra mim é trilhões de vezes mais difícil entender que a Teoria da Relatividade. Acho que nunca senti verdadeira saudade de alguém, ou melhor, só uma vez. Mas, não tenho tanta certeza assim se era saudade.

- Algum Freud me explica?

Chuva não é coisa de inverno?

Mais uma vez é verão. No verão chove muito, dá preguiça. Quando não chove faz um calor brutal, não tem ventilador, refresco ou nudez que disfarce o suor que escorre pela pele das pessoas. Quando eu era pequena torcia os dedos pro verão chegar logo e quem sabe viajar pra praia, ou pelo menos ir ao clube várias vezes, tomar sorvete aos domingos e rolar duas vezes mais na cama antes de dormir.
Hoje, o verão me incomoda. A chuva me deixa triste, o calor me abafa, sufoca, não me deixa pensar nem respirar, todo fim de ano eu fico variando entre meus pólos máximos de estresse e melancolia, acordo com vontade de chorar na chuva pra não saber se quem chorou mais foi eu, ou a chuva. E quando vou dormir numa temperatura de 30ºC já estou brigando comigo mesma, xingando até quem não me ouve, chuto o lençol pro alto querendo que ele tome raiva de mim, bato com a cabeça na parede várias vezes tentando atiçar uma raiva ainda maior. Até começar a chuva pra me ninar.
Eu discordo que chova no verão, o verão era pra ser a estação feliz de crianças no parque, na praia, clubes lotados, festas micaretas com direito a carro pipa pra molhar a galera (e se quer saber, odeio os sintomas de felicidade). Já a chuva é tão inverno, tão algo que te faz encostar no canto, querer dormir até mais tarde, ficar fora do mundo, matar os compromissos.
Por volta dos meus 7 anos eu insistia em perguntar minha mãe porque tava chovendo naquele verão "mãe, chuva não é coisa de inverno?", inverno, inverno, inverno... adoro esta palavra, e todas as características que vêm junto dela. Eu abria livros de geografia pra encontrar algum parágrafo que aprovasse minha teoria "chuva é coisa de inverno, água só faz sentido no verão quando é de piscina". Mas não, estavam todos errados aqueles livros desatualizados, de páginas amareladas, na estante.
E quando a resposta da minha mãe não me servia, eu procurava meu pai pra me entender.
_ Pai, olha aqui. A gente tá no verão não tá?
_ Oi teco teco, senta aqui no meu colo.
_ Me escutaaaaa
_ Siiiiiiim, estamos no verão. Por que?
_ Você trouxe coisa?
_ Hoje não, vim com pressa não deu tempo
Cruzava instantaneamente os braços.
_ Iiiih não é pra ficar brava também né? 
_ Te livro desta se me responder uma coisa.
_ Que foi?
_ Por que no verão chove?
_ Já estudou o ciclo da água?
_ Aham.
E pronto, me explicava. 
Insatisfeita procurava alguma prima da mesma idade pra acreditar em mim, a chuva ta vindo errada, ela não entende que é pra vir no inverno, inverno, inverno... de novo repetia a palavra, por que adoro ela.

Aos pensantes humanos,

Maldito ser pensante que criou nas armas e nas drogas o próprio fim. Maldito ser pensante que cria fim e busca solução.
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Humano ser desumano. Diz ser o único pensante do planeta, no entanto, não premedita os próprios atos e torna-se ao olhar impensante o ser mais ridículo de todos. Maldito ser humano que aponta chaminés contra o peito na natureza, e faz de refém todos os seres que a habitam, inclusive ele mesmo.
Maldito ser humano que busca no consumismo a própria morte, o próprio fim.
Ficará na memória das baratas, o maior suicídio grupal da história do planeta. Todos os seres irão morrer, juntos, aspirando fumaça, aquecidos pelo centro da Terra, desprotegidos pela camada atmosférica
Que morram os homens, e só os homens.
Sejamos Jesus da era impensável do planeta. Morreremos todos os culpados, pagando a pena de morte em favor dos que não pensam, nem precisam repensar. Que vivam por mais 24 horas as borboletas. E não nasça uma geração de baratas.
E que nossa morte não carregue nenhum ser inocente. 

Respotagem #1

Tudo que eu já escrevi está gravado, que seja nos cadernos de primário, nas caixas de entrada dos milhares de e-mail por aí. Nos meus blogs todos que já tive, nos rascunhos de fundo de gaveta, na minha cabeça. Não interessa, tá escrito, tá lá.
Eu leio sempre que quero, mas tenho a necessidade de re
escrever o que acho bom, ou viável. Não bastar ter um papel rascunhado, preciso de dois. Dobra o valor.
Por este motivo complexo é que começo a repostar textos do meu antigo blog pessoal aqui. Não interessa se são bons, interessa a minha vontade.
Meu egoísmo volta à tona.

Velhos e Crianças: Tristeza Sem Fim

A criança é o inverso de um velho, e ao mesmo tempo, perfeitamente congruente à este.


Percebi ao longo dos tempos que a mesma representação de limite de uma janela para uma aquela velhinha era a da grade do berço pra'quele bebê. A diferença, no entanto, era clara. A moça de cabelos brancos, parada na janela não podia passar dali porque, já, estava frágil demais pra ficar andando por aí. E o bebê ainda sem cabelos não podia passar da grade e sair engatinhando pela casa, porque, ainda, era pequeno demais e um tanto quanto frágil para arrastar suas perninhas pelo chão.
A velhice deve ser desconfortável, aquela senhora da janela não tinha esperanças de rejuvelhecer e poder voltar a ultrapassar suas barreiras. Deve ser desconfortável, uma solidão sem esperanças de passar, uma fase que só se sai dela morrendo. Agonizante.

(Num século em que livro de auto-ajuda são devorados ansiosamente por todas as classes sociais, etárias e sexuais. Um século em que tiros contra o próprio atirador são disparados à todo instante. Numa era em que a "tribo" mais popular, é identificada por cortar os pulsos e chorar compulsivamente...)

A velhice por si só já é uma tremenda depressão, não há esperanças de exilar o que os velhos sentem. Todas essas pessoas, que por característica dos primeiros anos deste milênio, são abatidas ao extremo... como estas vão encarar a idade mais mortal de todas? As décadas que tudo parece estar prestes a ficar preto e branco, que todo segundo é segundo antes de morrer.
Penso também na criança do berço, crescendo neste mundo triste; de previsões do próprio fim à todo instante; em meio a uma humanidade que depende de inúmeros remédios de tarja preta, simplesmente para dormirem ao som da respiração alta do vizinho de quarto, ou sem chorar por desamores.
Crianças que não vão ralar seus joelhos, porque seus pais nunca as levarão ao parque, nunca vão correr para cair. E "pique" vai virando mais uma palavra inutilizada no meio do Aurélio, e os piques vão sendo trocados por american way of life, controles, mouses, players e manetes tranformam o joelho ralado.
Uma sociedade cada vez mais imediatista. Se drogar é se conter. Passar fome é emagrecer (da África deveriam sair a maioria das manequins). Pedem à Deus que ele prove que existe tirando-os daqui. Agora até o macarrão já tem que ser instantâneo. Querem acessar tudo de uma vez, até dar pane no circuito.
E os velhos continuam na janela, admirando este movimento triste e corriqueiro, assistem tudo em preto e branco. Enquanto a maior conquista de sua geração foi colorir a TV e o mundo. A turma dos caras-pintadas têm filhos que só se pintam de quando choram e borram o lápis preto.
E as crianças da beira do berço admiram o mundo em que vão crescer. Já têm por instinto chorar para pedir, aprendem também chorar para agradecer.


Um velho deitado no berço, e uma criança debruçada na janela. É assim que termina essa história.

A gente leva tanto tempo pra entender quantas vírgulas faltam numa frase, quantas rimas devem ter uma música, quais palavras são mais melodicas. Errando e errando a gente aprende. Um dia eu aprendo!

Achei isto em rascunhos antigos, quem sabe eu aprenda uma hora. Fazem 4 anos que escrevi isto e não melhorei o suficiente ainda, mas vamo lá. Prometo continuar a história do velhinho, e começar a postar periodicamente daqui uns tempos.
Queria muito postar um vídeo, que acabo de descobrir. 



O Que Me Disseram - Parte I

O velhinho me olhava desconfiado de longe. Provavelmente me confundira com alguém, com alguma lembrança. Desviei o olhar de seu rosto esperto e continuei andando de cabeça baixa,  ao pé do ouvido Well, I've been in town for just about fifteen whole.


Por um segundo nossos olhares se encontram de novo, vi resplandecer uma saudade do meu avô. Senti algo pesado dentro de mim, alguma coisa caía rumo aos meus pés, quase bambeou minhas pernas.
Três passos largos à minha frente, ele se mantinha sentado, segurando uma bengala bordada, foleada à ouro. Um passo, dois, três : ele segurou meu braço. Não precisou dizer nada, suplicava pelo olhar, implorava. Era mais que se tivesse ajoelhado aos meus pés. Eu não entendia. Ele me soltou.
Gaguejei até em pensamento. E soltei um susurro que nem eu mesma ouvi o que era, de tão baixo. Não precisamos trocar muitos gestos até que eu me interessasse pelo o que ele tinha a dizer.
_ E foi assim, aquele homem de branco do hospital pensou que fosse Deus, e me determinou um tempo até o fim. Entre três e seis meses.
_ E.. e.. c-c-como...
_ Como me sinto? Me sinto mal, descobri o quanto é feliz ser triste, lembrar das coisas boas, ver  os amigos partirem e nunca ir. Contruí uma vida inteira nesta cidade, agora será apenas o meu fim, irei sabe-se lá pra qual estado pós-morte, e em volta do meu corpo se juntarão parentes como um formigueiro.
A primeira lágrima escorreu, não no rosto dele, mas no meu.
_ Dois ou três amigos meus estarão lá pra assistir. O resto já se foi. Quem vai encher mesmo a minha humilde casa serão os filhos de amigos, amigos de filhos e pessoas que nem me cumprimentariam quando me vissem na rua.
Eu não sabia o que fazer, continuei a ouvir. Era triste, era insano conversar com alguém que eu não conhecia, mas podia sentir junto dele tudo que ele dizia. Era insano mesmo.
_ Sabe minha filha, você é muito nova para entender. Todos os dias quando vou deitar é um alívio de que venci, mais um dia. Desde que nasci tenho medo de morrer a todo instante: infarto, tiro, carro, susto, derrame... ou seja lá o que for. Sempre ouvi mamãe dizer que todo dia pode ser último, e pode ser primeiro. Morria de medo de morrer, agora não. Já me tiraram a ansiedade, minha morte está planejada, sei o tempo que tenho e estou tentando me virar para terminar minha vida nos próximos três meses. Os dias e as semanas que eu viver a mais que isto será lucro, eu poderei fazer o que quiser e as contas só chegarão depois que eu morrer.
_ Qual é mesmo o seu nome?
_ Isto não importa muito, pode me chamar de tio, ou de vô... prefiro.
Fiquei perplexa. Imaginei naquele momento a vida sob um tempo totalmente demarcado, toda hora parece ser última, tudo é fim. É poesia pura, que delírio!
_ Menina, vá brincar, correr, fazer o que tiver pra fazer. Deixa este velho bobo por aqui, vá, vá.. - e acenou pra que eu saísse.
Não sussurrei uma só palavra e saí pensativa e medonha. Eu queria tanto me agarrar à história daquele senhor e descobrir toda a vida dele, ouvir tudo que ele queria me ensinar sobre a vida, era tudo tão calmo, tão poético, tão livro de auto-ajuda, tão filme de drama, e no fundo, no fundo era tão eu, que pensei que estivesse quase acordando (da realidade, porém).

Sou o intervalo entre mim e eu mesma.


Plataforma G2

Dias tão leves, tão densos. O contraste pelo qual se encaminha o mundo inteiro me toma, se embebeda de mim.

- Fim de ano!
Fim de ano é gente que sai da escola, gente que chega, parentes vêm me visitar, amigos que vão viajar, outros mudarão. Tenho perdido tanto sono imaginando rodoviárias, estações de trens e aeroportos.
Desconheço locais de maior contraste entre felicidade e alegria.

Não sei bem ao certo, se era a última segunda-feira de Julho ou a primeira de Agosto. Mais que duas pessoas na rodoviária, esperando um ônibus pra levar uma só, éramos despedida (assim mesmo éramos despedida). E essas despedidas cortam muito, porque nunca sabemos que ônibus acidentará, que ônibus é seguro. Nunca acreditei que depois de pisar naquele ônibus eu voltaria.
Pelas frestas dos meus olhos saíam gotas de lágrimas, uma atrás da outra formando uma pequena correnteza em meu rosto. Era impossível olhar reto, era impossível não querer abraçar, chorar, rir, pensar, imaginar.

16º na plataforma G2 de Belo Horizonte

Olhei para os lados e vi tanta gente rindo, tanta gente chorando. Caras de sono, de insônia, travesseiros arrastados, vendedores de água gritavam, o ruído de motor era algo quase asmático. Torcia por um atraso, aquele ônibus não podia me levar assim, tão assim. Era como deixar o tempo todo para trás, tudo era tão... Tão silêncioso, mesmo entre tanto tumulto.
_ Em dezembro a gente se vê.
_ Não sei porque estamos chorando.
Alguém até disse algo depois disto, mas o fiapo de voz embargada pelo choro não era suficiente para vencer o ruído dos motores, ou os gritos dos vendedores de água.
Um abraço.
A cabeça não parava de rodar. Era tanta gente chegando pra ficar, chegando pra depois também partir, voltando de onde veio, indo pra onde nunca foi, indo pra sempre, indo por uns tempos. A mistura de lágrimas, sorrisos, abraços frouxos e apertados era tanta, tanta.
E por um milésimo de silêncio, que eu quase deixei escapar, ouvi Raul soletrar ao pé do meu ouvido:






Ó, olha o trem, vem surgindo de trás das montanhas azuis, olha o trem 
Ó, olha o trem, vem trazendo de longe as cinzas do velho aeon 
Ó, já é vem, fumegando, apitando, chamando os que sabem do trem 
Ó, é o trem, não precisa passagem nem mesmo bagagem no trem 
Quem vai chorar, quem vai sorrir ? 
Quem vai ficar, quem vai partir ? 
Pois o trem está chegando, tá chegando na estação 
É o trem das sete horas, é o último do sertão, do sertão 
Ó, olha o céu, já não é o mesmo céu que você conheceu, não é mais 
Vê, ói que céu, é um céu carregado e rajado, suspenso no ar 
Vê, é o sinal, é o sinal das trombetas, dos anjos e dos guardiões 
Ó, lá vem Deus, deslizando no céu entre brumas de mil megatons 
Ó, ó o mal, vem de braços e abraços com o bem num romance astral

Fim do estado de sítio neste blog.





 

Férias por tempo indeterminado


não sei bem por quanto tempo andarei sem atualizar meu blog.
espero voltar com algo de bom pra escrever.

Insônia louca insônia, insã

Um brinde a insônia!

Este sentimento mais forte que amor, mais instantâneo que miojo, às vezes tratada como sintoma, doença ou aflição.
Um brinde a insônia!
Que trouxe a lucidez aos poetas bêbados, que antes da bruma trouxeram obras à humanidade.
Um brinde a insônia!
Esta coisa louca que percorre meu corpo antes de dormir, me deixa sonâmbula quando durmo. É a necessidade de ficar acesa.
Um brinde louco à insônia!
Que me mantem mais acordada para bebericar um pouco mais, para escrever um pouco menos.
Saudem a insônia!
Essa força invencível que me dá sete vidas antes do sono. Irreversível como vida sem crtl+z.
Um grito pela insônia!
Que tanto me aflige quanto tira a aflição de todo ser, insônia louca e presepada que me mete em cada cilada, que só podia rimar assim.
Mantenham-me bêbada para quem sabe, talvez, compor versos de amor. Por enquanto só quero manter toda minha insônia, perder o sono pensando em histórias de terror.
Não dormir é como não ter medo de acordar, toda vez que fico acordada pela noite descubro que ninguém vai morrer, a não ser eu, a não ser eu mesma, a não ser eu, eu mesma.
Me dê um abraço como saudação. E eu contarei cada segundo que ele durar, como sonhos que perdi enquanto conversava com uma velha amiga, a insônia.
Menos repetitiva neste texto, que em minhas útilmas noites.

Estou ficando louca, mas a insônia ainda é lúcida. Então brindem pela insônia, pela insônia.


Por Fora do Meu Eu Lírico

Enquanto eu procurava vida na vida, um porção de gente me mostrava uma saída. Eu nunca entendi saída pra onde, pra quê, de quem... Sei que diziam que a saída era estudar, a saída era acreditar, era Deus, era amigos, era minha família. Não sei qual parte da minha vida se passava tão presa longe de mim que eu precisava tanto de uma saída.
Sei que um dia resolvi sair, saí pra bem longe e de lá eu finalmente iria pra mais longe, e um dia estaria tão longe que não teria saída, seria livre. Não tem porta. Deu errado! Procuro de novo uma saída, saída de que? Todas as manhãs procuro sair de uma grade de palavras que fiz, uma teia sem fim cheia de ilusões escritas, transcritas. Coisas que é bem melhor se não verbalizar, mas fazer o que, eu verbalizo. De todos os seres que conheço, sou a mais imperfeita, costumo não errar inconscientemente, erro pra errar. Se dou um tiro na cabeça de alguém, sei que foi pra matar, ou compará-lo a um vegetal daqui dois dias numa nota curta de jornal.
Acho que nunca fui totalmente inconsciente de algum ato como sou da escrita. O tempo todo descubro coisas nas coisa que escrevo, quando leio algum texto antigo aprendo um pouco de mim, e vou me conhecendo como se eu fosse um objeto estranho. Escrever e ler pra mim é útil demais pra ser verdade, empilho os livros sob a estante e vou contando nos dedos as palavras novas que aprendo, depois não sei qual o efeito que tudo provoca.
Depois que passei a escrever em blogs descobri que sou capaz de controlar a mente de um monte de seres que já nascem adestrados, ou se Cazuza for mais direto "essas sementes mal plantadas, que já nascem com cara de abortadas / pras pessoas bem pequenas remoendo pequenos problemas querendo sempre aquilo que não têm". Voltando, descobri que podia escrever um texto triste e fazer todo mundo sentir que tem a vida perfeita e ter dó de mim, escrever uma falsa confissão e ouvir as pessoas dizendo que sentem orgulho de mim.
Fico feliz e excitada com a idéia de poder levar pessoas a cometerem quase um suicídio depois de um texto meu, e outras a visitarem um asilo pra ter certeza se querem envelhecer. Por outro lado, é triste ser tratada como a personagem dos meus textos. É como se eu fizesse a antagonista da novela e todo mundo tomasse raiva de mim, me atirassem pedras pela rua. Ninguém entende, que eu não faço um diário? Se me inspiro em aspectos da minha vida, é tudo uma questão de auto-desconhecimento, mas quem lê não deveria ler quem escreve, e sim aquilo que alguém escreve.
Meu blog é tão frouxo, que não consigo fazer as pessoas entenderem a minha primeira pessoa como um eu lírico. Agora eu entendo os poetas desalmados. Agora sim.

Pesquisa

04/08/2009

No final de 2007 eu perdia o sono semanalmente pensando em algum texto. O cansaço físico me impedia levantar da cama para anotar os poemas, textos e frases que vinham à cabeça. Criei então o Segundo Lílian, em Junho de 2008. Postando anotações feitas na madrugada, sonhos rememorados na manhã seguinte, inspirações do meio do sono vespertino. Sem habilidade de escrita tive um blog trágico, perdi meus leitores e a vontade de escrever.
No final daquele ano resolvi criar o Insônia Registrada. Já que todos meus textos eram decididos durante a insônia, ou me tiravam o sono. Era um novo blog, pensado diferente, com novo tema, nova forma de escrita, novo visual - que já foi modificado uma dezena de vezes - além de agora um período de vida bem mais traduzível em letras.
Hoje, o blog já virou um vício. Textos, links, vídeos, descobertas, lembranças... tudo vem pra cá. Tirando o sono de quem lê também. Tamanho vício me levou a criar um blog de esportes, um de filme, participar brevemente de um blog de humor e me fez até perder a vergonha do Segundo Lílian.
Porque segundo Lílian, a insônia será registrada.