Descanse em Paz


As crianças acreditam em papai noel, coelho da páscoa, pote-de-ouro no fim do arco-íris, na verdade como saída pra tudo, no castigo sem vídeo-game como poder soberano dos pais. Crescem e começam querer a liberdade, passam a acreditar na adolescência como último dia, acreditam que aquele amor é o último, aquela amiga é a única, a oportunidade é última, e aquele mundo fora do controle dos pais é o melhor.
Entram para a faculdade pensando que a liberdade fora de casa é um amadurecimento. Pensam até que estão mais espertos, acreditam ter um carreira já definida, fazem planos e não sabem se confiam nos pais.
Quando viram pais, esperam pelo futuro do filho,acreditam no beijo do marido, na lágrima da novela, e vão se encostando pouco a pouco em superstições e coisas irreais, lembranças. Vão ficando velhos e quando chegam à aposentadoria, alucinam com as férias eternas, com as viagens espetaculares e 'caem' nas promoções especiais para aposentados e pensionistas do INSS. Iludem-se que o salário do aposentado vai aumentar.
No fim de tudo, olham pra trás e descobrem que ainda querem presentes no natal, mesmo que não seja do papai noel. Ainda querem chocolate na páscoa, mesmo que não seja um coelho que venha entregar. Ainda julgam que a soberania de um pai é castigar o filho, ainda esperam pela liberdade, mesmo que seja financeira. Alucinam-se com um pote-de-ouro no fim do arco-íris, como uma recompensa divina. Refletem que o passado seja como uma novela.
E sempre têm fé que vão conquistar mais, não adianta acreditar só no papai noel da infância, nem só na liberdade da adolescência, não adianta nada disto. Precisam de mais crenças. E no decorrer da vida aprendem a acrediar em pessoas, jornais, coisas, religiões, livros e filmes.
E fazem da ambição de querer sempre mais um modo de vida. Uma adrenalina incrível faz com que levantem cada dia mais cedo pra estudar, trabalhar, fazer comida, ler, informar, ensinar, ver os filhos. Acabam acordando tão cedo e dormindo tão tarde para esticar o dia e praticar tudo que a vida lhes permitir, que têm insônia.
Se cansam tanto de não dormir que um dia dormem para sempre. Os parentes e amigos esquecem que no fundo a morte é uma opção de todos nós, e choram como se nunca fossem morrer, e prometem ao seus filhos que nunca vão lhes deixar. E um dia todo mundo morre, mas o que os cansa para a morte é o que os deixa aqui. Tudo que foi escrito, gravado, fotografado, elogiado ou honroso fica, e assim tornam o cansaço de viver como a imortalidade do ser.

Seres que me habitam



Escrever aqui é imprimir as idéias, acentuar os sentimentos e descrever a paisagem. Sem Si nem Lá pra ajudar eu fico aqui tentando ser sensível, fragilizada pela dor que nem sequer sinto começo a escrever loucuras de um outro ser que me habita. Talvez seja mediúnico ficar por aqui escrevendo sobre assuntos que nem sei, e se soubesse não escreveria.
Não sei nem mesmo sobre o que estou falando, dias depois percebo que o texto tá no masculino, porque não fui eu que escrevi. Espíritos me rondam e possuem meu corpo no segundo em que pisco meus olhos, e quando consigo me libertar leio a mensagem que foi deixada, nunca entendo, mas parecem vir de mim. Sempre trazem alguma lembrança minha ou uma dica dos meus próximos episódios.
E vou fazendo de cada parágrafo capítulos de um livro de contos e crônicas que não têm começo nem sentido de ser livro, estão todos textos ali reunidos sem ter pra isso o menor sentido. Não são como discos que têm total ligação de uma música com a outra. Assim meus textos, não têm sentido de um com outro nem dele com ele mesmo, introdução e conclusão demarcam o início e fim de uma viagem bruta dentro de um ser que nem sei se sou.
Quando chego no rodapé do texto minha lucidez vai voltando aos poucos e não consigo dar um fim, deixei tudo no primeiro parágrafo, e se lucidez fosse qualidade eu seria uma pessoa sem nada. Nunca fui lúcida, também nunca fui completamente insana. Vivo na mesma condição que um ser que levanta de ressaca e não sabe como voltou pra casa no dia anterior. Modestamente sei onde estou, mas talvez nunca entenda por que vim chegar aqui, e se quer saber não sei nem mesmo como sairei desta prisão.

Give me a cigarette


Ao som de Eclipse Oculto (Cazuza e Barão Vermelho) tento buscar uma fonte de inspiração, e tudo que vejo é uma imagem de um copo de conhaque com duas pedras de gelo, não sei o por que, deve ser minha genética alcoólatra tentando me dominar.
Faz dias que não escrevo sobre nada a não ser sobre mim mesma, minhas dificuldades, desespero, experiências, tudo focado numa coisa só: o tal do tédio.
Li várias vezes uns rascunhos no final de alguns cadernos, tentei tocar violão e nada. O único efeito foi que troquei a imagem do copo de conhaque que rondava minha cabeça, mas pela de um cigarro, preciso de inspiração e é como minha irmã disse a um tempo atrás, fumar ajuda a pensar. Nem vou ficar enrolando pra concluir o mesmo que ela, realmente cigarro ajuda a pensar.
E eu que nunca tive nenhum tipo de tesão pelo cigarro passei a ter. Uma droga tão forte, com mais malefícios que algumas das ilícitas como a maconha e não causa efeito nenhum? Como pode? Não ficar doidão? Finalmente encontrei o poder do cigarro, anestesiar os músculos de movimento e deixar uma neblina leve dando um certo quê de anos 70 e inspirando. E é disso que eu preciso.
Foi pensando nisso que cheguei numa conclusão ainda maior, cigarro dá uma inspiração leve de poeta mal resolvido. Eu preciso mesmo é de um charuto (o título devia ser Give me a cigar), porque o charuto também tem a capacidade de deixar o corpo leve e inspirar uma pessoa, mas é uma inspiração pesada que passa ar de certeza, mesmo que eu não a tenha.
Quando penso em charuto me vem logo na cabeça a imagem de pessoas como Hittler, apesar de ditador, um dos caras mais inteligentes que já pude estudar, e tinha uma firmeza no que dizia, uma tristeza obscura em suas artes (por mais que ninguém saiba ele pintava, e criou aquele símbolo do nazismo) e é disso que preciso, transparecer certeza de uma forma que ninguém entenda, mas mesmo assim abaixem a cabeça e pensem que estou certa.
Cigarro é para os poetas sofridos e apaixonados, que vão ceder à todas as vontades das editoras e escrever sobre suas amadas, charuto é para Nietzsches que vão contra tudo e todos, mesmo que numa tristeza pronfunda irão até o fim parecendo loucos com suas idéias depravadas. Give me a cigar.

... eu escrevo como quem fuma cigarro, queria escrever como os consumidores charuto cubano.

Pela Última Vez

Tava ali até agora mesmo e prometeu voltar amanhã, me deu um beijo de despedida, daqueles que se dá uma vez só na vida. Dizem que não atravessou a rua, mas também não vai voltar.

De repente a rua inteira agitou, ouvia sirenes, tanta gente gritando... e o coração foi batendo cada vez mais rápido, eu não queria olhar pela janela mas fui chamada, cheguei no meio da aglomeração de pessoas, e olhei no chão.
Aquele sangue todo escorrendo pelo asfalto já tinha passado pelas minhas veias, fazia tempo, mas já tinha passado. Eu não sabia o que fazer, fiquei ali estática, parada e muda. Liguei pra uns, mandei algumas mensagens e entrei pra casa.
Apertei a primeira almofada com toda a força, então chorei. Senti todas aquelas coisas que se sente quando alguém morre, eu não sabia mais o que fazer. Peguei o ramo de flores que ele tinha acabado de me entregar, e pus no aquário, tampando todos os peixinhos que ele sempre admirava.
O que eu lembrei não dá pra explicar, foi um vulto só na minha cabeça, conhecia ele desde sempre, sempre fui apaixonada... nosso namoro estava em crise mas ele dizia que amanhã iria voltar e sempre voltava. Pela primeira vez não cumpriu uma promessa.
Larguei tudo da mão, abri a porta, atravessei a varanda sai correndo atravessei a rua, empurrei as pessoas gritando, e abracei o corpo no chão. Chorando eu lhe dei o último beijo, pedi desculpas por todos meus pecados, e prometi que nunca iria esquecê-lo. Prometi tantas coisas e abracei mais, cada vez mais forte e por fim eu não agüentava mais. Os guardas me puxavam para trás.
Não sei o que aconteceu, com quem eu conversei, o que eu fiz, o que falei, se durmi ou não, se comi ou não. Sei que a última imagem que ficou foi a daquele caixão descendo vagarosamente, num silêncio em coro da cidade toda. Me ajoelhei na terra, e joguei o mesmo buquê de rosas vermelhas que ele tinha me dado na noite anterior. Mas antes, cheirei aquelas flores pela última vez e ai sim atirei-as.

Mais um blues e só

De esquina em esquina
Vou cambaleando
Como um bêbado sem par
E viro a primeira delas
Procurando alguém que eu possa alugar
Pra falar dessas bizarrices
Coisas de amor
Mágia negra e lunar

Mais uma Carta Louco Suicída e Inflamável

Parei por uns segundos diante do espelho enquanto lavava as mãos, resolvi mirar o tal vidro refletor e observei que meus olhos não carregavam mais brilho, somente uma nata amarelada sem emoção, um líquido qualquer que faz minhas pálpebras deslizarem, mas aquele brilho dos olhos de quem vive e é feliz não consegui encontrar.
Totalmente sem criatividade é o quarto texto que escrevo hoje, tentando postar algo aqui sem resultados. Vou pegar um dos velhos rascunhos que não tive coragem de postar e por aqui, a melancolia é grande. Não sei se é só o trauma pós quase-morte, ou se são os problemas familiares e escolares, sei que vou postar um poema antigo e tosco.

Mastigo a minha mente
Cheia de idéias e manias
Penso no futuro
Como um precipício suicida
Num golpe puro e desolado
Defeco minha mente
E ainda digo que são versos,
Prosas e poemas, mas nada é verdadeiro

Me prendi neste trem sem vagão
Fazendo da mente pura poesia
E quase que sem perceber
Construindo minha própria monotonia
Ao som de um lento blues

E o que não rima eu fico procurando
Mas todas as palavras parecem ter um certo encanto
E vão rimando assim sem dó, nem lá

E mastigo a minha cara
Pintada num espelho cego
Bolero leve
Que me leve daqui
Num sopro de vento

Um dia eu até tento
Mas hoje só pergunto aos sete ventos
Qual a dor de quem pula um precipício?
Inflamavél carta do desgosto
Mais um dia sobreposto, mais um

Mastigo a minha mente
Cheia de idéias e manias
Ai que agonia!
Engulindo a solidão
Presa dentro de um vazio vão

E a mente é poesia
E de falsos passos se constrói uma monotonia
Ao som de um lento blues
Eu quero mente vazia

E mastigo a minha cara
Pintada no espelho de um cego
Bolero leve
O mundo é amarelo
O amor verde e vermelho

Qual a cor de tudo isso?
Qual a dor de quem pula um precipicio?

Pesquisa

04/08/2009

No final de 2007 eu perdia o sono semanalmente pensando em algum texto. O cansaço físico me impedia levantar da cama para anotar os poemas, textos e frases que vinham à cabeça. Criei então o Segundo Lílian, em Junho de 2008. Postando anotações feitas na madrugada, sonhos rememorados na manhã seguinte, inspirações do meio do sono vespertino. Sem habilidade de escrita tive um blog trágico, perdi meus leitores e a vontade de escrever.
No final daquele ano resolvi criar o Insônia Registrada. Já que todos meus textos eram decididos durante a insônia, ou me tiravam o sono. Era um novo blog, pensado diferente, com novo tema, nova forma de escrita, novo visual - que já foi modificado uma dezena de vezes - além de agora um período de vida bem mais traduzível em letras.
Hoje, o blog já virou um vício. Textos, links, vídeos, descobertas, lembranças... tudo vem pra cá. Tirando o sono de quem lê também. Tamanho vício me levou a criar um blog de esportes, um de filme, participar brevemente de um blog de humor e me fez até perder a vergonha do Segundo Lílian.
Porque segundo Lílian, a insônia será registrada.