Pela Última Vez

Tava ali até agora mesmo e prometeu voltar amanhã, me deu um beijo de despedida, daqueles que se dá uma vez só na vida. Dizem que não atravessou a rua, mas também não vai voltar.

De repente a rua inteira agitou, ouvia sirenes, tanta gente gritando... e o coração foi batendo cada vez mais rápido, eu não queria olhar pela janela mas fui chamada, cheguei no meio da aglomeração de pessoas, e olhei no chão.
Aquele sangue todo escorrendo pelo asfalto já tinha passado pelas minhas veias, fazia tempo, mas já tinha passado. Eu não sabia o que fazer, fiquei ali estática, parada e muda. Liguei pra uns, mandei algumas mensagens e entrei pra casa.
Apertei a primeira almofada com toda a força, então chorei. Senti todas aquelas coisas que se sente quando alguém morre, eu não sabia mais o que fazer. Peguei o ramo de flores que ele tinha acabado de me entregar, e pus no aquário, tampando todos os peixinhos que ele sempre admirava.
O que eu lembrei não dá pra explicar, foi um vulto só na minha cabeça, conhecia ele desde sempre, sempre fui apaixonada... nosso namoro estava em crise mas ele dizia que amanhã iria voltar e sempre voltava. Pela primeira vez não cumpriu uma promessa.
Larguei tudo da mão, abri a porta, atravessei a varanda sai correndo atravessei a rua, empurrei as pessoas gritando, e abracei o corpo no chão. Chorando eu lhe dei o último beijo, pedi desculpas por todos meus pecados, e prometi que nunca iria esquecê-lo. Prometi tantas coisas e abracei mais, cada vez mais forte e por fim eu não agüentava mais. Os guardas me puxavam para trás.
Não sei o que aconteceu, com quem eu conversei, o que eu fiz, o que falei, se durmi ou não, se comi ou não. Sei que a última imagem que ficou foi a daquele caixão descendo vagarosamente, num silêncio em coro da cidade toda. Me ajoelhei na terra, e joguei o mesmo buquê de rosas vermelhas que ele tinha me dado na noite anterior. Mas antes, cheirei aquelas flores pela última vez e ai sim atirei-as.

Pesquisa

04/08/2009

No final de 2007 eu perdia o sono semanalmente pensando em algum texto. O cansaço físico me impedia levantar da cama para anotar os poemas, textos e frases que vinham à cabeça. Criei então o Segundo Lílian, em Junho de 2008. Postando anotações feitas na madrugada, sonhos rememorados na manhã seguinte, inspirações do meio do sono vespertino. Sem habilidade de escrita tive um blog trágico, perdi meus leitores e a vontade de escrever.
No final daquele ano resolvi criar o Insônia Registrada. Já que todos meus textos eram decididos durante a insônia, ou me tiravam o sono. Era um novo blog, pensado diferente, com novo tema, nova forma de escrita, novo visual - que já foi modificado uma dezena de vezes - além de agora um período de vida bem mais traduzível em letras.
Hoje, o blog já virou um vício. Textos, links, vídeos, descobertas, lembranças... tudo vem pra cá. Tirando o sono de quem lê também. Tamanho vício me levou a criar um blog de esportes, um de filme, participar brevemente de um blog de humor e me fez até perder a vergonha do Segundo Lílian.
Porque segundo Lílian, a insônia será registrada.