Eu não sou eu
Marcadores: Prosa
Pases 2ª etapa e seus efeitos corrosivos
Dois dias de prova, duas novas piadas, três crises de falta de humor, meio livro de Decartes, dois capítulos de Quando Nietzsche Chorou, três elogios quanto a minha capacidade mental e um novo apelido ofensivo.
Marcadores: Poemas
Pazinha Azul
Marcadores: Prosa
Queda livre
Marcadores: Poemas
Ela nascera com maus antecedentes e agora parecia uma filha de não-sei-o-quê com ar de se desculpar por ocupar espaço.
(Clarice Lispector no livro A hora da estrela)
Vou ter um ataque de nervos
Vou ter, sinto minhas veias pulsarem
Vou ter um ataque, mas antes eu ataco
Quero um downer, um down
Estou ficando maluco
Camisas de força, por favor
Qualquer coisa
Vou ter um ataque de nervos
E me jogar do sexto andar
Deus me proteja
Vou ter um ataque de nervos
(Cazuza - Ataque de Nervos)
Estes devaneios que chamo de personagem são parte de mim, mas não me são inteiros, é estranho. Têm algo que eu não tenho, queria ter, tenho medo de ter, odeio quem tem, são amáveis. Sou psicóloga de todos meus personagens, nossos relacionamentos nascem sempre através da informalidade, um joguete de palavras. Ninguém pede pra vir ao mundo, simplesmente nascemos. Mãe são quem concebem e os pais, ah os pais não sei bem a respeito. Sou mãe, de tudo que escrevo (de todos meus personagens [e desculpe a repetição da palavra]).
(13 horas, Brasil, algum ano terminado em oito, ou outro.)
A estrada me parece ser somente a entrada pr'essa tal de liberdade.
E quem disse que fora de casa estamos livres? E fora da prisão então?
(19 horas, Brasil, algum ano começado em dois, ou mais)
Descartes conseguiu chegar a conclusão de: o que existe?
Ah lembrei: Existo, logo penso.
Não não, o inverso: Penso, logo existo.
Minhas anotações não pensam, existem?
E meus pensamentos?
(08 horas, Argentina, dois zeros no meio de um ano)
Década de 50 - transições pós-guerras
Década de 60 - revoluções sócio-culturais (mais culturais)
Década de 70 - Rock and Roll
Década de 80 - Punk, "fim" da idade industrial
Década de 90 - Fim da Guerra Fria, ressaca cultural dos anos anteriores
Década de 00 - nada de mais
2010, 2011
2012 - Segundo os Maias, o mundo acaba.
(17 horas, Lugar Algum, 2008)
Você não pode estar tão cego(a)
à ponto de não perceber
Estou indo embora
Por você!
(17:05, Aqui, década 00)
Close your eyers
Listen me, please
Me dê a mão e aperte forte
Depois, um abraço e boa sorte
Ei, eu vou pra longe
E posso não voltar
Seu abraço de agora
Pra sempre me acolherá
E eu vou andar sem fazer a barba
Lembrarei sempre de sorrir toda pela manhã
Levarei teu brilho comigo
(Te guardarei do peito ao umbigo)
Pra bem longe, eu vou estar
Mesmo que a gente nunca mais se veja
Te verei pra sempre em meus olhos (nos meus sonhos)
Nas costas, todo o peso
De nunca mais voltar
Mas par sempre eu vou estar
Marcadores: Prosa
Riscos
Tenho que correr os riscos. Eu quase nunca me arrisco, este é o perigo.
Queria ser assim com o resto todo, me arriscar para todas as outras coisas. Escrever um pouco mais sem tremer tanto com os erros ortográficos, estudar um pouco menos sem perceber o risco de não passar no vestibular, no fundo... bem no fundo eu estaria aprendendo bem mais. Não com o consciente ligado, o consciente atrapalha, me coloca tanto pra pensar antes de um ato, que perco o tempo de praticá-lo.
Marcadores: Prosa
Feliz Natal papaii noel!
O capitalismo devorava décimos terceiros como um esfomeado com úlcera, o consumismo sobe a flor da pele, toda a classe média comprando presentes pra amigos, namorados, família e filhos. Beatas começavam reuniões por toda a cidade, e como sempre fazem em todo o natal, abre-se a bíblia e inicia-se então mais uma novena de natal, elevam suas almas a Cristo e pedem renovação, renascimento, quase a mesma ladainha do domingo de páscoa. Perus engordados o ano inteiro com ração cheia de trangênicos cacerígenos vão sendo degolados aos montes e entregues aos frigoríficos, para matar a fome do consumismo.
Lá no fundo de seu casebre dividido ao meio com os cupins estava o único homem realmente isento de toda a parafernália do Natal, talvez o segundo Gepeto dos contos infantis: Getúlio, um velho barrigudo, de pele rosada, barba longa e cabelos cacheadinhos. Quase um papai-noel. Nunca comemorou nenhuma data religiosa, para ele Jesus foi um líder religioso e nada mais, se fosse comemorar o nascimento de Jesus, faria-se necessário comemorar também o de Maomé, Buda, Gandhi e tantos outros.
Eis que encontrava-se ali o único homem que sabia verdadeiramente equilibrar o comunismo que sonhava com o mundo capitalista lá fora. O fato é que mais uma vez sua aposentadoria não tinha suprido seus gastos durante o ano, por mais que não gastasse muito. Mais uma vez se subordinaria aos vicíos natalinos e arrumaria um emprego qualquer de papai noel em um shopping destes.
23 de dezembro
Estava sentado em frente à lindas vitrines de vidro, enfeitadas com pisca-piscas. Aos poucos a fila de crianças para tirar foto com o bom velhinho diminuíam e sua transpiração aumentava mais a cada segundo. Lembrancinhas para crianças, beijinho na bochecha, tapinha nas costas e um leve: ho-ho-ho feliz natal.
O que ele realmente não entendia é porque o papai noel de um país tropical, em meio a um calor infernal usava roupas de inverno como se estivesse em meio à neve dos países do norte. Ah sim, era mais uma influência capitalista, norte-americana. E mesmo que tantos anos se passassem ele podia ser visto sempre na mesma cadeira abraçando crianças da classe média em véspera de natal, mas nunca se acostumava.
_ Sim, todos os anos a mesma coisa. O máximo que muda são as rugas, sempre aumentam.
Onze horas, informou as badaladas do sino de um presépio em tamanho real que fora posicionado à 20 metros atrás dele. Olhou com calma para os lados e não avistou nenhuma criança tentando chegar a tempo de uma foto. Levantou-se com bastante dificuldade, pegou o saco de lembrancinhas no chão jogou nas costas e foi andando para a diretoria do shopping, receberia o pagamento e um "até ano que vem". Depois de tudo acertado, e um fogão de brinde pelo 10º Natal em parceria com o mesmo shopping, saiu de lá afim de pegar um táxi e acordar só no dia 26.
_ Você não é papai noel.
Olhou para os lados, tentando entender de onde vinha a vozinha doce.
_ Oi?
_ Você é o papai noel?
Olhou de novo e não viu nada.
_ Quem está aí?
_ Quem mais seria? Te escrevo todos anos desde que aprendi à escrever, não é capaz de me reconhecer?
Tentou tirar de si todos argumentos que teria um papai noel para não reconhecer uma criança específica.
_ Me desculpe garoto, mas não posso te ver, como vou me lembrar quem é?
Saiu de trás dos carros um menininho sujo, com um saco de latas nas costas e o olhar de criança com fome na França Socialista.
_ Agora sabe quem sou?
_ Claro que sei, você é o mais especial de todos os meninos neste natal.
_ Vai ao menos me levar o presente que te pedi?
Revirou os bolsos e encontrou, por sorte, um último brinquedinho..
_ Toma.
_ Não te pedi um super-homem. Te pedi pra ser um.
_ Mas eu sou apenas um velhinho que gosta de crianças, não tenho super poderes.
_ Você nem se lembra o que te pedi.
Getúlio não entendia de forma alguma o que queria a criança, precisava urgentemente arrumar uma saída. Odiava ter que mentir lá dentro do shopping, aqui fora então era como se estivesse sse suicídando aos poucos.
_ Onde estão seus pais?
_ Te disse que não era papai noel coisa nenhuma.
_ Hoho, sou quem então? Vovô noel? Nesta minha i...
_ Você é um empregado deste shopping fedorento em que não me deixam entrar. Se você fosse papai noel de verdade iria me visitar a meia-noite de amanhã e traria meu pai de volta.
Depois de mais algum tempo de conversa, viu que o menino tinha razão sobre tudo que falava, era pequeno demais pra saber tanta coisa, para ouvir o que ele tinha a dizer também. Não se sabe como, mas algo o convenceu a levar o garoto pra casa, dar um banho, um prato de comida e quem sabe uma cama quente.
Duas horas mais tarde, o garoto estava jantando à mesa de sua casa. E Getúlio percebeu que não sabia nem mesmo o nome da criança, e resolveu perguntar com muito medo de ser atacado pela genialidade infantil do menino cheio de curiosidades de novo.
_ Qual seu nome?
_ Francisco, pensei que soubesse.
E o tilintar de talheres rompeu com a conversa. Deu um abraço no garoto, depositando nele todas suas últimas esperanças de vida, as esperanças de um papai noel de shopping, de um velho comunista que sonhava com sociedades alternativas e devorava livros de Marx.
Deitou o menino na cama, deu-lhe na testa um beijo de boa noite, o ar quente que saía das narinas de Francisco assustou-o, e com um leve tropeço para trás acordou o garoto. Só teve tempo de ouvir:
_ Sabe papai noel, pensei que nunca me daria um pai. Agora tenho um, e é incrível que para mim todos os dias agora serão natal, obrigado papai noel, muito obrigado. Feliz Natal!
A exclamação de fim de frase, foi a última coisa que teve tempo de ouvir, sentiu seu coração acelerado ao ritmo de canções natalinas e depois não ouviu mais nada.
A maioria conta que avistou uma luz branca, uns falam que seguiu até ela e foi recebido de joelhos por Jesus, outros contam que viu a luz mas nunca seguiu até ela, continua vendo branco. Mas o menino Francisco sempre disse que ele ainda ouve canções natalinas e mesmo que ninguém perceba, passa pelo shopping todos os natais, pra rever na vitrine alguma miniatura de super-homem.
Marcadores: Prosa
Eu não quero amar deste jeito
De quem finge não ver defeito
Não levo o menor jeito
Pra este negócio de amor
Não quero acordar acompanhado
Construir uma vida lado à lado
Pra depois me separar
Quero acordar sozinho
E ter pra quem telefonar
Odeio vida fácil
E não tem graça
Se não precisar te procurar
Não é medo de largar a boemia
É medo que seja sempre minha
E eu não saiba cuidar
Baby, me desculpe mas eu não quero me casar.
Marcadores: Poemas